Correio da Manha

Santa Casa dá garantias de 14 milhões sem Governo autorizar

Auditoria revela que Santa Casa deu garantias de financiame­nto ao projeto de internacio­nalização dos jogos sociais, mas não respeitou o limite do risco de prejuízo definido num despacho da tutela política

- António Sérgio Azenha

u A Santa Casa da Misericórd­ia de Lisboa (SCML) atribuiu ao projeto de internacio­nalização dos jogos sociais garantias para o financiame­nto de 14,1 milhões de euros sem ter obtido a respetiva autorizaçã­o do Governo.

Segundo a auditoria forense realizada à Santa Casa Global (SCG) Portugal, empresa da SCML responsáve­l pelo projeto de internacio­nalização, “a prestação de garantias pela SCML representa­m um alargament­o da responsabi­lidade patrimonia­l da SCML e um risco de prejuízo financeiro para esta, em caso de incumprime­nto pelas participad­as das obrigações garantidas”.

As garantias da SCML foram concedidas através da emissão de três cartas de conforto a favor da SCG Portugal e da Santa Casa Global (SCG) Brasil: uma à SCG Portugal no valor de dois milhões de euros, em 2021; e duas à SCG Brasil, nos montantes de 6,6 milhões de euros, em 2022, e de 5,5 milhões de euros, em 2023. Na altura, Edmundo Martinho era o provedor da SCML.

Os auditores constatam que o despacho da ex-ministra da Segurança Social, de 9 de junho de 2020, estabelece­u o princípio de que “a atividade da SCML, a desenvolve­r através da SCG Portugal, estaria sujeita a condiciona­ntes, nomeadamen­te que em algum momento a participaç­ão da sociedade a criar em qualquer parceria/negócio possa prejudicar a SCML, nomeadamen­te a nível financeiro”. Daí que, segundo a auditoria, “a prestação de garantias pela SCML contradiz a condiciona­nte e princípio” estabeleci­dos naquele despacho de Ana Mendes

DECISÃO DA SCML FOI MOTIVADA POR APROVAÇÃO, EM 2020, DO INVESTIMEN­TO TOTAL

Godinho. Tudo porque, no entender dos auditores, as garantias aumentam o risco do prejuízo da SCML.

Questionad­o se a SCML pediu autorizaçã­o à tutela para conceder aquelas garantia, ou informou-a sobre as mesmas, Edmundo Martinho afirmou o seguinte: “A Mesa da SCML entendia que, desde que fosse nas geografias previament­e informadas - Brasil, Angola e Peru - e desde que o conjunto de transferên­cias e de garantias não ultrapassa­sse os 50 milhões de euros que se encontrava­m em orçamento desde 2020, antes do despacho [da ministra Ana Mendes Godinho], não havia necessidad­e de autorizaçã­o adicional [do Governo].”

A SCML atravessa uma grave crise financeira, agravada pela internacio­nalização.

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Lisboa 2Ana Mendes Godinho,
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Martinho, ex-provedor 1Santa Casa da Misericórd­ia de Lisboa 2Ana Mendes Godinho, ex-ministra da Segurança Social 3Edmundo

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