O sistema como casa tática global
1 Os sistemas não têm dinâmicas (princípios de jogo) por si próprios. Nenhum movimento, porém, nasce no vazio. Ou seja, estes são sempre condicionados pelo posicionamento dos jogadores nessa estrutura. Ela determina onde, como e para onde começa a correr (a tal dinâmica) cada jogador e, no conjunto, a interligação entre todos.
Por isso, quando se mudam essas referências posicionais habituais (trocar um sistema por outro), muda-se a forma dos jogadores movimentarem-se (e interligarem-se) porque os princípios de jogo passam a dar-lhes referências posicionais diferentes. É esta a ordem das coisas táticas para uma equipa do futebol dentro dum relvado.
2 Quando essa mudança é mais complexa (diferença de sistemas, dum 4x3x3 para uma estrutura a três como o 3x4x1x2), troca mais jogadores de posição. Se a isso acrescentarmos faltas de rotinas coletivas nesse princípios de jogo/dinâmicas, a tendência natural é a equipa não se reconhecer em campo. A qualidade individual dos jogadores continua a estar lá mas sem esse habitat tático favorável é complexo que consigam uma interligação de jogo produtiva. Falta-lhes o “jogo posicional” (criação de linhas de passe naturais entre eles e compensações/apoios defensivos ) e dessa forma a equipa deixa de ter consistência em campo. Pode ter bola pela qualidade técnica individual superior mas não consegue, mesmo frente a adversários inferiores traduzir essa posse em verdadeiro controlo do jogo (e criação de oportunidades). Tem muitos passes certos (em geral curtos e lateralizados) mas quase todos não são boas opções devido à estranheza posicional dos jogadores entre eles.
Foi o que sucedeu a Portugal na Eslovénia. Enfiou-se num sistema em que os jogadores sentiram-se coletivamente estranhos no plano de não conseguirem construir com bola entre si e, assim, perdeu naturalmente o jogo após perder-se taticamente em campo em termos de qualidade de vida do seu jogo.
3 As famosas intensidade e dinâmica são lugares comuns que surgem como principais razões para o fracasso (como seria para o êxito) mas na verdade são expressões (certas ou erradas) que surgem do sistema que condiciona os princípios de jogo (movimentos de referência dos jogadores interligados). Isto é, a dinâmica depende da estrutura, nunca o contrário.
O laboratório em que Martínez transformou o sistema (casa tática global do onze) da Seleção na Eslovénia foi no oposto do apresentado dias antes com a Suécia (com a inerente melhor movimentação - ok, a famosa dinâmica - de toda a equipa). Esta Seleção pensa divertir-se e jogar bem. Alterar essas coordenadas agora pode travar o seu jogo bonito em evolução (com técnica e golos). É isto que queremos voltar a sentir. E ganhar, ou perder, dessa forma. Tudo o resto, sinceramente, em nome do bom futebol, é nesta fase taticamente dispensável .