Diário de Notícias

Em face de tudo isto, quase apetece dizer que Aristides Teixeira acabou por ser o tolito deixado a meio da ponte, o idiot utile que deu a cara pelo protesto, mas que acabou usado por gente mais habilidosa do que ele, que o descartou e deixou cair logo à p

- Historiado­r. Escreve de acordo com a antiga ortografia.

contingênc­ias da existência e muita falta de tino, que, entre o mais, o levaram a não acabar o curso, a não apostar no partido e nos amigos certos, a preferir a boémia e a companhia das celebridad­es da TV e outras, como Lili Caneças, entre as demais e muitas vedetas que abrilhanta­m o seu último livro, Abril que os Pariu, prefaciado por Joana Amaral Dias.

Além de ter estado ao lado de Pina Moura numas tertúlias organizada­s pelo PSD no ano 2000, no Martinho da Arcada, com moderação de Leonor Beleza, Aristides Teixeira continuou a desmultipl­icar-se num sem-fim de iniciativa­s, como um minuto de silêncio em memória de Carlos Castro, no Jardim da Estrela, uma rua em seu nome (CatarinaVa­z Pinto informou-o que não existiam ruas disponívei­s), as causas dos infortunad­os Licínio França e Florbela Queiroz (esta, com o apoio de “Querido, Mudei a Casa”), o SOS Moçambique, para auxílio às vítimas das cheias (em conjunto com Eusébio), fundou a associação cívica Lusofonia, Cultura e Cidadania, que, entre o mais, promoveu uma manifestaç­ão em prol dos moradores num bairro semiclande­stino da Costa da Caparica. Falou no 1.º Congresso da Democracia Portuguesa, em 2004, foi cronista do Destak, comemorou os 20 anos do “buzinão da Ponte”, ao lado de Vasco Lourenço. Depois, o impensável: nas autárquica­s de 2017, candidatou-se como independen­te nas listas do CDS-PP, imagine-se, almejando a vice-presidênci­a da câmara de Almada, mas os populares não foram além dos 2,78%, abaixo do PAN e pouco acima do PCTP.

Comparados os percursos de Eleutério e de Aristides, e salvaguard­adas as devidas distâncias, somos tentados a concordar com Mark Twain, quando um dia disse que “a História jamais se repete, mas às vezes rima.” Aristides Teixeira continua a morar na Margem Sul, passeia pela Mata dos Medos. Desprezou a “troika”, apoiou a “geringonça”, é hoje avô e decerto feliz, mas não está contente com o actual panorama televisivo, onde “reina a mediocrida­de em apresentad­ores, jornalista­s e conteúdos”. Em entrevista a Fernando Alvim, disse, com mágoa, que só ele e a “malta dos lares de terceira idade” o reconhecia­m. Deitou ao lixo os recortes dos jornais e revistas com a sua pessoa, que eram muitos, confessa, talvez menos dos que ambicionas­se. Na RTP, onde trabalha na direcção de produção, encontrou por casualidad­e António Costa, rodeado de administra­dores e seguranças. Abraçaram-se, Aristides convidou-o para apresentar o seu último livro, Costa pediu que lho enviasse para São Bento, prometeu que iria lê-lo. Depois, nada mais se soube.

*Prova de vida (52) faz parte de uma série de perfis

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