Os indecisos vão decidir tudo nas legislativas?
Em boa parte das sondagens políticas que têm vindo a ser conhecidas há um dado que ninguém pode desprezar. E, não, não são as parvoíces habituais das perguntas/respostas sobre os políticos com quem se gostariade refeiçoar, ou a quem (não) se emprestaria dinheiro ou compraria um carro em segunda mão. Isso é apenas folclore mediático. O dado mais relevante de todos nem sequer é se PS e PSD estão a par – e porquê – nas intenções de voto. Ou se o Chega surge como a terceira força partidária. Ou o enigma que é perceber se o CDS ainda existe realmente fora de um grupinho de quadros queques e de mão estendida. O que verdadeiramente pode contar nas próximas eleições legislativas é a fatia gigante de eleitores – cerca de 40% – que não sabe ou não diz em quem irá votar.
Não são precisos cientistas políticos para sabermos que a decisão de voto não é necessariamente ideológica ou de ligação militante a um partido – mais facilmente isso acontece com a emoção de pertença a um clube de futebol. Na política e em eleições, muitas vezes vota-se no A, no B ou no C por causa de algo importante naquele momento muito específico, de uma ideia agregadora de líder e do seu carisma (construído ou inato), daquilo que é (ou parece ser) até como pessoa. Votar neste ou naquele é um somatório de pequenos fios, muitas vezes quase invisíveis, de uma teia complexa de racionalidade e de irracionalidade. É até um ato de protesto, e isso não deve ser nunca ignorado, porque a revolta une muitas vezes mais do que um ou vários desígnios nacionais.
As eleições são o jogo mais simples que existe, mas paradoxalmente também o mais complexo porque os resultados relançam tudo com nuances muitas vezes imprevisíveis. O que dizer das últimas legislativas que deram de forma totalmente inesperada a maioria absoluta ao PS? E do desbaratar governativo que se seguiu à vista de todos? Em democracia, o melhor de tudo é mesmo esta (im)previsibilidade, é saber que o voto conta para manter ou mudar, correr com uns, trazer outros novos ou nem tanto assim. Se tudo isso dá em crise política, paciência, faz parte do jogo. E, já agora, todas as crises podem ser resolvidas com negociação ou simplesmente novos votos.
Votar no partido ou coligação A, B ou C raramente é votar no longo somatório das propostas específicas dos partidos para setores fundamentais como a Saúde, a Educação, o Emprego, a Habitação, o Ambiente, o combate à corrupção e por aí adiante. Votar num ou noutro é muitas vezes votar apenas no anseio que mais queremos ver concretizado num momento muito particular, até em termos coletivos. Desengane-se quem acha que não se vota em (boas) soluções só porque vêm de partidos a que alguns querem montar cercas sanitárias e até impedir coligações com o argumento de que não são gente para conviver à mesa. Votar é mudar, retomar ou permanecer, é distinguir entre o irrealista e o realista, mas sabendo que muitas coisas só se fazem na política (e na vida) quando se salta sem paraquedas .
Mas votar não é um fim em si mesmo, porque devem ser exigidas explicações e resultados. O jogo da democracia não se esgota no voto, ainda que sem ele não haja liberdade, como diz o Presidente da República. É no prolongamento da escolha que se vinca a vigilância crítica, a fiscalização das promessas com que somos brindados. Mais do que um direito, votar é uma obrigação, é a responsabilização individual, é a exigência de que o trabalho não é de uns, poucos, mas de todos.
E Crise dos media
Votar neste ou naquele é também saber que ideias e soluções têm para o Jornalismo. Há que exigir que os partidos coloquem nos programas eleitorais propostas concretas para a defesa do “cão de guarda da democracia”. Se o não fizerem, a covardia política terá um preço muito elevado. ●