Líderes da Mossad e da CIA em Roma
Gabinete de segurança israelita reuniu ontem à noite para estudar como retaliar o ataque que matou 12 menores em Majdal Shams. Comunidade internacional tentava evitar uma escalada.
Israel prometeu retaliar contra o que disse ser “o mais mortífero ataque contra civis israelitas” desde o do Hamas, a 7 de outubro, deixando claro que os bombardeamentos contra alvos do Hezbollah não só junto à fronteira, mas também no interior do Líbano, eram apenas o início. O grupo xiita libanês insiste, contudo, que não foi responsável pelo ataque que matou 12 menores num campo de futebol na comunidade drusa de Majdal Shams, nos Montes Golã ocupados.
“O Hezbollah vai pagar um preço elevado. Um preço que não pagou antes”, disse o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que ontem reuniu o gabinete de segurança. Na noite de sábado para domingo já tinha bombardeado sete regiões libanesas, com o Hezbollah alegadamente a abandonar outras posições em antecipação de novos ataques na passada madrugada. A Middle East Airlines resolveu adiar a chegada a Beirute de seis dos seus voos só para hoje.
O Líbano pediu uma investigação internacional independente ao ataque, com o chefe da diplomacia, Abdullah Bou Habib, a rejeitar a teoria de que o Hezbollah tenha realizado o ataque contra populações civis. O ministro colocou outros cenários, como o de o ataque ter sido “obra de outras organizações, um erro israelita ou um erro do Hezbollah”.
O grupo xiita libanês voltou a insistir que não foi responsável pelo ataque. “Não seria a primeira vez que as baterias israelitas e os mísseis da Cúpula de Ferro falharam e saíram pela culatra, atingindo áreas à volta de Majdal Shams” e dos Montes Golã ocupados, disse em comunicado. O Hezbollah explicou que a comunidade drusa não seria atacada por não haver alvos militares na zona. O momento do incidente, o tamanho da explosão, o local do ataque e o tipo de civis atingidos são “suspeitos”, acrescentou, explicando que as alegações contra o grupo xiita são um sinal de uma “fuga” à responsabilidade por “falhas técnicas”.
Os EUA, tal como Israel, atribuíram as culpas ao Hezbollah. “Era o deles e foi lançado de uma área que eles controlam. Devem ser universalmente condenados”, disse a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Adrienne Watson. O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, alertou contra a “escalada” da tensão. “Estamos em conversações com o governo de Israel e volto a enfatizar o seu direito a defender os seus cidadãos e a nossa determinação em garantir que eles o podem fazer”, indicou, dizendo, contudo, que o
O diretor da Mossad, David Barnea, esteve ontem reunido em Roma com os negociadores dos EUA, do Egito e do Qatar para discutir uma proposta revista do acordo de cessar-fogo e troca de reféns com o Hamas que Israel terá apresentado no fim de semana. Barnea esteve com o diretor da CIA, William Burns, o líder da secreta egípcio, Abbas Kamel, e o primeiro-ministro do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani. As negociações vão continuar “nos próximos dias”, disseram os israelitas, já depois de Barnea ter regressado a Israel. Entretanto, na Faixa de Gaza continuam os ataques, com pelo menos dez mortos num bombardeamento em Khan Yunis. Os israelitas deram ordens para a evacuação dos bairros de Bureij e Shuhada, após detetarem lançamentos de
destas zonas.
cessar-fogo em Gaza será a melhor forma de acabar com a tensão na região.
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, condenou o “banho de sangue” em Majdal Shams logo no sábado à noite. “Precisamos de uma investigação internacional independente a este incidente inaceitável”, acrescentou, pedindo a todas as partes que exerçam “o máximo de contenção” e evitem “uma maior escalada”. Já o Egito pediu às “forças influentes” da comunidade internacional que intervenham imediatamente para evitar o agravamento do conflito. O Irão, aliado do Hezbollah, alertou para as “consequências” de uma “aventura” israelita.
Não é a primeira vez que a tensão entre Israel e o Hezbollah dispara, desde o ataque do Hamas de 7 de outubro que desencadeou a guerra na Faixa de Gaza. As trocas de tiros têm sido diárias na fronteira, temendo-se uma guerra total – a última foi em 2006. Mas até agora tem sido possível travar uma escalada, já que nem Israel nem o Hezbollah parecem interessados nesse cenário. O grupo xiita libanês tem uma capacidade de combate muito superior ao Hamas e para o exército israelita seria difícil dividir-se entre ambos.
De facto, aconteceu um ano antes de me reformar, mas foi por decisão do reitor da universidade. Geralmente, a alguém como eu, que orientou 45 teses, publicou 20 livros e foi traduzido noutras tantas línguas, é dado um ano suplementar. Mas, como muito bem diz, o reitor da universidade recusou silenciosamente dar-me um ano suplementar para que pudesse substituir os meus cursos sobre o Médio Oriente, que eram analíticos e objetivos, por cursos ideológicos baseados na exaltação do Sul global. É a batalha silenciosa woke que está a moldar as mentes dos estudantes e que não requer qualquer conhecimento. Não é preciso saber árabe para ser woke. Não é preciso ter estado no terreno, como eu fiz durante décadas, só é preciso distinguir entre o que está certo e o que está errado. É um pouco como a era estalinista. Isto não é um problema para a minha existência nem para a minha identidade, mas é um sinal muito pernicioso do que é a cultura woke nas universidades ocidentais de hoje.
Sim, embora as coisas estejam a melhorar, agora que o Reino Unido não faz parte da UE. É que foi sobretudo a partir do Reino Unido que a Irmandade Muçulmana conseguiu infiltrar-se numa série de órgãos de decisão da UE e isso traduziu-se, por exemplo, na promoção de uma campanha a favor do uso do véu na Europa, organizada pela FEMYSO, que era o seu lóbi. No mundo académico têm sido muito ativos. Quando apresentei uma proposta de investigação para analisar as relações entre a Europa e o Sul após a Primavera Árabe, esta foi recusada, claro, dizendo que eu era um académico medíocre. Mas foi dada
“[Netanyahu] não quer que a guerra acabe porque se acabar terá provavelmente de ser julgado em Israel [...] Penso que está convencido de que pode obter uma vantagem militar sobre os adversários.”
[bolsa] a académicos que estavam do lado da Irmandade Muçulmana. Eles trouxeram a ideologia, que era um pouco diferente do que eu estava a fazer. É notável, porque depois o presidente Macron pediu-me para fazer um relatório precisamente sobre esta questão, e o que tinha sido proibido pela universidade foi encomendado pelas autoridades públicas. Mesmo que [o relatório] não tenha tido muito efeito, é um sinal da desconexão entre o que está a acontecer na sociedade e os ideólogos que controlam as instituições. Como as pessoas se apercebem disso, acabam por votar na extrema-direita, e é precisamente por isso que penso que o wokismo e a Reunião Nacional, ou a extrema-direita europeia, funcionam em espelho. O wokismo é uma espécie de ditadura ideológica que está desligada da realidade e da sociedade. E como é financiado pelo dinheiro dos contribuintes, as pessoas reagem votando na extrema-direita. Não creio que seja a única razão, mas é uma das razões.
Essa é uma questão que promete ser mais complicada, devido à viagem de Netanyahu aWashington. De certa forma, está satisfeito, porque Joe Biden, que queria refreá-lo, é agora um presidente muito enfraquecido desde a sua retirada da candidatura de 2024. Na realidade, os acordos de Abraão são uma manobra de Trump e Netanyahu, os neoconservadores americanos e o Likud. Para os democratas, apoiar Netanyahu significa perder votos muito importantes naquilo que é conhecido como o Rust Belt (cinturão da ferrugem). Os três Estados de Wisconsin, Pensilvânia e Michigan, onde a classe trabalhadora branca vota maciçamente, votaram nos democratas e depois em Trump. Biden reconquistou-os. Mas agora, em Estados como o Michigan, os muçulmanos que foram para lá trabalhar mobilizaram-se contra Biden, que ficou consideravelmente enfraquecido. É provável que estes Estados sejam ganhos graças ao facto de o vice-presidente que Trump escolheu, J.D. Vance, ser ele próprio oriundo deste proletariado branco e ter contado a sua vida no livro Hillbilly Elegy, sobre os brancos pobres dos Apalaches. Se a candidatura Trump-Vance ganhar em novembro, isso dará a Netanyahu muito mais poder, porque não terá de se preocupar em ser, digamos, um presidente que precisa de votos árabes nos Estados Unidos.
Penso que é essa a sua estratégia, porque em Israel as sondagens mostram que 72% dos eleitores já não querem Netanyahu e enquanto houver guerra não pode haver eleições para o Knesset. É por isso que ele simulou concordar com o plano de paz de Biden, mas era só fingimento. Houve negociações e ao mesmo tempo prosseguiu a sua estratégia de bombardeamento na Faixa de Gaza. Uma situação humana catastrófica, sem medicamentos, sem higiene, provavelmente com epidemias de poliomielite prestes a eclodir. Mas para ele isso não importa. Não quer que a guerra acabe porque, se acabar, ficará desiludido e terá provavelmente de ser julgado em Israel, para se saber porque é que não previu o 7 de outubro, pois foi o seu planeamento defeituoso, como explico no livro, que levou a isso. Muitas pessoas temem que ele também lance uma ofensiva maciça contra o Hezbollah no Líbano, aproveitando em particular a fraqueza da Casa Branca de Biden. Oitenta mil israelitas tive