Deputados admitem acusar filho de Marcelo do crime desobediência
Vários deputados, para tentar contornar a resposta reiterada mais de 20 vezes por Nuno Rebelo de Sousa – “Não respondo” – apontaram-no como “lobista” e “facilitador de negócios”.
N “ão respondo.” Foi esta a formulação que Nuno Rebelo de Sousa prometeu utilizar como resposta a cada pergunta que lhe for dirigida. E cumpriu a promessa, aludindo ao aconselhamento jurídico que lhe foi prestado para poder participar na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o caso das gémeas luso-brasileiras tratadas com Zolgensma no Hospital de Santa Maria, em 2020, e no qual terá havido alegado favorecimento no acesso ao medicamento, que custou ao Estado 4 milhões de euros para tratar as duas crianças.
O filho do Presidente da República, que na altura dos factos liderava a Câmara de Comércio de São Paulo, só respondeu com uma formulação diferente à pergunta do deputado do CDS João Almeida, à qual estava legalmente obrigado, sobre a sua identidade. Depois de confirmar o nome e a morada, revelou a profissão: “Diretor da EDP Brasil”, acrescentando mais tarde que não tem “qualquer outra atividade”.
O deputado centrista lembrou a Nuno Rebelo de Sousa que quanto às “matérias de qualquer relação com outras testemunhas”, às quais não respondeu, podem configurar um caso de desobediência.
A deputada da IL Joana Cordeiro iniciou a primeira ronda de perguntas e lembrou que Marcelo Rebelo de Sousa já tinha condenado publicamente o filho, motivo pelo qual, continuou a deputa
Nuno Rebelo de Sousa Diretor de marketing EDP Brasil
da, Nuno Rebelo de Sousa poderia ter “todo o interesse em falar para se explicar”. Na tentativa de resgatar uma resposta a Nuno Rebelo de Sousa, a deputada liberal lembrou que Daniela Martins, a mãe das gémeas, “não se escondeu”. “Para mim isto tem um nome e chama-se cobardia”, afirmou, referindo-se à audição de Nuno Rebelo de Sousa e do antigo secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, ambos com o estatuto de arguido.
“Nuno Rebelo de Sousa terá apontado não conhecer a mãe” das gémeas, continuou a deputada do BE Joana Mortágua, optando por confrontar o depoente com contradições em vez de fazer perguntas, face à mesma reposta dada.
Depois de não ter respondido às perguntas do deputado do PCP Alfredo Maia, o deputado do Livre Paulo Muacho optou por não inquirir o filho do Presidente da Republica.
Por parte do PS, João Paulo Correia, face ao silêncio do depoente, disse que “aqui há duas teses possíveis”, argumentando que, por um lado, Nuno Rebelo de Sousa, “se dedica a causas humanistas” e “moveu mundos e fundos para cumprir um objetivo” que lhe foi pedido. Ou, por outro lado, há o “dr. Nuno Rebelo de Sousa lobista, facilitador de negócios”, que fez o que fez a “pedido de amigos em comum”, que, por ser filho do Presidente da República, conseguiu abrir portas e atingiu o seu objetivo.