Os “particulares-sonâmbulo”
1 Jogo “-3” da contagem regressiva rumo ao Europeu. Outra vez contra um adversário tão esforçado com débil, a Finlândia metida atrás em metros e altura, a Seleção portuguesa teve sempre a bola para fazer o que quisesse com ela. E o que quis fazer? Construir desde trás, sem oposição, com Palhinha entre os centrais para “sair a 3”, para permitir a subida dos laterais com ambos, chegados ao último terço, metendo-se por dentro, sobretudo Nuno Mendes em diagonais interiores de apoio pela esquerda, enquanto, na direita, Cancelo jogava mais aberto em profundidade. Uma diferença de movimentos que combinava com as dinâmicas dos extremos: na direita, dava liberdade “espalha fintas com passe” a Chico Conceição e, na esquerda, no caso de Nuno Mendes, este dava todo o corredor desde trás a Rafael Leão.
Esta interligação “lateral por dentro-extremo aberto” tornavase mais especial porque um dos jogadores que tem sido mais difícil de encaixar o estilo de jogo na Seleção tem sido Leão, extremo explosivo que gosta de embalar desde trás passando/fintando adversários em progressão. Desta forma (com Nuno Mendes atraindo marcações no tal movimento interior) ele encontrava o seu melhor “habitat espacial” para essas explosões. Tentou algumas mas nota-se que a Seleção não vive muito para isso, muito menos contra adversários fechados atrás. Outra coisa seria em contra-ataque, mas isso raramente acontece contra equipas destas.
O Euro terá de nos trazer adversários mais fortes passando a primeira fase e nessa altura veremos se irão surgir esses momentos no jogo apropriado ao estilo de Leão que, de outra forma, parece sempre só fazer “meia jogada” da “jogada inteira” que promete ao arrancar.
2 A segunda parte teve outro extremo, Pedro Neto, na ala esquerda (e então foi Cancelo, mudado de flanco, a ir para dentro nas subidas). Valeu para ver o regresso de Neto (que, apesar dos piques que foi metendo, está sem ritmo de jogo). Formou-se o mais natural trio do meio-campo luso: Palhinha (fiel da balança para Martínez medir equilíbrio ataque-defesa), Vitinha (um n.º 8 segundo pivô com ampla visão periférica) e, claro, Bruno Fernandes a surgir desde trás no corredor interior com remate e golo (sempre tratando em jeito a bola). A forma como o onze desligou mentalmente na parte final está diretamente relacionado com o ritmo-sonâmbulo sem estilo competitivo destes jogos (sobretudo a partir de certa altura e resultado). Os finlandeses tinham então metido o seu “n.º 9 lenhado”, Pukki, e fez dois golos. Nada de grave. Ganhámos na mesma. Mais um jogo, mais um formalidade que, como outros nesta era-Martinez, não dá para avaliar crescimentos. Só ataque e gestão.
O ritmosonâmbulo sem estilo competitivo destes jogos tanto pode dar para golear fácil como para sofrer golos por adormecer