Correio da Manha

“Senti o sangue a escorrer, eles iam matar-me ali”

CRIME José Neves foi espancado por militar da GNR, que suspeitava que a amante era assediada ª DECISÃO Aquilino Santos foi condenado à cadeia. Vítima diz que ficou com a vida destruída

- Ana Isabel Fonseca

u A brutal agressão marcou José Neves para sempre. A 15 de outubro de 2017 foi atraído para um encontro, em Tabuaço, onde foi espancado por um militar da GNR. Aquilino Santos - agora condenado a cinco anos e meio de prisão efetiva - suspeitava que o homem fazia telefonema­s de cariz sexual para a sua amante. Um cúmplice levou quatro anos e seis meses de pena suspensa. “Queriam matar-me, bateram-me muito na cabeça e destruíram a minha vida”, conta José, que sofreu lesões cerebrais, que afetam a sua autonomia e o impedem de trabalhar.

O encontro ocorreu às 00h30 numa zona isolada da Estrada Municipal 514, entre Pinheiro e Barcos. José diz que Aquilino e António Rafael, irmão da amante do militar, vinham escondidos no banco de trás do carro. A vítima diz que tinha combinado comprar azeite à amante do GNR. “Eles entraram na minha carrinha, o Rafael agarrou-me as pernas e deitou-me de barriga para baixo nos bancos. O Aquilino puxou-me pela gola da camisola e deu-me muitos murros na cabeça e na cara. Eu já sentia o sangue a escorrer, eles iam matar-me ali”, conta.

José diz que, desesperad­o, alcançou um revólver do pai, que tinha na carrinha. “O Aquilino apercebeu-se e entalou-me a mão com a porta e o revólver caiu. Aí é que me bateu forte e feio, era para me matar. Levei várias vezes com a porta do carro na cabeça”, explica.

A vítima diz que foi a amante do GNR que impediu que a agressão continuass­e.

Diz a decisão do Tribunal de Viseu que Aquilino, de 41 anos, ainda baixou as calças de José e ameaçou que seria agredido sexualment­e com um pau. A mulher do ex-agricultor também não esquece este dia. É agora ela o sustento da família e o apoio de José em muitas das tarefas. “A GNR ligou-me às cinco da manhã e disse que ele estava no hospital, que tinha uma arma ilegal e que quando tivesse alta ia a tribunal”, lembra Susana Soares.

O acórdão revela agora que Aquilino apresentou-se aos colegas da GNR como vítima. Chamou os militares ao local e alegou que só tinha lá ido porque a amante lhe pediu ajuda. Disse depois que José lhe apontou uma arma e que a agressão foi em legítima defesa. Os juízes dizem que a versão é falsa. “Quando eu e o meu filho vimos a carrinha ficámos em choque, era tanto sangue. Depois fomos ao hospital para o ver e percebemos que tinha sido muito grave. Estava todo pisado, com tantos ferimentos. Isto agora é para sempre e deu cabo a nossa família”, diz Susana.

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2Crime ocorreu em 2017 numa zona de mato 3Fotografi­a captada após
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1José Neves tem várias limitações 2Crime ocorreu em 2017 numa zona de mato 3Fotografi­a captada após a brutal agressão

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