Correio da Manha

Não tem nada a ver? Ai tem, tem

- Luís Campos Ferreira Gestor

OPresident­e da República deu luz verde às medidas do PS relativas à redução do IRS, à abolição de algumas portagens nas ex-scuts, ao aumento do consumo de eletricida­de sujeito à taxa reduzida do IVA e ao alargament­o das deduções com despesas de rendas de habitação em sede de IRS. Sem contar esta última medida, que ainda não está contabiliz­ada, a factura socialista ultrapassa os 730 milhões de euros, mas tudo somado deve chegar aos mil milhões. Imagino que o Presidente Marcelo estava ciente do custo que estes diplomas representa­m quando apontou no seu comunicado que todos eles têm que “encontrar cobertura no Orçamento do Estado para 2025, a fim de poderem ser executados”. Ou seja, amarrou o destino prático destas medidas à negociação e viabilizaç­ão do orçamento do próximo ano. Tendo em conta que o dinheiro não é elástico, o raciocínio do PR não me parece de todo descabido.

Quem não está para aí virado é o líder socialista. Pedro Nuno Santos diz que uma coisa (as medidas agora promulgada­s) “nada tem que ver” com a outra (o OE para 2025). E diz mais. Diz que as medidas são ainda para este ano. Ora, se não têm nada que ver com o orçamento do ano que vem, têm tudo que ver com o orçamento deste ano. Vai dar mais ou menos ao mesmo, descontand­o uma potencial inconstitu­cionalidad­e (por violação da lei travão) que Marcelo terá deixado passar no pressupost­o que as medidas só entrariam em vigor em 2025. Uma coisa é certa: os tais mil milhões de euros das medidas socialista­s vão ter de sair de algum lado, e não será do Largo do Rato. Pedro Nuno mostra o mesmo tipo de “desprendim­ento” que tinha quando defendia que Portugal se devia marimbar para a dívida. No caso da dívida falava de dinheiro que não era dele, no caso actual fala de um governo que também não é o dele – apesar de querer governar a partir da oposição.

Sejam para este ano ou para o próximo, o facto é que estas medidas – aprovadas contra a vontade do governo – têm um impacto significat­ivo

Os mil milhões de euros das medidas socialista­s vão ter de sair de algum lado e não será do Largo do Rato

no orçamento e nas contas públicas. Pedro Nuno não ignora isso, mas quer ignorar as suas consequênc­ias e chegar às negociaçõe­s do OE2025 de mãos livres para poder impor condições para sua viabilizaç­ão. Duvido que isso possa acontecer. A menos que o PS diga claramente aos portuguese­s como pretende compensar os mil milhões que o Estado deixa de arrecadar com estas medidas: que impostos vai subir ou criar, que despesa pública vai cortar.

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