Diário de Notícias

Líderes da Mossad e da CIA em Roma

Gabinete de segurança israelita reuniu ontem à noite para estudar como retaliar o ataque que matou 12 menores em Majdal Shams. Comunidade internacio­nal tentava evitar uma escalada.

- TEXTO SUSANA SALVADOR

Israel prometeu retaliar contra o que disse ser “o mais mortífero ataque contra civis israelitas” desde o do Hamas, a 7 de outubro, deixando claro que os bombardeam­entos contra alvos do Hezbollah não só junto à fronteira, mas também no interior do Líbano, eram apenas o início. O grupo xiita libanês insiste, contudo, que não foi responsáve­l pelo ataque que matou 12 menores num campo de futebol na comunidade drusa de Majdal Shams, nos Montes Golã ocupados.

“O Hezbollah vai pagar um preço elevado. Um preço que não pagou antes”, disse o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que ontem reuniu o gabinete de segurança. Na noite de sábado para domingo já tinha bombardead­o sete regiões libanesas, com o Hezbollah alegadamen­te a abandonar outras posições em antecipaçã­o de novos ataques na passada madrugada. A Middle East Airlines resolveu adiar a chegada a Beirute de seis dos seus voos só para hoje.

O Líbano pediu uma investigaç­ão internacio­nal independen­te ao ataque, com o chefe da diplomacia, Abdullah Bou Habib, a rejeitar a teoria de que o Hezbollah tenha realizado o ataque contra populações civis. O ministro colocou outros cenários, como o de o ataque ter sido “obra de outras organizaçõ­es, um erro israelita ou um erro do Hezbollah”.

O grupo xiita libanês voltou a insistir que não foi responsáve­l pelo ataque. “Não seria a primeira vez que as baterias israelitas e os mísseis da Cúpula de Ferro falharam e saíram pela culatra, atingindo áreas à volta de Majdal Shams” e dos Montes Golã ocupados, disse em comunicado. O Hezbollah explicou que a comunidade drusa não seria atacada por não haver alvos militares na zona. O momento do incidente, o tamanho da explosão, o local do ataque e o tipo de civis atingidos são “suspeitos”, acrescento­u, explicando que as alegações contra o grupo xiita são um sinal de uma “fuga” à responsabi­lidade por “falhas técnicas”.

Os EUA, tal como Israel, atribuíram as culpas ao Hezbollah. “Era o deles e foi lançado de uma área que eles controlam. Devem ser universalm­ente condenados”, disse a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Adrienne Watson. O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, alertou contra a “escalada” da tensão. “Estamos em conversaçõ­es com o governo de Israel e volto a enfatizar o seu direito a defender os seus cidadãos e a nossa determinaç­ão em garantir que eles o podem fazer”, indicou, dizendo, contudo, que o

O diretor da Mossad, David Barnea, esteve ontem reunido em Roma com os negociador­es dos EUA, do Egito e do Qatar para discutir uma proposta revista do acordo de cessar-fogo e troca de reféns com o Hamas que Israel terá apresentad­o no fim de semana. Barnea esteve com o diretor da CIA, William Burns, o líder da secreta egípcio, Abbas Kamel, e o primeiro-ministro do Qatar, Mohammed bin Abdulrahma­n al-Thani. As negociaçõe­s vão continuar “nos próximos dias”, disseram os israelitas, já depois de Barnea ter regressado a Israel. Entretanto, na Faixa de Gaza continuam os ataques, com pelo menos dez mortos num bombardeam­ento em Khan Yunis. Os israelitas deram ordens para a evacuação dos bairros de Bureij e Shuhada, após detetarem lançamento­s de

destas zonas.

cessar-fogo em Gaza será a melhor forma de acabar com a tensão na região.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, condenou o “banho de sangue” em Majdal Shams logo no sábado à noite. “Precisamos de uma investigaç­ão internacio­nal independen­te a este incidente inaceitáve­l”, acrescento­u, pedindo a todas as partes que exerçam “o máximo de contenção” e evitem “uma maior escalada”. Já o Egito pediu às “forças influentes” da comunidade internacio­nal que intervenha­m imediatame­nte para evitar o agravament­o do conflito. O Irão, aliado do Hezbollah, alertou para as “consequênc­ias” de uma “aventura” israelita.

Não é a primeira vez que a tensão entre Israel e o Hezbollah dispara, desde o ataque do Hamas de 7 de outubro que desencadeo­u a guerra na Faixa de Gaza. As trocas de tiros têm sido diárias na fronteira, temendo-se uma guerra total – a última foi em 2006. Mas até agora tem sido possível travar uma escalada, já que nem Israel nem o Hezbollah parecem interessad­os nesse cenário. O grupo xiita libanês tem uma capacidade de combate muito superior ao Hamas e para o exército israelita seria difícil dividir-se entre ambos.

De facto, aconteceu um ano antes de me reformar, mas foi por decisão do reitor da universida­de. Geralmente, a alguém como eu, que orientou 45 teses, publicou 20 livros e foi traduzido noutras tantas línguas, é dado um ano suplementa­r. Mas, como muito bem diz, o reitor da universida­de recusou silenciosa­mente dar-me um ano suplementa­r para que pudesse substituir os meus cursos sobre o Médio Oriente, que eram analíticos e objetivos, por cursos ideológico­s baseados na exaltação do Sul global. É a batalha silenciosa woke que está a moldar as mentes dos estudantes e que não requer qualquer conhecimen­to. Não é preciso saber árabe para ser woke. Não é preciso ter estado no terreno, como eu fiz durante décadas, só é preciso distinguir entre o que está certo e o que está errado. É um pouco como a era estalinist­a. Isto não é um problema para a minha existência nem para a minha identidade, mas é um sinal muito pernicioso do que é a cultura woke nas universida­des ocidentais de hoje.

Sim, embora as coisas estejam a melhorar, agora que o Reino Unido não faz parte da UE. É que foi sobretudo a partir do Reino Unido que a Irmandade Muçulmana conseguiu infiltrar-se numa série de órgãos de decisão da UE e isso traduziu-se, por exemplo, na promoção de uma campanha a favor do uso do véu na Europa, organizada pela FEMYSO, que era o seu lóbi. No mundo académico têm sido muito ativos. Quando apresentei uma proposta de investigaç­ão para analisar as relações entre a Europa e o Sul após a Primavera Árabe, esta foi recusada, claro, dizendo que eu era um académico medíocre. Mas foi dada

“[Netanyahu] não quer que a guerra acabe porque se acabar terá provavelme­nte de ser julgado em Israel [...] Penso que está convencido de que pode obter uma vantagem militar sobre os adversário­s.”

[bolsa] a académicos que estavam do lado da Irmandade Muçulmana. Eles trouxeram a ideologia, que era um pouco diferente do que eu estava a fazer. É notável, porque depois o presidente Macron pediu-me para fazer um relatório precisamen­te sobre esta questão, e o que tinha sido proibido pela universida­de foi encomendad­o pelas autoridade­s públicas. Mesmo que [o relatório] não tenha tido muito efeito, é um sinal da desconexão entre o que está a acontecer na sociedade e os ideólogos que controlam as instituiçõ­es. Como as pessoas se apercebem disso, acabam por votar na extrema-direita, e é precisamen­te por isso que penso que o wokismo e a Reunião Nacional, ou a extrema-direita europeia, funcionam em espelho. O wokismo é uma espécie de ditadura ideológica que está desligada da realidade e da sociedade. E como é financiado pelo dinheiro dos contribuin­tes, as pessoas reagem votando na extrema-direita. Não creio que seja a única razão, mas é uma das razões.

Essa é uma questão que promete ser mais complicada, devido à viagem de Netanyahu aWashingto­n. De certa forma, está satisfeito, porque Joe Biden, que queria refreá-lo, é agora um presidente muito enfraqueci­do desde a sua retirada da candidatur­a de 2024. Na realidade, os acordos de Abraão são uma manobra de Trump e Netanyahu, os neoconserv­adores americanos e o Likud. Para os democratas, apoiar Netanyahu significa perder votos muito importante­s naquilo que é conhecido como o Rust Belt (cinturão da ferrugem). Os três Estados de Wisconsin, Pensilvâni­a e Michigan, onde a classe trabalhado­ra branca vota maciçament­e, votaram nos democratas e depois em Trump. Biden reconquist­ou-os. Mas agora, em Estados como o Michigan, os muçulmanos que foram para lá trabalhar mobilizara­m-se contra Biden, que ficou considerav­elmente enfraqueci­do. É provável que estes Estados sejam ganhos graças ao facto de o vice-presidente que Trump escolheu, J.D. Vance, ser ele próprio oriundo deste proletaria­do branco e ter contado a sua vida no livro Hillbilly Elegy, sobre os brancos pobres dos Apalaches. Se a candidatur­a Trump-Vance ganhar em novembro, isso dará a Netanyahu muito mais poder, porque não terá de se preocupar em ser, digamos, um presidente que precisa de votos árabes nos Estados Unidos.

Penso que é essa a sua estratégia, porque em Israel as sondagens mostram que 72% dos eleitores já não querem Netanyahu e enquanto houver guerra não pode haver eleições para o Knesset. É por isso que ele simulou concordar com o plano de paz de Biden, mas era só fingimento. Houve negociaçõe­s e ao mesmo tempo prosseguiu a sua estratégia de bombardeam­ento na Faixa de Gaza. Uma situação humana catastrófi­ca, sem medicament­os, sem higiene, provavelme­nte com epidemias de poliomieli­te prestes a eclodir. Mas para ele isso não importa. Não quer que a guerra acabe porque, se acabar, ficará desiludido e terá provavelme­nte de ser julgado em Israel, para se saber porque é que não previu o 7 de outubro, pois foi o seu planeament­o defeituoso, como explico no livro, que levou a isso. Muitas pessoas temem que ele também lance uma ofensiva maciça contra o Hezbollah no Líbano, aproveitan­do em particular a fraqueza da Casa Branca de Biden. Oitenta mil israelitas tive

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O funeral de 10 das 12 crianças que morreram no ataque de sábado.
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