Diário de Notícias

Os confrontos continuam, agora entre grupos pró e contra a reforma, entre Polícia e grupos criminosos restando ao PR Ruto que as mães vinquem em casa aquilo que ele disse no Palácio.

- Politólogo/arabista www.maghreb-machrek.pt Escreve de acordo com a antiga ortografia

Terça-feira a notícia foi a resposta popular à reforma fiscal no Parlamento queniano. Em resumo, votou-se e aprovou-se a duplicação do valor do IVA de 8% para 16%, a todos os produtos de consumo, criptomoed­a incluída! Os manifestan­tes, num crescendo há uma semana, invadiram o Parlamento em protesto inédito, obrigando a Polícia a resposta musculada com mortes imediatas in loco.

Antecedent­es e consequent­es.

O Quénia garantiu em Janeiro um empréstimo do FMI, de quase mil milhões de dólares e agora tem de o pagar. Deduz-se, que no processo negocial prévio, o Governo tenha acordado em 2023, passar em 2024, dos impostos directos para os impostos indirectos, enquanto principal fonte de receita, para poder pagar os quase mil milhões. De acordo com o “manual de procedimen­tos do FMI”, quando um pedido de empréstimo é feito, o Sistema Bretton Woods solicita de imediato a entrega do Payslip, documento que indica a taxa/peso fiscal do requerente, bem como a capacidade de colecta dos impostos, o que projecta a capacidade de pagamento do empréstimo. Só assim se compreende esta duplicação tributária do IVA queniano no fim deste semestre!

Este pacote fiscal a votação no Parlamento foi sentindo o pulsar da multidão e à última da hora retira três produtos da lista, fazendo algum alarde disso na comunicaçã­o social, para ver se acalmava os ânimos.

É aqui que passamos à nota histórica, inédita e verdadeira­mente africana da semana, o facto de já não ser taxado o pão, pensos higiénicos e fraldas! Porquê? Porque as mulheres também sairiam à rua, furiosas com a humilhação. Este foi o princípio do fim deste episódio, que terminou no dia seguinte, com o Presidente William Ruto a declarar que não assinaria a reforma fiscal aprovada no Parlamento e pedindo ao Governo que encontre formas alternativ­as enquanto solução. O Quénia está economicam­ente estável com este empréstimo, do qual já recebeu 625 milhões, pelo que politicame­nte faz sentido recuar. No entanto, o que ficou registado em imagem e som foi um Presidente Ruto a discursar “com as orelhas derrubadas” e ligeiramen­te curvado, numa vénia à sua mãe e às outras, envergonha­do e com pudor enquanto dizia o que a mãe quer ouvir dum filho.

Era isto que Kadhafi temia, que as mães saíssem à rua e por isso “promovia as amazonas e dava descontos às mulheres”. Ruto também o sabe, porque África continua como começou, matriarcal! Os confrontos continuam, agora entre grupos pró e contra a reforma, entre Polícia e grupos criminosos, restando ao PR Ruto que as mães vinquem em casa aquilo que ele disse no Palácio. Por agora acabou e em breve virá uma mentira nova!

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