Correio da Manha

HERMAN JOSÉ “FAZER RIR É UMA DOENÇA INCURÁVEL QUE EU TENHO”

- POR MIGUEL AZEVEDO FOTOS TIAGO SOUSA DIAS BOA ONDA

Aos 70 anos de idade, humorista recebeu a `Boa Onda' na sua casa em Azeitão para desfiar histórias: o confronto com a PIDE, o assédio no teatro, o amigo Nicolau e os luxos. Em outubro assinala 50 anos de carreira no Campo Pequeno, em Lisboa (dias 4 e 5), e na Super Bock Arena, no Porto (dia 19) omo estão a ser os primeiros dias nesta nova condição de septuagená­rio (fez 70 anos a 19 de março)?

Em mim, por dentro, nada mudou, mas o número tem o seu peso. É inevitável.

E que peso tem afinal?

Tem o peso de nos lembrarmos de quando éramos novos, de quando ouvíamos falar em alguém que fazia 70 anos e achávamos que já estava acabado para a vida. Lembro-me de um familiar que aos 70 ainda tinha o sonho de construir uma casa no campo e de eu achar aquilo um disparate por considerar que o prazo de validade dele estava a acabar [risos]. A noção que temos do número 70 é muito cruel.

Mas essa ficha só lhe caiu agora?

Não. O processo de amadurecim­ento é uma coisa fascinante. Acho que todos devíamos ter a obrigação de ir escolhendo os nossos modelos para perceber que tipo de velho gostaríamo­s de ser. Quando vejo o Anthony Hopkins [ator galês] em casa, descansada­mente, a tocar piano e a cozinhar com os seus 80 anos, penso que é precisamen­te esse tipo de maduro que quero ser. Tirando isso, claro que depois há coisas que não dominamos, como a saúde. Em Portugal há muito poucos artistas e criadores que têm a felicidade de ter vidas suficiente­mente decentes para terem uma velhice descansada. E eu sou uma pessoa que vive muito preocupada com o coletivo. Porque é que eu não sou feliz no Brasil? Porque chego a um bom hotel e vejo-me rodeado de favelas. Apesar de ser filho único nunca fui pessoa de me fechar na minha própria realidade.

“QUANDO COMECEI TINHA UMA CERTEZA: O HUMOR EM PORTUGAL NÃO ME FAZIA RIR”

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