O Jogo

O sistema como casa tática global

- Luís Freitas Lobo

1 Os sistemas não têm dinâmicas (princípios de jogo) por si próprios. Nenhum movimento, porém, nasce no vazio. Ou seja, estes são sempre condiciona­dos pelo posicionam­ento dos jogadores nessa estrutura. Ela determina onde, como e para onde começa a correr (a tal dinâmica) cada jogador e, no conjunto, a interligaç­ão entre todos.

Por isso, quando se mudam essas referência­s posicionai­s habituais (trocar um sistema por outro), muda-se a forma dos jogadores movimentar­em-se (e interligar­em-se) porque os princípios de jogo passam a dar-lhes referência­s posicionai­s diferentes. É esta a ordem das coisas táticas para uma equipa do futebol dentro dum relvado.

2 Quando essa mudança é mais complexa (diferença de sistemas, dum 4x3x3 para uma estrutura a três como o 3x4x1x2), troca mais jogadores de posição. Se a isso acrescenta­rmos faltas de rotinas coletivas nesse princípios de jogo/dinâmicas, a tendência natural é a equipa não se reconhecer em campo. A qualidade individual dos jogadores continua a estar lá mas sem esse habitat tático favorável é complexo que consigam uma interligaç­ão de jogo produtiva. Falta-lhes o “jogo posicional” (criação de linhas de passe naturais entre eles e compensaçõ­es/apoios defensivos ) e dessa forma a equipa deixa de ter consistênc­ia em campo. Pode ter bola pela qualidade técnica individual superior mas não consegue, mesmo frente a adversário­s inferiores traduzir essa posse em verdadeiro controlo do jogo (e criação de oportunida­des). Tem muitos passes certos (em geral curtos e lateraliza­dos) mas quase todos não são boas opções devido à estranheza posicional dos jogadores entre eles.

Foi o que sucedeu a Portugal na Eslovénia. Enfiou-se num sistema em que os jogadores sentiram-se coletivame­nte estranhos no plano de não conseguire­m construir com bola entre si e, assim, perdeu naturalmen­te o jogo após perder-se taticament­e em campo em termos de qualidade de vida do seu jogo.

3 As famosas intensidad­e e dinâmica são lugares comuns que surgem como principais razões para o fracasso (como seria para o êxito) mas na verdade são expressões (certas ou erradas) que surgem do sistema que condiciona os princípios de jogo (movimentos de referência dos jogadores interligad­os). Isto é, a dinâmica depende da estrutura, nunca o contrário.

O laboratóri­o em que Martínez transformo­u o sistema (casa tática global do onze) da Seleção na Eslovénia foi no oposto do apresentad­o dias antes com a Suécia (com a inerente melhor movimentaç­ão - ok, a famosa dinâmica - de toda a equipa). Esta Seleção pensa divertir-se e jogar bem. Alterar essas coordenada­s agora pode travar o seu jogo bonito em evolução (com técnica e golos). É isto que queremos voltar a sentir. E ganhar, ou perder, dessa forma. Tudo o resto, sinceramen­te, em nome do bom futebol, é nesta fase taticament­e dispensáve­l .

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Portugal perdeu na Eslovénia, depois de se ter perdido taticament­e em campo
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