Diário de Notícias

Carlos Carvalhal promete regressar a Braga com apuramento no bolso

O novo treinador bracarense quer humildade para alcançar, em casa do Servette, o de acesso à Liga Europa. Treinador do V. Guimarães não quer facilidade­s diante do Zurique.

- TEXTO ISAURA ALMEIDA

Carlos Carvalhal está confiante na vitória do Sp. Braga diante do Servette, hoje (19.30, Sport TV) em Genebra, na Suíça, e a consequent­e passagem ao play-off da Liga Europa. “Vai ser com humildade, trabalho e união que vamos conseguir trazer a vitória da Suíça”, assumiu o novo treinador dos minhotos, antes da segunda mão da 3.ª pré-eliminatór­ia depois do 0-0 em casa.

A iniciar a terceira passagem pelo comando técnico do Sp. Braga, depois de meia época em 2006-07 e das temporadas 2020-21 e 2021-22, Carvalhal elogiou a vontade de vencer que viu na equipa diante do Estrela da Amadora, na 1.ª jornada da I Liga, apesar do empate (1-1) e mesmo não tendo feito uma grande exibição.

“Sinto-me como se nunca tivesse saído daqui, é o meu clube. Estou muito feliz por estar com estes jogadores, esta administra­ção e estes adeptos. Fui muito bem recebido e, assim que cheguei, foi tempo de arregaçar as mangas e ir treinar”, disse o técnico de 58 anos, que substitui no cargo Daniel Sousa, revelando que demorou “dois ou três minutos” a dizer sim ao “regresso a casa”, aproveitan­do para desejar “felicidade­s” ao seu antecessor.

Carvalhal lembrou que o plantel está aberto até ao fecho do mercado, no final de agosto, sendo que conta com André Horta e Simon Banza, até porque pretende ter “dois jogadores por posição”.

Victor Gómez está de volta às opções, após cumprir o jogo de castigo no campeonato, enquanto o defesa-central Robson Bambu recuperou de lesão e também entra nas contas do treinador, ao contrário de Wdowik, Paulo Oliveira e André Horta.

Se passar a eliminatór­ia, o Sp. Braga vai defrontar Trabzonspo­r ou RapidViena no play-off de acesso à fase de grupos da Liga Europa. Se for eliminado, terá pela frente o Chelsea no play-off da Liga Conferênci­a.

Carlos Carvalhal Treinador do Sp. Braga

play-off

V. Guimarães em alerta

Com uma tarefa mais fácil está oV. Guimarães, que esta noite recebe (20.15, Sport TV ) o FC Zurique, depois de ter vencido na Suíça por 3-0. Apesar de ter o apuramento encaminhad­o, o treinador Rui Borges quer “rigor, foco e concen- tração” para acautelar eventuais dissabores e garantir a passagem ao play-off da Liga Conferênci­a, onde irá defrontar os búlgaros do Botev Plovdiv ou os bósnios do Zrinjski Mostar. “Um golo pode mudar tudo em termos de força mental para o resto do jogo”, alertou.

Chega hoje às salas um novo filme chinês, um fragmento mais de um país ao mesmo tempo fascinante e desconheci­do – isto, claro, se quisermos dispensar a descrição novelesca da China (e, em boa verdade, da maior parte dos países a que se associe o adjetivo “exótico”) que o pitoresco televisivo vai reproduzin­do com preguiçosa regularida­de. Aí está o belíssimo A Torre Sem Sombra, escrito e realizado por Zhang Lu, revelado no Festival de Berlim de 2023.

Face às enigmática­s singularid­ades do filme e, sobretudo, à atenção nele dedicada a personagen­s “sem história” (ou à procura da sua própria história), vale a pena citar uma observação da sinologist­a francesa Anne Cheng, professora do Collège de France, no texto de apresentaç­ão de Penser en Chine (ed.

Gallimard, Paris, 2021), um interessan­tíssimo volume sobre a China no século XXI e, em particular, sobre o ressurgime­nto intelectua­l e político de uma “memória imperial” apostada, sobretudo, em demarcar-se da “ideologia capitalist­a”.

Escreve ela: “Ao mesmo tempo que as livrarias apresentam secções ‘históricas’ abundantes, a censura, a amnésia deliberada e a memória seletiva espalham-se com mais severidade do que nunca.”

O que, entenda-se, não significa que A Torre Sem Sombra seja um panfleto maniqueíst­a colado a qualquer sensaciona­lismo que favoreça uma visão “social” em que se trata apenas de distinguir as “boas” e as “más” personagen­s. Desde logo, porque as aventuras e desventura­s de Gu Wentong (Xin Baiqing), um crítico gastronómi­co divorciado, pai de uma menina que está a cargo da sua irmã, estão longe de funcionar como uma narrativa demonstrat­iva, ainda menos moralista. Em boa verdade, através dos seus delicados particular­ismos, A Torre Sem Sombra é um filme de profundo amor pela China – é essa, afinal, a sua fundamenta­l dimensão política.

Será inevitável referir o simbolismo evocado pelo título escolhido por Zhang Lu. A Torre que surge nos cenários das deambulaçõ­es de Gu Wentong, ou nos seus encontros com a companheir­a Ouyang Wenhui (Huang Yao), pertence a um templo budista do século XIII, situado no Distrito de Xicheng, em Pequim — a sua forma pontiaguda, com um cone assente sobre um cilindro, gera o efeito bizarro de não ser fácil observar onde e como se projeta a sua sombra… O que arrasta uma metáfora possível: talvez as personagen­s, sobretudo Gu Wentong, existam nessa incerteza de não se projetarem sobre o chão que pisam ou, então, não terem qualquer efeito sensível sobre aqueles com quem se cruzam ou dialogam.

Uma vontade realista

Zhang Lu consegue a proeza, hoje em dia rara (no cinema chinês ou fora dele), de nos sugerir as pontas soltas de um tecido social de frágil fragmentaç­ão afetiva – observe-se a metódica evolução da relação de Gu Wentong com o pai –, de tal modo que as ações das personagen­s e os lugares da narrativa se revelam assombrado­s pelo mesmo desencanto. Como se cada ser humano fosse a emanação de um coletivo social que, apesar do rigor da sua organizaçã­o, não acolhe as diferenças individuai­s.

Há, talvez, uma palavra oportuna para descrever a lógica e os fundamento­s de tudo isto: realismo. Na certeza de que a caracteriz­ação mediática dos seres humanos como meras emanações de algum “coletivo” (social, político, de género, etc.) é, precisamen­te, o oposto de qualquer vontade realista de compreende­r o mundo à nossa volta.

Em A Torre Sem Sombra, cada um tenta lidar com o mistério do tempo que habita. Podemos mesmo baralhar as referência­s históricas e retomar a expressão de um clássico de 1967 assinado pelo italiano Marco Bellocchio: “A China está próxima.”

A Torre Sem Sombra,

JOÃO LOPES RUI PEDRO TENDINHA INÊS N. LOURENÇO

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