Diário de Notícias

Eddie Murphy ainda se safa em Beverly Hills

- TEXTO INÊS N. LOURENÇO

O quarto filme da série que ajudou a cimentar o nome do ator na década de 80 já chegou à Netflix. Com moderada nostalgia, O Caça Polícias: Axel Foley alcança diversão modesta com um orçamento mais vistoso – o que importa é dar umas voltas nas ruas de Los Angeles.

Foram 30 anos de espera, nem mais nem menos. Originalme­nte pensado como uma produção que se seguiria de imediato a O Caça Polícias III (1994) – ou seja, ainda nos Anos 90 –, a sequela que acaba de se estrear na Netflix, depois de sucessivas propostas de guião que desagradar­am a Eddie Murphy, é a versão possível de um regresso ao lugar onde muitos espectador­es foram felizes. Segundo Murphy, tudo o que lhe tinha chegado às mãos, até há pouco tempo, eram repetições da história: o seu Axel Foley, carismátic­o detetive da polícia de Detroit, voltaria a Beverly Hills para uma nova missão... vira o disco e toca o mesmo. O que mudou? Certamente não a parte do retorno às ruas de Los Angeles, repletas de palmeiras e hotéis caros. Desta feita há, porém, um assunto de família: o motivo da deslocação do mais descontraí­do dos agentes é a sua filha, que está metida em sarilhos com gente perigosa.

Reunindo os principais nomes do elenco com que a aventura começou em 1984 (aí dirigidos por Martin Brest), O Caça Polícias: Axel Foley, quarto filme da série, surge então como uma promessa de memórias dos “bons velhos tempos” a piscar o olho aos novos tempos. O que significa que, enquanto Judge Reinhold e John Ashton (a dupla policial Billy Rosewood e John Taggart), entre outros, retomam os seus postos, com os pés para a reforma, expressões jovens como o detetive de Joseph Gordon-Levitt e a advogada de Taylour Paige (que interpreta a filha de Axel) empurram a ação para a frente – ou seria esse o contraste pretendido. Até aquela marca deliciosa de Beverly Hills Cop que é a sua banda sonora, apesar de despertar o ânimo certo assim que se ouvem as primeiras notas, acaba por ser aqui secundariz­ada por uma mistura de temas “modernaços”.

Como sempre, o que está em jogo é menos a elaboração do argumento do que o prazer de assistir ao charmoso molde social de Foley/Murphy: a sua interação cómica com os brancos, a lábia com que se safa de qualquer situação, no fundo, as idiossincr­asias que tornaram a personagem irresistív­el. Só que o brilho já não é o mesmo. Ao construir-se um esquema de ação que coloca no seu centro o drama familiar de Foley – ele, um pai ausente que está agora a tentar compensar o tempo perdido –, abandona-se um pouco a fibra da comédia subversiva que era a alma dos filmes dos eighties. Aí começa a perda de dinamite do novo Caça Polícias, que sucumbe a diálogos moles baseados numa escrita redonda e frouxa.

Seja como for, custa não dar a oportunida­de a Eddie Murphy. Apesar de estar longe do estilo rápido e fresco com que nos arrancava uma gargalhada, há uma boa disposição naquele rosto que provoca o nervo da nostalgia; além de que ele ainda se aguenta nas sequências de ação destrambel­hadas, como é seu apanágio. Há uma particular­mente citável, que envolve Gordon-Levitt a conduzir desastrada­mente um helicópter­o da polícia, com o nosso herói no banco ao lado...

Quanto à realização, a cargo do estreante Mark Molloy, não acrescenta muito, mas também não estraga. Basta que a simpatia de Murphy garanta um certo divertimen­to clássico.

 ?? ?? Eddie Murphy e o charme indiscreto de Axel Foley.
Eddie Murphy e o charme indiscreto de Axel Foley.

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