‘Frente republicana’ varre extrema-direita
SEGUNDA VOLTA Aliança de esquerda foi o bloco mais votado e pode formar Governo minoritário ª DERROTA União Nacional de Marine Le Pen e Jordan Bardella cai de primeira para terceira força política
u O ‘cordão sanitário’ contra a extrema-direita voltou a funcionar em França. A aliança de esquerda Nova Frente Popular venceu ontem a segunda volta das legislativas e, com a ajuda do bloco centrista de Emmanuel Macron, que ficou em segundo lugar, varreu a União Nacional para a terceira posição. Apesar do alívio em França e na Europa, o país prepara-se para um período conturbado, com um Parlamento bloqueado e instável e uma desconfortável coabitação entre o Presidente Macron e a esquerda.
De acordo com as projeções avançadas pelas principais cadeias de televisão ao fecho das urnas, a Nova Frente Popular, que reúne socialistas, verdes e a extrema-esquerda de Jean-Luc Mélenchon, entre outros, deverá eleger 187 a 198 deputados, longe dos 289 necessários para a maioria absoluta. Na segunda posição ficou o bloco centrista Ensemble (Juntos), de Macron, com 161 a 169 lugares, seguido pela União Nacional e aliados, no terceiro lugar, com 135 a 143 deputados, bem longe dos 230 a 280 projetados após a primeira volta, a 30 de junho.
A divulgação das primeiras projeções foi recebida com gritos de alegria e lágrimas
FRENTE DE ESQUERDA E BLOCO CENTRISTA REJEITAM QUALQUER ENTENDIMENTO
de alívio nas sedes eleitorais dos partidos que fazem parte da Nova Frente
Popular. Pelo contrário, na sede da União Nacional, o silêncio era sepulcral e os olhos não conseguiam disfarçar a incredulidade.
A surpreendente reviravolta foi conseguida graças à ‘frente republicana’ criada
pelos partidos da esquerda e do centro, que entre si retiraram mais de 200 candidatos em todo o país para facilitar a vitória do candidato mais bem posicionado para bater a extrema-direita, numa repetição musculada do ‘voto tático’ usado nas últimas presidenciais para impedir a vitória de Marine Le Pen.
Face à vitória da esquerda, o primeiro-ministro, Gabriel Attal, anunciou ontem a sua demissão, cabendo agora ao Presidente, Emmanuel Macron, encarregar o partido mais votado de formar Governo. Será um Executivo minoritário e de capacidade política limitada, já que tanto os líderes da Nova Frente
Popular como o bloco centrista de Macron rejeitam qualquer possível entendimento parlamentar. Isto para não falar que os partidos que fazem parte da nova coligação de esquerda têm agendas próprias e prioridades distintas entre si, o que dificultará ainda mais a governação.