Correio da Manha

O belicismo está no ar Tá lá, é da guerra?

- Rui Zink ruigzink@gmail.com

Obelicismo está no ar, tal como o amor no `Barco do Amor'. Os passageiro­s entram, os heroicos comodoros de bordo saúdam-nos e, se tudo correr bem, no fim do episódio toda a malta se alistou. O belicismo está no ar, urge defendermo-nos de… de quem? Dos russos que vêm aí, dizem. O Putin quer fazer de Portugal a sua segunda Crimeia. Bem, antes de chegarem cá terão de passar pela Espanha, a nossa única verdadeira ameaça ao longo de nove séculos.

Em 1940 o generalíss­imo Franco, amigo de Salazar, nosso vizinho, `nuestro hermano', ponderou invadir Portugal em menos de 48 horas. Era só teoria, mas isso explica muita coisa, nomeadamen­te a lendária reticência dos nossos militares em aprovarem autoestrad­as diretas para Espanha. É que autoestrad­as e vias rápidas não são só boas para dar o salto até França, dão também jeito para invadir, pois tudo na vida dá para os dois lados.

O belicismo está no ar, como outrora, no `Barco do Amor', o amor. A impressão óbvia é que, de ambos os lados do tabuleiro, há um complexo industrial-militar (CIM) a esfregar as mãos de contente com o regresso do maná. Em breve, com sorte, estaremos todos fardados, labutando para “a Defesa da Pátria”, em “Economia de Guerra”, contra a “Eterna Ameaça” da moda.

Há de facto quem lucre com as

Há um complexo industrial-militar a esfregar as mãos de contente com o regresso do maná

Eternas Ameaças e há quem chame um figo a uma sociedade em alerta permanente contra os “Bárbaros às nossas Portas”. E quem disser que isso são só clichés, ideias gastas, frases feitas, forca com ele! Em tempo de guerra não se limpam armas, não há dissidênci­a, colocar em causa a “Grande Narrativa Patriótica” será colocar em causa a própria existência da Pátria.

O único busílis é que, após décadas de paz, não há muita vontade de ir à tropa a bem, além de não haver propriamen­te (ainda) um espírito de “Patriotism­o Europeu”, aliás até há pouco havia a ideia de que a Europa é demasiado próspera e valiosa e sossegada e sabida para ser arrastada para qualquer guerra.

Afinal, se mundo fora os oligarcas e ditadores tiverem cá o dinheiro, a estância balnear e os filhos a estudar, será mesmo do interesse deles invadir-nos e destruir-nos? Não preferirão, sensatos, fazer apenas turismo e proteger a sua propriedad­e cá?

Então, se é inverosími­l virem aí os bárbaros, qual a razão para soarem as trombetas de guerra? Ah, já percebi. Faz parte do teatro.

De guerra.

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