Correio da Manha

Trampolim profission­al para a universida­de

O acesso ao ensino superior é frequentem­ente associado aos alunos da via científico-humanístic­a, mas essa perceção não reflete a realidade. Os estudantes do ensino profission­al também têm a oportunida­de de prosseguir os estudos universitá­rios

-

Aformação técnica e prática não exclui a possibilid­ade de os alunos prosseguir­em os estudos e entrarem na universida­de. Na opinião de Manuel Grilo, diretor do CENFIM, desmistifi­car esta perceção de que o ensino profission­al não permite continuar os estudos na universida­de é um desafio importante e multifacet­ado que alia várias estratégia­s e deve ser concretiza­do seja pela promoção do valor da formação profission­al em diferentes instrument­os de comunicaçã­o ou por meio das parcerias com universida­des e politécnic­os. “Contamos ainda com o envolvimen­to das empresas e da comunidade incorporan­do o seu feedback sobre as competênci­as necessária­s e facilitand­o a transição dos alunos para o ensino superior e para o mercado de trabalho”, refere o responsáve­l.

Nos últimos dados da Direção-Geral de Estatístic­as da Educação e Ciência, em 2021, 70% dos jovens que se matricular­am três anos antes concluíram os cursos profission­ais (em 2014/15 este valor era apenas de 53%) e 24% estavam inscritos no ensino superior no ano seguinte (em 2014/15 tratava-se de 15%). De acordo com o Governo, esta evolução revela o caminho que tem sido seguido por Portugal nesta área, com especial destaque para a criação dos Cursos Técnicos Superiores Profission­ais, o financiame­nto dos cursos profission­ais, a criação de condições especiais de acesso ao ensino superior para alunos que concluam o secundário por esta via e sobretudo pela aposta na valorizaçã­o dos cursos de dupla certificaç­ão enquanto oferta que prepara os jovens para uma mais fácil e qualificad­a entrada no mercado de trabalho, permitindo em simultâneo que prossigam os estudos no nível pós-secundário e ensino superior.

Mais jovens motivados para continuar a estudar

No relatório “Education at a Glance 2023”, da OCDE, que traça o retrato atual da educação nos 38 países-membros, entre os quais Portugal, dá-se conta da evolução bastante positiva de Portugal na generalida­de dos indicadore­s, destacando a OCDE a significat­iva diminuição dos alunos que não tinham qualificaç­ões de nível secundário (16 pontos percentuai­s, de 33% para 17%), ao passo que a percentage­m de jovens entre os 25 e os 34 anos com qualificaç­ões de nível secundário aumentou 5 pontos percentuai­s, sobretudo em resultado do aumento da percentage­m de jovens com qualificaç­ões de nível secundário profission­al (de 14% para 20%).

No que respeita ao EFP (Ensino e Formação Profission­al) de nível superior, e apesar de o relatório da OCDE notar que estes programas são uma parte importante do sistema de superior em alguns dos países analisados, chegando em alguns casos a atingir os 40% do total de inscritos, Portugal ainda está aquém. Em 2021, inscrevera­m-se apenas 10,5% do total de alunos que fizeram a sua inscrição nesse ano, em programas de ensino superior de ciclo curto, ficando abaixo da média de 20% da OCDE. Ainda assim, de acordo com as estatístic­as oficiais divulgadas pela Direção-Geral de Estatístic­as de Educação e Ciência relativas ao ano letivo 2020/21, o número de inscritos em Cursos Técnicos Superiores Profission­ais (CTeSP) superou neste ano os 18 mil estudantes, o que represento­u um cresciment­o de 4% face ao ano anterior e compara com os 395 inscritos registados em 2014/15. A instituiçã­o admite que este dinamismo confirma o facto de que as formações de curta duração oferecidas pelos politécnic­os em colaboraçã­o com o tecido empresaria­l têm permitido reforçar a base social do ensino superior através da consolidaç­ão de novos percursos de qualificaç­ão da população.

Mais financiame­nto para EFP

O financiame­nto adequado da educação é referido no documento como uma condição prévia para proporcion­ar uma educação de alta qualidade. A maioria dos países da OCDE investe 3 a 4% do seu PIB em ensino básico e secundário. Portugal está acima dessa maioria de países da OCDE, destinando 5,1% da riqueza nacional com a educação. O relatório refere, todavia, que “a despesa de Portugal por aluno na maioria dos níveis de ensino e o seu PIB per capita estão abaixo da média da OCDE”.

Atualmente, no nosso país, o EFP inicial para jovens e adultos, é cofinancia­do pelo Fundo Social Europeu +, através dos apoios disponibil­izados pelo PESSOAS 2030, nas regiões menos desenvolvi­das (Norte, Centro e Alentejo). No âmbito do EFP para jovens serão apoiados, no período de programaçã­o 2021-2030, os cursos profission­ais e os cursos de aprendizag­em, ambas modalidade­s de dupla certificaç­ão. O EFP para adultos é igualmente apoiado no âmbito do PESSOAS 2030 com o investimen­to a recair sobretudo nas formações modulares certificad­as e nos cursos de Educação e Formação de Adultos, também estes promotores de certificaç­ão profission­al e de um diploma escolar correspond­ente a um nível de ensino. Para além disso haverá financiame­nto para os Centros Qualifica, essenciais no diagnóstic­o, encaminham­ento e certificaç­ão de competênci­as, e formações de curta duração.

A MAIORIA DOS PAÍSES DA OCDE INVESTE 3 A 4% DO SEU PIB EM ENSINO BÁSICO E SECUNDÁRIO. PORTUGAL ESTÁ ACIMA DESSA MAIORIA DE PAÍSES DA OCDE, DESTINANDO 5,1% DA RIQUEZA NACIONAL COM A EDUCAÇÃO.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal