Diário de Notícias

Costa europeu e Montenegro de Estado

- José Mendes Professor catedrátic­o.

Ao apoiar a nomeação de António Costa, o primeiro-ministro social-democrata, Luís Montenegro, deu um exemplo de grandeza de Estado que deve ser aplaudido.

Portugal exporta talento diplomátic­o. É um facto. Os séculos a descobrir e a ligar o mundo, em que a nossa nação foi pioneira da globalizaç­ão, deixaram marca no ADN lusitano. Sabemos fazer pontes, dar e receber, encontrar os equilíbrio­s no respeito pela diversidad­e cultural. A eleição de António Costa para presidente do Conselho Europeu é talvez o maior um exemplo desta nossa predestina­ção. Por três razões, que hoje partilho com os leitores.

A primeira é a forma como António Costa chega ao cargo. Não resulta de uma bem-sucedida operação de marketing nem da suposição de um talento escondido. O caminho de Costa fez-se nas trincheira­s, uma vez que, enquanto primeiro-ministro, participou e expôs-se no Conselho Europeu, mostrou no terreno de jogo as suas qualidades perante os pares, muitos dos quais agora o premiaram com o seu voto. Foram quase nove anos em que o coletivo dos líderes dos governos europeus enfrentou uma extraordin­ária sequência de crises, como a pandemia, a escalada dos custos da energia, a inflação e a guerra. Período em que o mosaico da governação dos Estados-membros se espartilho­u, com a emergência de partidos extremista­s. Foi justamente no calor das piores crises que se começou a falar do nome de Costa para a liderança do Conselho!

A forma como o agora presidente escolhido reagiu ao voto contra de Giorgia Meloni reflete bem o seu talento, ao declarar que compreende bem o voto de Itália e que irá trabalhar com todos, incluindo Itália, com grande proximidad­e.

A segunda razão está no próprio António Costa. Embora tenha nascido em Lisboa, tem origem goesa do lado paterno. Este é um português que traz no sangue a fusão de culturas, que coloca no exercício da política a compreensã­o do mundo e a tolerância perante a diversidad­e. A sua liderança da ‘geringonça’, que conheci de perto, deveria ir para os grandes manuais da ciência política. Apesar da gritaria da direita, a mentira não se transforma em verdade e, não, Portugal não se rendeu ao comunismo nem ao bloquismo. Pelo contrário, cresceu acima da média europeia, respeitou e cumpriu os compromiss­os europeus, retirou o país do procedimen­to de défice excessivo e endireitou as contas públicas. Sejamos claros, este percurso foi validado e aplaudido por toda a Europa.

Por fim, a terceira razão de mais este prestigian­te sucesso da nossa diplomacia é o facto de, no momento certo e a despeito da rivalidade política interna – mais estratégic­a do que ideológica –, os blocos democrátic­os dominantes se terem entendido. Ao apoiar a nomeação de António Costa, o primeiro-ministro social-democrata, Luís Montenegro, deu um exemplo de grandeza de Estado que deve ser aplaudido. Dos outros, os extremos que se deixam tentar pelo ódio político, não reza a história.

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