Diário de Notícias

Deputados admitem acusar filho de Marcelo do crime desobediên­cia

Vários deputados, para tentar contornar a resposta reiterada mais de 20 vezes por Nuno Rebelo de Sousa – “Não respondo” – apontaram-no como “lobista” e “facilitado­r de negócios”.

- TEXTO VÍTOR MOITA CORDEIRO

N “ão respondo.” Foi esta a formulação que Nuno Rebelo de Sousa prometeu utilizar como resposta a cada pergunta que lhe for dirigida. E cumpriu a promessa, aludindo ao aconselham­ento jurídico que lhe foi prestado para poder participar na Comissão Parlamenta­r de Inquérito (CPI) sobre o caso das gémeas luso-brasileira­s tratadas com Zolgensma no Hospital de Santa Maria, em 2020, e no qual terá havido alegado favorecime­nto no acesso ao medicament­o, que custou ao Estado 4 milhões de euros para tratar as duas crianças.

O filho do Presidente da República, que na altura dos factos liderava a Câmara de Comércio de São Paulo, só respondeu com uma formulação diferente à pergunta do deputado do CDS João Almeida, à qual estava legalmente obrigado, sobre a sua identidade. Depois de confirmar o nome e a morada, revelou a profissão: “Diretor da EDP Brasil”, acrescenta­ndo mais tarde que não tem “qualquer outra atividade”.

O deputado centrista lembrou a Nuno Rebelo de Sousa que quanto às “matérias de qualquer relação com outras testemunha­s”, às quais não respondeu, podem configurar um caso de desobediên­cia.

A deputada da IL Joana Cordeiro iniciou a primeira ronda de perguntas e lembrou que Marcelo Rebelo de Sousa já tinha condenado publicamen­te o filho, motivo pelo qual, continuou a deputa

Nuno Rebelo de Sousa Diretor de marketing EDP Brasil

da, Nuno Rebelo de Sousa poderia ter “todo o interesse em falar para se explicar”. Na tentativa de resgatar uma resposta a Nuno Rebelo de Sousa, a deputada liberal lembrou que Daniela Martins, a mãe das gémeas, “não se escondeu”. “Para mim isto tem um nome e chama-se cobardia”, afirmou, referindo-se à audição de Nuno Rebelo de Sousa e do antigo secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, ambos com o estatuto de arguido.

“Nuno Rebelo de Sousa terá apontado não conhecer a mãe” das gémeas, continuou a deputada do BE Joana Mortágua, optando por confrontar o depoente com contradiçõ­es em vez de fazer perguntas, face à mesma reposta dada.

Depois de não ter respondido às perguntas do deputado do PCP Alfredo Maia, o deputado do Livre Paulo Muacho optou por não inquirir o filho do Presidente da Republica.

Por parte do PS, João Paulo Correia, face ao silêncio do depoente, disse que “aqui há duas teses possíveis”, argumentan­do que, por um lado, Nuno Rebelo de Sousa, “se dedica a causas humanistas” e “moveu mundos e fundos para cumprir um objetivo” que lhe foi pedido. Ou, por outro lado, há o “dr. Nuno Rebelo de Sousa lobista, facilitado­r de negócios”, que fez o que fez a “pedido de amigos em comum”, que, por ser filho do Presidente da República, conseguiu abrir portas e atingiu o seu objetivo.

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