“Como explico à minha neta que a amiga foi assassinada?”
CRIME
presta homenagem às crianças, deixando flores e brinquedos à porta da escola 2Onda de protestos pode alastrar a outras cidades
É também em português que se chora a morte de Alice. A menina de nove anos assassinada numa escola em
Southport, a cerca de meia hora de Liverpool, foi uma das três vítimas mortais do ataque de segunda-feira que as autoridades britânicas recusam ter sido um ato terrorista. O autor do crime brutal é um rapaz de 17 anos, nascido em Inglaterra, mas as motivações continuam a ser desconhecidas. Maria Ramos, a viver há mais de uma década na pequena cidade inglesa, conhecia duas das
vítimas e também familiares de Alice, a menina filha de pai madeirense, que também nasceu naquele arquipélago português. Tal como os ingleses, Maria Ramos chora pelo crime cruel e sem qualquer justificação. “Como explico à minha neta que a amiga foi assassinada?”, pergunta-nos, quase de forma retórica: “Como lhe digo que um rapaz entrou por aqui e esfaqueou quem aparecia à frente?”, repete. A descrição do que aconteceu é assustadora. A porta da sala onde Alice participava num workshop de dança estava aberta devido às elevadas temperaturas. Mesmo ao lado
havia uma aula com quase duas dezenas de grávidas, que estavam a fazer trabalhos de preparação para o parto. O suspeito entrou sem que ninguém se apercebesse e nada o travou. A primeira vítima foi Bebe, uma menina de 6 anos, cuja irmã estava ao lado e conseguiu fugir e esconder-se debaixo de um carro. A segunda foi Elsie, de oito anos. Seguiu-se Alice, de nove.
AGRESSOR ENTROU SEM QUE NINGUÉM SE APERCEBESSE. NADA TRAVOU O ASSASSINO
Todas gravemente feridas e sem hipótese de serem salvas. “A minha neta é da sala da irmã da Bebe. Também era amiga da Elsie. Tem sido muito difícil para todos, tenho pesadelos de noite, não consigo dormir.”
A pacata localidade transformou-se agora num memorial gigante. À porta da escola onde aconteceu a tragédia, no jardim junto ao teatro municipal, um pouco por todas as ruas da cidade, há balões e brinquedos, como que oferecidos às crianças mortas.
“Foi aqui, minha filha. Reza por ela que ela agora é uma estrela”, dizia uma mãe inglesa agarrada à filha, com oito/nove anos. A menina também conhecia as vítimas e era um dos muitos rostos que ontem choravam pelas meninas assassinadas.