Diário de Notícias

Orbán avança para novo grupo europeu de extrema-direita

O húngaro Fidesz juntou-se ao FPO da Áustria e ao ANO da Chéquia, mas precisam de forças de mais quatro países para formar um grupo. Uma delas poderá ser o Chega. Já existem duas famílias políticas de extrema-direita no Parlamento Europeu: o ERC, liderado

- TEXTO ANA MEIRELES ana.meireles@dn.pt

Oprimeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, anunciou este domingo que pretende formar uma nova aliança no Parlamento Europeu, juntamente com o partido de extrema-direita da Áustria e o grupo centrista checo do ex-primeiro-ministro Andrej Babis. “Assumimos a responsabi­lidade de lançar esta nova plataforma e nova fação. Quero deixar claro que este é o nosso objetivo”, afirmou o primeiro-ministro nacionalis­ta numa conferênci­a de imprensa com o líder do Partido da Liberdade da Áustria (FPO), Herbert Kickl, e Babis, do Aliança dos Cidadão Descontent­es (ANO), apelando ao apoio de outros partidos.

A nova aliança, apresentad­a como Patriotas pela Europa, vai precisar do apoio de partidos de outros quatro países para ser reconhecid­a como um grupo no Parlamento Europeu. Um deles poderá ser o Chega, depois de André Ventura ter dito ontem ver “com bons olhos” a adesão a este novo grupo, e anunciado que amanhã haverá uma reunião da Direção Nacional para que seja convocado um Conselho Nacional alargado do partido a fim de discutir esta possibilid­ade.

O FPO tem agora seis deputados, o ANO sete e o Fidesz 11, tendo sido os três partidos mais fortes nos seus países nas europeias, o que no total perfaz 24, um deputado acima do mínimo dos 23 necessário­s para formar um grupo. “Uma nova era começa aqui e o primeiro momento, talvez decisivo, desta nova era é a criação de uma nova fação política europeia que mudará a política europeia”, disse Orbán.

Os três homens assinaram um “manifesto patriótico”, prometendo “paz, segurança e desenvolvi­mento”, em vez da “guerra, migração e estagnação” trazida pela “elite de Bruxelas”.

Fidesz, de Orbán, era membro do Partido Popular Europeu – família de centro-direita e o maior grupo do Parlamento Europeu –, mas foi suspenso a 20 de março de 2019. A separação foi oficializa­da a 3 de março de 2021, depois de o PPE ter aprovado uma mudança das suas regras, passando a poder votar a exclusão da delegação inteira de um partido. O húngaro anunciou então que iriam sair do grupo, evitando que a sua expulsão fosse a votos, descrevend­o as regras como “claramente um movimento hostil contra o Fidesz e os nossos eleitores”. Desde aí, os deputados do Fidesz têm estado como não inscritos.

O FPO, de Herbert Kickl, fazia parte na legislatur­a anterior do grupo Identidade e Democracia (ID), de extrema-direita, que também inclui o francês Reunião Nacional, de Marine Le Pen, e a italiana Liga, de Matteo Salvini, o neerlandês Partido pela Liberdade, de Geert Wilders, ou, por agora, o Chega.

O movimento centrista ANO, do ex-primeiro-ministro e eurocético Andrej Babis, anunciou na semana passada que iria deixar o Renovar Europa, o grupo liberal do ParO lamento Europeu onde se encontram partidos como o Renascimen­to, do presidente francês Emmanuel Macron, o Partido Popular para a Liberdade e Democracia, do ainda primeiro-ministro neerlandês Mark Rutte, ou o português Iniciativa Liberal.

Sonho de união desfeito

Nos meses que antecedera­m a realização das eleições europeias especulou-se se o Fidesz iria juntar-se ao Identidade e Democracia na próxima legislatur­a ou se iria optar pelo outro grupo de extrema-direita do Parlamento Europeu, o Reformista­s e Conservado­res da Europa (ECR), cuja maior força é o Irmãos de Itália, da primeira-ministra Giorgia Meloni, mas onde também se encontram o Lei e Justiça, que até ao ano passado governava a Polónia, ou o espanhol Vox.

A dada altura os húngaros chegaram a indicar que estariam mais próximos do ECR do que do ID, mas o tabu foi desfeito na passada segunda-feira, num encontro em Roma entre Meloni e Orbán, abrindo assim caminho para o anúncio deste domingo. “Não podemos estar numa aliança partidária com um partido romeno anti-húngaro”, explicou Orbán, referindo-se à Aliança para a União dos Romenos. “Apesar disso, estamos todos empenhados em promover a cooperação entre os partidos europeus de direita, mesmo que não pertençamo­s à mesma família na próxima legislatur­a.”

O ECR de Meloni, com os seus 83 eleitos, prepara-se para ser o terceiro maior grupo do Parlamento Europeu, ultrapassa­ndo os liberais do Renovar Europa, que têm 75 inscritos, embora a sua líder, a francesa Valérie Hayer, tenha há dias dito que iriam ganhar novos membros. A outra família de extrema-direita, o ID, não vai além dos 51, 30 dos quais do Reunião Nacional.

O anúncio da intenção de criar o grupo Patriotas pela Europa deita também por terra uma ideia defendida por Le Pen durante a campanha, mas também por Viktor Orbán dias depois das eleições europeias: a criação de uma grande família de extrema-direita no Parlamento Europeu. “Se o ECR e o ID se unirem finalmente e se o Fidesz se juntar àqueles, poderemos formar a segunda maior fação do Parlamento Europeu”, atrás apenas do PPE, declarou o primeiro-ministro húngaro a 11 de junho.

Para Orbán, a chave seria os partidos que lideram os dois grupos, o Irmãos da Itália, de Meloni, e a Reunião Nacional, de Le Pen, chegarem a acordo para consumar a viragem à direita, que, na opinião do húngaro, se tornou clara nas europeias. Uma união na qual Meloni, até agora, não deu sinais claros de estar particular­mente interessad­a.

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O Fidesz, do primeiro-ministro húngaro, elegeu 11 deputados nas europeias de junho.

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