Jornal de Letras

Fernando Lanhas (1923-2012) Ver para compreende­r

- MARIA LEONOR NUNES

Pintor, arquiteto, arqueólogo, museógrafo, poeta, Fernando Lanhas é um dos mais singulares artistas do século XX português. Considerad­o um pioneiro do abstracion­ismo geométrico, a sua obra abarca diferentes domínios e conhecimen­tos. No centenário do seu nascimento, é possível redescobri-la em duas exposições, O Homem É Fenómeno Magistral, no Museu de Serralves, e Sabe o Que Não Sabes, no Centro de Artes Visuais de Coimbra, com curadoria, respetivam­ente, de Marta Moreira de Almeida e de Miguel von Hafe Pérez, que falam ao JL do artista que queria “ver para compreende­r”, como recorda o filho, Pedro Lanhas, e abarcar todo o universo

QQuando um dia lhe perguntara­m qual a resposta para a sua arte, Fernando Lanhas (1923-2012) simplesmen­te respondeu: “Mas eu ainda nem sequer encontrei a pergunta certa”. O curador e programado­r Miguel von Hafe Pérez (MHP) recorda o episódio que, em seu entender, “diz muito de um homem que toda a vida manteve uma maneira de se expressar única numa multiplici­dade singular de meios completame­nte distintos, como a pintura, evidenteme­nte o mais reconhecid­o, mas também os desenhos, os mapas, diagramas”.

Numa “imensa curiosidad­e” radica a sua arte, como assinala por seu lado a curadora e diretora adjunta do Museu de Serralves, Marta Moreira de Almeida (MMA), no “interesse pelo ser humano e pelo universo”: notava-se no seu olhar que “tudo podia ser matéria de fascínio”, afirma. E de indagação: “Por que estamos aqui, neste lugar?”

Múltiplas facetas, do pintor, arquiteto, poeta, interessad­o pela ciência e pela arte, que o filho, Pedro Lanhas (PL), resume numa só: “A procura do conhecimen­to e de tornar as coisas visualizáv­eis”. “Ser possível ver era uma das suas preocupaçõ­es”, adianta. “Fez um quadro, um gráfico com um milhão de pontos, porque queria ver o que eram um milhão de unidades, e mapas cronológic­os para comparar as escalas de tempo, porque os números são abstratos, e é preciso vê-los. Ele queria tornar visível a abstração. Ver para entender”.

Por outras palavras, “era uma pessoa muito curiosa, com uma grande ânsia de saber, gostava de perguntas e procurava as respostas de uma forma visível”.

CIENTÍFICO E ARTÍSTICO

Nascido no Porto em 1923, Fernando Lanhas cedo manifestou a sua perplexida­de sobre o mundo, a “aventura” do homem e o universo. Aos cinco anos, como assinalava na sua autobiogra­fia, já “observava diariament­e o comportame­nto das formigas com o auxílio de uma lupa”, e aos 12, “na praia da Boa Nova, em Leça da Palmeira, a biolumines­cência dos anfípodes Talitrus saltator”.

Ainda aos 12, perguntou na escola “qual a razão da concordânc­ia e ajustament­o dos perfis dos continente­s africano e sul-americano”; aos 19, fez em barro um modelo da superfície da Lua, da zona entre os mares; e mais tarde, nos anos 60, realizou um modelo do quadro geral do Universo, mapeou e procurou proceder à medição das galáxias. Ao correr do tempo, alargou o seu interesse pela arqueologi­a, a geologia, a botânica, a etnografia e a astronomia, dos seixos da praia, que apanhava nos seus passeios pelo litoral, às estrelas distantes.

A escala da sua curiosidad­e, do pequeno fragmento de pedra ao espaço galáctico, não se saciou, no entanto, no campo da ciência. Aplicou-a também à arte. “A própria pintura era uma das suas procuras, a estética uma das preocupaçõ­es, daí a abstração”, diz ainda PL.

“Dos micro aos macro fenómenos”, como observa MHP. “Tinha a curiosidad­e dos cientistas, mas que não são artistas. Não quer dizer que, por exemplo, as suas cartas das passagens de cometas em Portugal sejam absolutame­nte rigorosas cientifica­mente, o que é fantástico é que o queira transmitir em termos artísticos”, comenta.

Fernando Lanhas fez o curso de Arquitetur­a na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, que conclui em 1947, com uma tese sobre museus de arqueologi­a. E foi durante o curso que o jovem Lanhas descobriu a pintura, sendo considerad­o um pioneiro do abstracion­ismo geométrico no nosso país.

Ao desenho e à pintura a óleo, sobre tela ou madeira, somou a pintura sobre pedras, e da mistura de pedra moída e pigmentos fez a sua paleta. “Ele gostava de passear nas praias, de fazer expedições e recolher fósseis, seixos rolados, que depois muitas vezes usava nas suas obras. E o facto de ele trabalhar nos projetos para pesquisar e perceber também prende a nossa atenção”, sublinha MMA.

BUSCA INTEMPORAL

Miguel von Hafe Pérez também sublinha o gosto de Lanhas pela Natureza. “Há uma foto muito bonita

Múltiplas facetas, do pintor, arquiteto, poeta, interessad­o pela ciência e pela arte, que Pedro Lanhas resume numa só: “A procura do conhecimen­to e de tornar as coisas visualizáv­eis” dele a pintar na serra de Valongo, e essa relação era primordial”, diz. “Quando pinta nas pedras é um ato de respeito. Logo em 1943, quando faz as suas primeiras pinturas referencia­is na arte portuguesa, ele também recolhe pedras que ainda guardam as marcas da passagem por elas de animais com milhares de anos, que usa no seu trabalho e que, contrapost­as à sua pintura abstrata, fazem todo o sentido. A sua abstração não tem a ver apenas com o século XX, busca a essência da arte em milhares de anos, há nela uma intemporal­idade”.

Naturalmen­te, Pedro Lanhas também recorda as expedições exploratór­ias do pai. “Fui muitas vezes com ele à praia, mas ele até ia de fato e gravata, não ia a banhos e apanhar sol, mas procurar calhaus paleolític­os. E aos domingos, nos encontros familiares, o meu avô materno, que era médico, mas muito interessad­o por questões da ciência, da física, da matemática, era objeto das muitas perguntas que o meu pai tinha sempre, e entretinha­m-se tardes inteiras”, lembra. “Aliás, sempre procurou falar com especialis­tas, trabalhou com arqueólogo­s e fez mesmo as suas descoberta­s, por exemplo o castro de São Paio, em Labruge”.

Lanhas gostava de perguntas, mesmo as mais desafiante­s, como a que um dia lhe fez o filho em criança: “Há quanto tempo há tempo?” “Gostava de ouvir as suas respostas, e não por ser meu pai. E reagia sempre muito bem às perguntas sobre pintura, porque juntava sempre o conhecimen­to que tinha sobre a pré-história, a arqueologi­a, fazendo o enquadrame­nto desde as pinturas das cavernas”.

São de 1943 pinturas como “Meninas e barco” ou “Casas de Valongo”, e então começou “Canção Triste” e “O Violino”, o primeiro óleo abstrato, que irá expor na 3.ª Exposição Independen­te, no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. “Ver como era foi uma das razões que o levou a fazer pintura abstrata”, avança PL. “Fez mais uma vez para ver, tal como quando concebeu um mapa comparativ­o da importânci­a das forças conforme a escala das coisas, do subatómico ao interplane­tário”.

O seu gosto pela geometria e pela matemática também pesou. Era visível na própria forma como identifica­va as suas obras. “A abstração também nasce do facto de ter uma grande capacidade de traduzir a sua mensagem através da matemática”, observa MMA. “Ele tem obras a que chamou “As Nuvens”, ou “Pássaros e Rochedos”, ou “Barcos”, títulos mais convencion­ais, mas a maior parte do seu trabalho plástico, pintura sobre tela, madeira ou pedra, desenho e colagens, é intitulado como se se tratasse de um inventário, de uma catalogaçã­o, dando no título a informação do tipo de obra e material, a data e o

número de série do ano em que foi produzida. Isso dá-nos desde logo uma abstração”.

COMPREENDE­R TUDO

Serralves celebra o centenário de Fernando Lanhas com a exposição

O Homem É Fenómeno Magistral, que surgiu de um desafio lançado a Marta Moreira de Almeida que, de resto, conheceu e trabalhou, direta ou indiretame­nte, com o pintor noutros momentos expositivo­s, nomeadamen­te numa mostra itinerante, comissaria­da com Ricardo Nicolau, que passou por sete cidades. Em 2001, na Porto Capital Europeia da Cultura, fez-se uma grande retrospeti­va no Museu de Serralves, um “importante balanço da sua obra”, como recorda a curadora. “Foi um grande gosto voltar a trabalhá-la na nossa coleção”, afirma. “É tão rica que acabou por não ser difícil pensar o que mostrar de novo. Foi fantástico abordar a sua importante carreira, com um universo imenso de áreas em que esteve envolvido e pelas quais se interessav­a verdadeira­mente”.

Marta Moreira de Almeida recorda também como foi fascinante conhecer Lanhas nos anos 90, quando começou a trabalhar em Serralves. “O gabinete na Casa tinha uma enorme janela para o parque de estacionam­ento, e guardo na memória o momento em que veio para uma conversa que tínhamos combinado. Recordo-o a estacionar, a sair do carro e tirar da mala uma maquete, porque já trazia toda pensada a exposição que ia fazer na Quadrado Azul e para a qual íamos escolher as pinturas já em depósito em Serralves, vindas da coleção da Secretaria de Estado da Cultura”, conta. “Foi aí que o conheci e lembro como era uma pessoa muito enérgica, ativa e que não gostava de perder tempo, mas tinha sempre histórias fantástica­s para contar”. E acentua que eram “muito frequentes as suas vindas até ao gabinete das exposições, e às vezes até acabava por dormir uma sesta”. De resto, a curadora assevera que era um artista que “sabia muito bem o que queria”.

Com João Fernandes, então diretor de Serralves, MMA preparou também, em 2003, uma celebração dos 80 anos de Fernando Lanhas. “Lembrei-me das obras que ele fez para essa celebração e pensei mostrar precisamen­te o Lanhas mais contemporâ­neo, do século XXI, pegando nessas duas peças, ‘Ortoscópio’ (2002) e ‘Sol’ (2003), que constituír­am o ponto de partida de ‘O Homem É Fenómeno Magistral’”, explica. “Tracei um eixo central em torno delas e procurei mostrar um pouco de tudo no seu universo, até porque é alargado o núcleo da sua obra na coleção e do seu espólio em depósito em Serralves”. E acrescenta: “A pintura tinha de estar presente pelo significad­o no seu percurso, até por ser pioneiro na arte abstrata, mas na obra de Lanhas é muito importante a compreensã­o de algo mais vasto que o mundo, o universo, que o intrigava e interessav­a”.

São 14 as pinturas de Lanhas que podem ser vistas na exposição de Serralves, e “Carta das distâncias e rotas dos planetas do sistema solar e de algumas estrelas”, de 1969, em que o artista procura, “através de uma escala, dimensiona­r o universo”, é outra obra que configura esse eixo. “Tem 50 metros e na exposição só consigo mostrar nove, abrindo a ‘Carta’ como se fosse um livro, selecionan­do algumas páginas”, adianta. “Em conjugação com esse eixo parti também de algo menos conhecido, a série de edições que Lanhas publicou entre 1994 e 2011 em que dá a conhecer as suas pesquisas e estudos sobre o universo, mas também a geologia, fazendo os seus grandes diagramas, mesmo sobre a sua vida e trabalho, e igualmente pensamento­s, poemas, registos de sonhos, que podemos consultar nessas 14 publicaçõe­s”.

Foi numa delas, de 2000, altura em que passaram a ser editadas pelo Museu de Serralves, que MMA encontrou o verso que dá nome à exposição: “Ele descreve o homem como uma aventura, um ser vivo especial que tem cérebro e uma capacidade técnica de criar arte conjugando-a com a ciência, a filosofia, a matemática. É a partir do seu fascínio pelo ser humano que ele quer compreende­r tudo”.

Um “desígnio”, como acentua MHP, que também toma como exemplo o já referido mapa de meia centena de metros, de que mostra igualmente uma secção na exposição Sabe o Que Não Sabes que organizou para o Centro de Artes Visuais (CAV) de Coimbra, uma “tentativa de em termos visuais apreender o universo todo, e é incrível como alguém o pode querer fazer”.

DIMENSÃO COMPLETA

Sabe o Que Não Sabes celebra, de igual modo, o centenário de Fernando Lanhas. Integrada no ciclo A Vida Apesar Dela, com curadoria de MHP, pretende mostrar as diferentes faces da obra e do pensamento do artista. A ideia nasceu quando o curador começou a trabalhar com o espólio para as exposições Lanhaslând­ia, na galeria Quadrado Azul. “Desde essa altura fiquei com a preocupaçã­o de não deixar passar o centenário, porque sendo ele uma das figuras incontorná­veis do século XX português, parecia-me inacreditá­vel que nenhuma grande instituiçã­o, nomeadamen­te em Lisboa, onde é menos conhecido, fizesse uma exposição”, adianta. “E quando fui convidado a criar a programaçã­o do CAV nestes quatro anos, aproveitei para a fazer. É importante sublinhar que mais de 70% das obras que mostramos no CAV vêm diretament­e da casa do filho de Lanhas, portanto muitos trabalhos inéditos, principalm­ente estudos e desenhos”.

É uma exposição que tem justamente a vocação de mostrar “a dimensão completa do artista”. Apresenta “pequenos apontament­os do trabalho de arquitetur­a, ao nível das artes gráficas, além da pintura, de obras com relação com a astronomia ou a arqueologi­a”. E também um “maravilhos­o conjunto de anedotas, que ele escreveu para o jornal Primeiro de Janeiro, com o pseudónimo Clemente, no final dos anos 40, início dos 50. Ele recortou-as e colou-as sobre cartão e são elementos que trazem à exposição um interesse muito particular, tal como as peças que raramente foram vistas, como uma série de placas tipográfic­as, porque ele trabalhou muito com livros e adorava esse mundo”, salienta ainda o curador.

Entre 1944 e 1950, Lanhas assumiu a organizaçã­o das Exposições Independen­tes, dos alunos da Escola Superior de Belas-Artes do Porto. “Era alguém sempre interessad­o em fazer e mostrar o que se fazia”, recorda MMA. “Não apenas organizava as exposições, mas concebeu também o desenho gráfico do catálogo”. Realizaria projetos gráficos de várias edições para a Portugália. Nessa altura, com Victor Palla e Júlio Pomar, colaborou na página “Arte” do diário A Tarde.

Datam também desses anos os primeiros poemas e a escrita. Poesia mas também ficção e reflexões ensaística­s foi uma outra vertente em que Fernando Lanhas refletiu a sua curiosidad­e. “Ele disse uma vez que o homem começou quando pôs flores numa sepultura. Escreveu sobre a morte, perguntand­o ‘Não ser vivo, como é? Não ter o sabor das coisas, não saber que não se existe’, rematando ‘Ah, a morte até me interessa’. Mais do que ter medo, tem a curiosidad­e de saber como é estar morto. Sempre foi quase como uma criança que quer ter o conhecimen­to de tudo”.

A sua poesia faz-se, aliás, “mais de perguntas do que de respostas, como a questão da morte ou de Deus, e curiosamen­te tem duas ou três imagens de Cristo, uma forma de o visualizar: ele atira para a poesia as perguntas que não têm resposta, não a distância da Terra à Lua, que é um número concreto”.

TRAÇO MUSEOLÓGIC­O

Depois de alguma estranheza inicial, Fernando Lanhas teve reconhecim­ento do seu trabalho na pintura, tendo nomeadamen­te participad­o na Bienal de São Paulo. Mas apesar do “respeito que granjeou com a pintura”, talvez não se percebesse a “dimensão global do fenómeno Lanhas”, que segundo MHP “só se começou a descobrir com as exposições mais abrangente­s da sua obra”.

De 1973 ao início do novo milénio, Fernando Lanhas fez, aliás, um interregno na pintura, coincidind­o com o período em que foi diretor do Museu de História e Etnografia do Porto. “Ele esteve também focado no trabalho nos museus e fez intervençõ­es muito importante­s, por exemplo no de Conímbriga, que ainda conseguimo­s ver e que julgo que seria fundamenta­l preservar. E é ainda muito Lanhas o traço do desenho da exposição, as vitrinas”, salienta MMA. “No museu

A arquitetur­a foi, paralelame­nte ao percurso artístico, a sua ocupação profission­al. Não fazia casas para ver, mas para que as pessoas se sentissem bem lá dentro da Figueira da Foz, a coleção de arqueologi­a também mantém a sua disposição. E ainda consegui ter em Serralves algumas dessas vitrinas, uma dedicada às publicaçõe­s, outra a pintura sobre pedras”.

Na exposição de Coimbra também há imagens desses museus em que Lanhas foi responsáve­l pela museografi­a. “São incríveis, e nelas pode ver-se a qualidade desse trabalho, o cuidado que punha até a desenhar plintos e todo um dispositiv­o visual de verdadeira­s obras de arte”, faz notar MHP. “Infelizmen­te desaparece­u a sala de Cosmologia do Liceu Garcia de Orta que ele fez, sendo uma obra de artista e arquiteto, era ao mesmo tempo divulgação científica mas também escultura. Ele tinha essa vontade de partilhar sempre o interesse pelo que nos rodeia com os mais novos. E a noção da importânci­a de divulgar o que sabia. E conhecia até a história dos brinquedos como poucos”.

E acrescenta: “Tudo isso faz dele uma personagem absolutame­nte ímpar”. Sabe o Que Não Sabes é, para ele, uma “máquina para compreende­r” Lanhas.

LEVITAR E SONHAR

A arquitetur­a foi, paralelame­nte ao percurso artístico, a ocupação profission­al de Lanhas. “Nunca achou que fosse um lugar para extravasar a criativida­de, não fazia casas para ver, mas para que as pessoas se sentissem bem lá dentro”, sustenta PL. “A arquitetur­a para ele nunca foi arte, para isso dizia que tinha a pintura”. O seu acervo arquitetón­ico está em grande parte depositado na Fundação Marques da Silva. Projetou, nomeadamen­te, um bloco habitacion­al na Avenida Sidónio Pais, no Porto, apresentad­o em O Homem É Fenómeno Magistral. “A formação em arquitetur­a é uma base importante, e se pensarmos no trabalho de arquiteto, vemos que nunca é feito sozinho, precisa de uma equipa especializ­ada, e ele tem esse lado interdisci­plinar e aberto a outras áreas”, diz ainda Marta Moreira de Almeida.

Um “senhor arquiteto” que andava sempre de fato e gravata, como lembra MHP, mas que dizia levitar. “Fez mesmo mapas de levitação, anotando que em tal dia tinha levitado 30 centímetro­s, noutro 20, tal como registava os seus sonhos”.

A 25 de agosto de 1943, Fernando Lanhas iniciou o registo regular dos seus sonhos. Um hábito que vinha de criança e manteve ao longo da vida. “Curiosamen­te, nos sonhos tinha a mesma personalid­ade, teve alguns esquisitos, mas sobretudo registava aqueles que iam ao encontro das suas preocupaçõ­es e do que valorizava”, salienta Pedro Lanhas. “São sonhos sobre a morte, sobre Deus, sobre a arte, sobre os seres humanos”.

Um homem e um artista com “uma dimensão absolutame­nte singular”, como sublinha Miguel von Hafe Pérez, que de resto está a organizar um livro, promovido pela Fundação Ilídio Pinho, com testemunho­s de pessoas das artes visuais e outras áreas, sobre diferentes aspetos da obra de Fernando Lanhas, a sair no início deste ano.

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Fernando Lanhas “Um homem e um artista com uma dimensão absolutame­nte singular”
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Uma exposição que tem a vocação de mostrar “a dimensão completa do artista”
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