Costa europeu e Montenegro de Estado
Ao apoiar a nomeação de António Costa, o primeiro-ministro social-democrata, Luís Montenegro, deu um exemplo de grandeza de Estado que deve ser aplaudido.
Portugal exporta talento diplomático. É um facto. Os séculos a descobrir e a ligar o mundo, em que a nossa nação foi pioneira da globalização, deixaram marca no ADN lusitano. Sabemos fazer pontes, dar e receber, encontrar os equilíbrios no respeito pela diversidade cultural. A eleição de António Costa para presidente do Conselho Europeu é talvez o maior um exemplo desta nossa predestinação. Por três razões, que hoje partilho com os leitores.
A primeira é a forma como António Costa chega ao cargo. Não resulta de uma bem-sucedida operação de marketing nem da suposição de um talento escondido. O caminho de Costa fez-se nas trincheiras, uma vez que, enquanto primeiro-ministro, participou e expôs-se no Conselho Europeu, mostrou no terreno de jogo as suas qualidades perante os pares, muitos dos quais agora o premiaram com o seu voto. Foram quase nove anos em que o coletivo dos líderes dos governos europeus enfrentou uma extraordinária sequência de crises, como a pandemia, a escalada dos custos da energia, a inflação e a guerra. Período em que o mosaico da governação dos Estados-membros se espartilhou, com a emergência de partidos extremistas. Foi justamente no calor das piores crises que se começou a falar do nome de Costa para a liderança do Conselho!
A forma como o agora presidente escolhido reagiu ao voto contra de Giorgia Meloni reflete bem o seu talento, ao declarar que compreende bem o voto de Itália e que irá trabalhar com todos, incluindo Itália, com grande proximidade.
A segunda razão está no próprio António Costa. Embora tenha nascido em Lisboa, tem origem goesa do lado paterno. Este é um português que traz no sangue a fusão de culturas, que coloca no exercício da política a compreensão do mundo e a tolerância perante a diversidade. A sua liderança da ‘geringonça’, que conheci de perto, deveria ir para os grandes manuais da ciência política. Apesar da gritaria da direita, a mentira não se transforma em verdade e, não, Portugal não se rendeu ao comunismo nem ao bloquismo. Pelo contrário, cresceu acima da média europeia, respeitou e cumpriu os compromissos europeus, retirou o país do procedimento de défice excessivo e endireitou as contas públicas. Sejamos claros, este percurso foi validado e aplaudido por toda a Europa.
Por fim, a terceira razão de mais este prestigiante sucesso da nossa diplomacia é o facto de, no momento certo e a despeito da rivalidade política interna – mais estratégica do que ideológica –, os blocos democráticos dominantes se terem entendido. Ao apoiar a nomeação de António Costa, o primeiro-ministro social-democrata, Luís Montenegro, deu um exemplo de grandeza de Estado que deve ser aplaudido. Dos outros, os extremos que se deixam tentar pelo ódio político, não reza a história.