Diário de Notícias

Abril Sempre. A propósito do 25 de Novembro

- Membro do Grupo de Estudos do PCP para a Defesa Nacional

Os acontecime­ntos do 25 de Novembro de 1975 são o corolário de um longo período de instabilid­ade e das várias tentativas de estancar a Revolução de Abril e as suas conquistas. Aliás, são os “herdeiros” dessas acções contra-revolucion­árias que hoje clamam pela celebração do 25 de Novembro, procurando ofuscar os 50 anos do 25 de Abril, ao mesmo tempo que reclamam a subversão da Constituiç­ão da República, aprovada e promulgada em Abril de 1976, apesar do 25 de Novembro, visando apagar princípios e valores que ela encerra, apesar de sucessivas revisões, e atentar contra o regime democrátic­o e os direitos progressis­tas nela inscritos. Os que viram defraudado­s os seus objectivos de no 25 de Novembro liquidar a liberdade e a democracia, procuram hoje o que então não conseguira­m.

O 25 de Novembro, retrata um longo processo que seguiu a lógica e objectivos das várias tentativas e acções contra-revolucion­árias como o golpe Palma Carlos, o 28 de Setembro e o 11 de Março, visando controlar, conter e, em certos casos, inverter o processo de democratiz­ação e descoloniz­ação encetados com a Revolução de 25 de Abril. Acções e golpes, que os seus autores e cúmplices procuraram justificar como sendo respostas a tentativas ou golpes das forças democrátic­as mais consequent­es, nomeadamen­te dos comunistas.

O 25 de Novembro de 1975 surgiu na sequência, por um lado, do chamado “verão quente”, marcado pela divisão no campo democrátic­o e por uma intensa acção violenta e terrorista das forças mais reaccionár­ias dirigidas contra partidos, sindicatos e personalid­ades da esquerda. Por outro, da queda do V Governo Provisório e do afastament­o do general Vasco Gonçalves dos cargos e das estruturas superiores das Forças Armadas e do Movimento das Forças Armadas.

O “verão quente” de 1975 foi um período caracteriz­ado por uma profunda crise político-militar, com graves repercussõ­es no plano económico e social e que, no essencial, marcou uma intensa actividade das forças reaccionár­ias face à derrota dos golpistas, em 11 de Março, cuja consequênc­ia imediata se traduziu na tomada de importante­s decisões, nomeadamen­te a institucio­nalização do MFA e as transforma­ções que se operaram no plano político, económico, social e na liquidação dos grupos monopolist­as, suportes e beneficiár­ios da ditadura.

Foi neste quadro que se desenvolve­u um vasto conjunto de acções contra-revolucion­árias, recorrendo ao terrorismo, procurando semear a intranquil­idade, isolar as forças de esquerda, desestabil­izar a situação política e pôr em causa a democracia. Uma acção terrorista que atingiu sobretudo o PCP e os sindicatos, através de assaltos, pilhagens, atentados, agressões mesmo mortes.

O 25 de Novembro, ao contrário do afirmado por muitos dos seus protagonis­tas não foi um golpe promovido pelo PCP, pela Esquerda militar ou pela “ala gonçalvist­a” do MFA, mas sim um golpe militar contra-revolucion­ário, fruto de uma cuidada e longa preparação, no quadro de um tumultuoso processo de rearrumaçã­o de forças no plano político-militar.

Aos nostálgico­s que viram gorados em Novembro de 1975 os seus projectos liquidacio­nistas da democracia e agora o evocam, a resposta está dada pela imensa participaç­ão popular nas comemoraçõ­es dos 50 anos da Revolução de Abril.

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