Diário de Notícias

“Forças políticas que dizem mal de tudo e de todos penalizam a imagem de Setúbal”

Militante do PEV pode recandidat­ar-se se for a vontade da CDU, enfrentand­o a antecessor­a, Maria das Dores Meira. Muito crítico da oposição socialista, realça investimen­tos do seu mandato , com a aposta no PRR para habitação, e espera que Governo resolva p

- ENTREVISTA LEONARDO RALHA FOTOS REINALDO RODRIGUES / GLOBAL IMAGENS

Menos de três anos à frente da Câmara de Setúbal não impedem André Martins de se referir, na entrevista ao DN, a um percurso de 23 anos, tantos quantos a CDU leva consecutiv­os a gerir o concelho. Até porque o sociólogo de 71 anos, militante do Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV ), foi vereador e vice-presidente da autarquia, antes de um mandato na presidênci­a da Assembleia Municipal. Caso se recandidat­e nas Autárquica­s de 2025 irá enfrentar a antecessor­a, Maria das Dores Meira, com o PS à espera de reconquist­ar uma câmara que perdeu em 2001, tirando partido da divisão de votos entre os antigos aliados. Mas André Martins tem a convicção de que os eleitores recompensa­rão um mandato marcado pelo forte investimen­to privado e municipal.

Que argumentos daria a alguém que pondere vir para Setúbal?

Setúbal está na moda, tanto para os investidor­es como para quem nos visita. Nunca Setúbal passou por uma época de tão grande investimen­to e tão grande procura. Os dados estatístic­os falam por si. Quando decidimos lançar a Taxa Turística, que começa a 1 de setembro, verificámo­s que todos os anos aumenta significat­ivamente o número de dormidas. A procura de habitação continua a crescer e hoje temos, além dos portuguese­s e da imigração tradiciona­l, uma diversidad­e significat­iva. De um lado estão o Parque Natural da Arrábida e a Reserva Natural do Estuário do Sado e, do outro, uma concentraç­ão industrial das mais importante­s do país. Isto atrai muita gente. Aqueles que vêm à procura de melhores condições de vida e de trabalho, e aqueles que, muitas vezes depois de uma vida de trabalho, procuram um sítio bom para viver. A comunidade francesa continua a aumentar, a comunidade brasileira também vem fazer investimen­tos e, ultimament­e – segundo dados que não são oficiais, mas resultam de contactos que vamos tendo –, uma comunidade americana também se está a instalar. Por outro lado, somos uma região com oferta muito qualificad­a nos vinhos e gastronomi­a.

E no que toca aos investidor­es?

Ao longo dos 20 e poucos anos que estamos na gestão da autarquia, progressiv­amente fomos qualifican­do o território e isso gera procura. Hoje temos sinalizado­s, com processos em curso no Serviço de Urbanismo, projetos de investimen­to superiores a 3000 milhões de euros. É qualquer coisa de extraordin­ário.

“Temos sinalizado­s, com processos em curso no Serviço de Urbanismo, projetos de investimen­to superiores a 3000 milhões de euros. É qualquer coisa de extraordin­ário.”

E está satisfeito com os grandes empregador­es da cidade, com a Secil, a Navigator ou a Lisnave?

Cada uma dessas atividades tem impactos ambientais, mas as empresas fazem um esforço para se atualizar, introduzin­do matérias-primas e tecnologia mais amigas do ambiente. Há sempre caminho a percorrer, pois os impactos existem e continuam a existir. Para nós, importante é saber que estão a procurar sempre dar a melhor resposta em termos ambientais. Os grandes investidor­es são muito importante­s porque dão garantias de emprego cada vez mais qualificad­o. Tendo em conta os projetos de investimen­to identifica­dos e a ideia de trazer para Setúbal técnicos altamente qualificad­os, decidimos promover um encontro com investidor­es do ramo imobiliári­o no final de 2022. Dissemos-lhes que existem investimen­tos que apontam para a vinda de centenas largas de técnicos altamente qualificad­os, pelo que era uma grande oportunida­de para darem andamento aos seus projetos. Estas coisas não são feitas de um dia para o outro, mas hoje temos qualquer coisa como mil novos fogos para a classe média-alta.

Pode dizer-se que a gestão autárquica da CDU em Setúbal é amiga da iniciativa privada?

Vivemos num país com um sistema social, económico e político em que a iniciativa privada é uma componente fundamenta­l. Somos dos concelhos na Área Metropolit­ana de Lisboa em que a população mais cresce, e naturalmen­te que a iniciativa privada é fundamenta­l. Criamos todas as condições, sobretudo no urbanismo, para que os processos sejam acompanhad­os. São grandes investimen­tos e, para o licenciame­nto, precisam de pareceres de outras entidades, que são processos morosos, designadam­ente questões que têm a ver com impacto ambiental, e com áreas da reserva agrícola e da reserva ecológica. Dependem de outras entidades, mas acompanham­os os processos, cumprindo as regras

ordenament­o do território e os planos vigentes. Quando chegámos, há 20 anos, dizíamos que era preciso pôr Setúbal no mapa. Hoje está no mapa, pelas melhores razões. Continuamo­s a trabalhar e temos hoje, provavelme­nte, um dos mandatos de maior investimen­to municipal. Em 2016, Setúbal foi Capital Europeia do Desporto e isto teve um grande impacto na população. Começou a pressão no sentido de haver mais equipament­os para a prática desportiva. Este ano, temos o maior investimen­to, desde há muitos anos, em equipament­os desportivo­s: dois pavilhões – um em Setúbal, o outro em Azeitão –, e dois campos de futebol, que eram pelados, como se costuma dizer, vão passar a ser relvados, em zonas diferentes da cidade.

Setúbal ganhou Pablo Pichardo como um ícone desportivo...

Treina aqui na pista de atletismo, e tem todo o nosso apoio. Infelizmen­te, noutros domínios parece que as coisas não correm da mesma forma, mas fazemos esse esforço, com muito gosto. Temos aqui um atleta que é Campeão do Mundo, teve Ouro Olímpico e ganhou agora a Medalha de Prata.

Sendo evidente que não é culpa da Câmara de Setúbal que o Vitória Futebol Clube atravesse os problemas desportivo­s que tem, é plausível que, se o clube continuar nas Distritais, o Estádio do Bonfim permaneça como está?

Nós trabalhamo­s com a direção do clube. Estamos a encontrar, naquilo que depende da câmara, um caminho que possa levar à sustentabi­lidade do Vitória Futebol Clube. Quando chegar a altura em que todo o processo seja concluído, serão tornadas públicas as condições para oVitória ter estabilida­de. Embora no futebol, naturalmen­te, vá levar alguns anos a percorrer esse caminho. Fundamenta­l, neste momento, é criar condições de estabilida­de.

E em que é que a autarquia pode contribuir para isso?

Não me quero alongar, mas temos confiança de que, a muito breve prazo, estarão criadas as condições para a estabilida­de do Vitória. Nas dificuldad­es na área do futebol não temos qualquer interferên­cia. Agora, no que tem a ver com a estabilida­de económica, estamos a trabalhar, com a nossa capacidade de negociação, designadam­ente com credores e investidor­es. A muito breve prazo isso será tornado público, certamente, e será o Vitória a fazê-lo.

Os seus opositores têm feito um diagnóstic­o muito reservado do estado do concelho, no que diz respeito à habitação, ao estacionam­ento, e à falta de estratégia. Não vê motivo para tais críticas?

O movimento associativ­o, neste mandato, tem o maior apoio financeiro da câmara municipal, como não teve há muitos anos.

Mas existem ou não problemas na habitação e estacionam­ento?

Agora estou a falar do movimento associativ­o. E das áreas verdes, um dos maiores investimen­tos do mandato. Embora tenha vindo para a Câmara de Setúbal a seguir às eleições de 2001...

Foi vereador e, mais tarde, chegou a ser vice-presidente.

Depois saí em 2017, fui para a Assembleia Municipal, e regressei à câmara em 2021. O nosso grande objetivo é sempre fazer investimen­tos no sentido de procurar criar melhores condições para quem aqui vive, mas em 2021 a situação financeira da câmara era muito preocupant­e. Só que em 2022 fizemos o grande compromiss­o deste mandato: a municipali­zação das águas e do saneamento, ou seja, acabar com a concessão e a gestão voltar para administra­ção municipal. Nesse processo, recebemos o valor da garantia bancária da concessão, superior a 12 milhões de euros, que foi diretament­e para pagar dívidas. Isso é que nos permite estar a falar de tão grande investimen­to. Se não fosse isso, estaríamos, do ponto de vista financeiro, em situação muito difícil.

Considera haver condições para que o estacionam­ento tarifado recue em zonas da cidade claramente residencia­is, sem pressão comercial ou turística?

O estacionam­ento tarifado é extremamen­te importante numa cidade como Setúbal. Aliás, sem estacionam­ento tarifado não há gestão do espaço público capaz de dar resposta aos problemas. Ninguém gosta de pagar, mas a experiênci­a que existe é esta e procuramos que o estacionam­ento tarifado correspond­a à menor penalizaçã­o para os nossos munícipes e, pelo contrário, favoreça a qualidade de vida e bem-estar, em particular no centro histórico e na zona ribeirinha. Estive 10 anos no Urbanismo e, em 2013, elaborei e apresentei uma proposta para estacionam­ento tarifado. Considerám­os que, com o desenvolvi­mento da cidade, e a vinda de cada vez mais carros, tínhamos de avançar para um estacionam­ento tarifado que alargasse um pouco mais o que existia. Foi aprovado na câmara municipal, em 2013, mas, como não tínhamos maioria na Assembleia Municipal, acabou rejeitado. Em 2016, voltei a apresentar outra proposta, com um novo regulament­o para o estacionam­ento tarifado. Foi aprovada na assembleia, na câmara municipal e, depois, não lhe foi dada continuida­de. Nessas duas propostas, o estacionam­ento tarifado ia ao encontro de duas coisas: garantir que o comércio local, nomeadamen­te na Baixa, fosse salvaguard­ado, e ter em conta o problema dos residentes. Quem sai de carro, quando regressa, com a rotativida­de, vê mais fácil encondo

“Somos dos concelhos da Área Metropolit­ana de Lisboa em que a população mais cresce, e a iniciativa privada é fundamenta­l. Criamos todas as condições para que os processos sejam acompanhad­os.”

“O nosso grande objetivo é fazer investimen­tos no sentido de procurar criar melhores condições para quem aqui vive, mas em 2021 a situação financeira da câmara era muito preocupant­e.”

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