59 DIAS OU 4 OPORTUNIDADES PARA A RTP FAZER PROVA DE VIDA
O verão de 2024 também se podia chamar o das ‘férias desportivas’: são 4 (na realidade até podem ser 5) os grandes eventos desportivos que decorrem entre 14 de junho e 8 de setembro. Europeu de Futebol, Volta a Portugal em Bicicleta, Jogos Olímpicos e Jogos Paralímpicos. O 5.º evento seria a Volta a França, mas José Fragoso tem medo de copiar o sucesso que Daniel Deusdado obteve quando exibiu o ‘Tour’ no canal 1 e tem escondido a prova na RTP 2. Retiradas as pausas entre os calendários das provas ficam 59 dias. Pode parecer redutor isto de associar eventos desportivos ao sucesso ou fracasso de uma televisão, ainda por cima de serviço público, mas é isso que a RTP tem sido nos últimos anos: a TV do ‘Preço Certo’, da Seleção e de eventos desportivos diversos.
Daqui a pouco começa o Europeu de Futebol (14 de junho a 14 de julho). Longe vão os tempos em que a RTP tinha todos os jogos. Agora partilha-os: no 1.º canal vão passar 12 jogos, sendo que 7 são da fase de grupos e 5 a eliminar. Em tempos, um dia de futebol na RTP era potenciado por uma programação inteligente, articulada com a informação e coerente com o ponto alto do dia: a transmissão do jogo. Era um dos grandes méritos de uma dupla de sucesso na TV pública: Nuno Santos e Hugo Andrade. Quer quando trabalharam juntos nos programas, quer quando tiveram responsabilidades cimeiras na informação e na programação, os dois profissionais criavam autênticos ‘dias temáticos’ que arrasavam a concorrência e fidelizavam audiência. Duvida-se que alguém consiga repetir esses êxitos, muito menos quando José ‘Fracasso’ faz parte da equação.
Ainda durante o Europeu decorre a Volta a França (29 de junho a 21 de julho), que imagino destratada para o 2.º canal, onde brilharão João Pedro Mendonça e Marco Chagas, e de 24 de julho a 4 de agosto será a vez da maior prova velocipédica portuguesa. Em 2023 deixou de existir o programa ‘À Volta’, que acompanhava as etapas. Foi um claro desinvestimento no aproveitamento da proximidade que a itinerância da corrida acrescentava à RTP. É certo que o programa era repetitivo, preguiçoso e sem rasgo, mas assegurava um ‘par estruturante’ com a prova ciclística e dava boas audiências. Como será este ano? Provavelmente mais um tiro ao lado...
Cinco dias depois do fim da Volta começam as Olimpíadas: primeiro os Jogos Olímpicos (26 de julho a 11 de agosto) e logo depois os Paralímpicos (28 de agosto a 8 de setembro), e com eles mais duas oportunidades da RTP mostrar serviço e, sobretudo, de mostrar serviço público. Considero que aquilo que a estação demonstrar ser o seu investimento e a sua atenção aos
Jogos Paralímpicos será um dos comportamentos mais reveladores do seu compromisso com o serviço público. O exemplo da TV inglesa, com a qual os responsáveis da RTP e os acólitos do serviço que ela presta gostam de encher discursos, deve servir, no mínimo, como referência. O Channel Four é um canal que faz parte do serviço público de TV britânico com uma particularidade: não recebe apoios estatais e vive das receitas que cria. Desde 2012 que o canal dedica uma atenção extraordinárias aos Paralímpicos e que se prepara, sempre com 4 anos de avanço, para os jogos seguintes. Nos Jogos de Paris e na sua cobertura o canal quer ir mais longe do que foi em Tóquio, onde 70% dos seus apresentadores, comentadores e especialistas em estúdio eram portadores de necessidades especiais, e repetir o feito dos Jogos de Inverno de 2022, que tiveram uma equipa totalmente constituída assim. Os Paralímpicos transformaram-se num sucesso de audiências e num produto que orgulha a indústria de TV britânica.
Ficarei atenta às práticas da RTP nesta cobertura, sendo certo que legendagem, interpretação em língua gestual e audiodescrição são os ‘mínimos olímpicos’ que se exigem a uma TV que todos pagamos para que não falhe nestes momentos. E mal ficaria quem manda na RTP se tivesse de explicar que considera serviço público destacar meios para assegurar um direto desportivo da etapa inicial do Rali Vodafone e não garantir mais meios e visibilidade aos diretos dos nossos valorosos e merecedores
Heróis Paralímpicos.