O Jogo

“Começar aqui é o ideal”

Apareceu com surpresa como adjunto no Rio Ave, vindo da Escócia, quando tinha apenas 25 anos. Agora, aos 37, anseia tomar as rédeas de um clube no seu lugar encantado

- PEDRO CADIMA

Ian Cathro foi adjunto de Nuno Espírito Santo em vários clubes, acompanhan­do o arranque do português no Rio Ave. Relação fortíssima com Portugal e o jogador nacional abre horizonte.

●●● Ian Cathro, antigo adjunto de Nuno Espírito Santo, espera aos 37 anos arrancar carreira a solo em Portugal com ambições bem vincadas.

Portugal volta a ser um ponto de partida?

—Quero começar a carreira aqui, também mudar a família, porque gosto muito do Porto, desde os tempos em que ia de metro para Vila do Conde. Estava com 25 anos, tinha crescido numa cidade pequena, em Dundee, sem influência de fora, e o Porto marcou-me. A ideia sempre foi essa, começar um trajeto a solo, depois são as circunstân­cias que ditam o timing. Deu-se um momento natural, com a saída da Arábia Saudita[ adjunto do Al-Ittihad ], e ganhei tempo para pensar. E, agora, é virar a página.

Quem é Ian Cathro que se propõe a ter sucesso cá?

—Sinto-me já com muita experiênci­a,tenho37ano­semuitosan­ospelafren­te.Esperotalv­ez uns 20 anos de carreira, a desfrutar do meu trabalho, sem esquecer nunca a paixão que me ligou ao futebol. Acho que todos os treinadore­s que almejam sucesso, devem ser autênticos. Tentarei sempre conciliar essas duas facetas, procurar o futebol que dá alegria, que inspira os jogadores e anima as bancadas, trazendo mais gente aos jogos. Depois é inevitável que também vem o stress, o futebol faz-te sofrer, é uma máquina, tu estás no meio. Mas tenho experiênci­a suficiente para perceber como o quero viver.

A experiênci­a no Rio Ave dá força a ideia de um local ideal para começar?

—Portugal é ideal! Pelo meu projeto de família. Gosto da cultura, partilho os valores. Futebolist­icamente, tenho esse suporte dos dois anos no Rio Ave e o facto de ter trabalhado com muitos treinadore­s ejogadores­decá.Entendimui­to bem o jogador portuguès. Olho para o futebol, o seu contexto, e vejo-me a encaixar, consigo visualizar as minhas ideias nesta Liga com hipótese de ter sucesso.

Sente que tem nome consolidad­o entre clubes?

—Se eu falo com quem me conhece, amigos, podes viver nessa bolha. Mas acho normal queaspesso­asemPortug­alnão me conheçam. Tenho, porém, currículo que merece atenção. Começou nesses anos no Rio Ave, onde fizemos um grande grupo e tivemos momentos altos, uma primeira época com recorde de pontos e uma segunda com duas finais das Taças. Foi algo importante, dando-se ainda a entrada na Liga Europa. É preciso valorizar o que o Nuno fez.

Que tipo de projeto idealiza?

— A realidade em Portugal é de clubes que exportam jogadores, é preciso desenvolvê-los. É uma necessidad­e e é algo que praticamen­te todos fazem muito bem. Sinto que tenho qualidade neste processo, posso ser capaz de os potenciar. Gosto de lidar com talentos ainda num projeto de se tornarem grandes jogadores. Depois trata-se do grau de ambição, prefiro encontrar um clube onde essa ambição é tão grande que parece estúpida. Prefiro estar com pessoas que querem conseguir ir além da fasquia do normal.

Este desejo seu resulta de convites?

—Nunca tive convites de Portugal mas entendo isso, porque estamos a falar de um país com ótimos treinadore­s. Imagino pessoas em volta do Rio Ave que questionav­am porque estava um escocês na equipa técnica. Era estranho mas hoje é pouco diferente, ganhei uma experiênci­a a nível exigente, também passando pelo Newcastle. Sempre trabalhei com jogadores portuguese­s. Não quero ter muita gente a falar, importante é apanhar a oportunida­decerta.Temdeser um projeto de Liga, vou tendo propostas de Inglaterra e para mim seria normal arrancar lá a partir de uma divisão secundária. Mas não quero!

“Sinto-me com muita experiênci­a e a ideia foi ter um trajeto a solo”

“Quem almeja sucesso deve ser autêntico e procurar futebol que dá alegria”

Ian Cathro Treinador de futebol

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