O belicismo está no ar Tá lá, é da guerra?
Obelicismo está no ar, tal como o amor no `Barco do Amor'. Os passageiros entram, os heroicos comodoros de bordo saúdam-nos e, se tudo correr bem, no fim do episódio toda a malta se alistou. O belicismo está no ar, urge defendermo-nos de… de quem? Dos russos que vêm aí, dizem. O Putin quer fazer de Portugal a sua segunda Crimeia. Bem, antes de chegarem cá terão de passar pela Espanha, a nossa única verdadeira ameaça ao longo de nove séculos.
Em 1940 o generalíssimo Franco, amigo de Salazar, nosso vizinho, `nuestro hermano', ponderou invadir Portugal em menos de 48 horas. Era só teoria, mas isso explica muita coisa, nomeadamente a lendária reticência dos nossos militares em aprovarem autoestradas diretas para Espanha. É que autoestradas e vias rápidas não são só boas para dar o salto até França, dão também jeito para invadir, pois tudo na vida dá para os dois lados.
O belicismo está no ar, como outrora, no `Barco do Amor', o amor. A impressão óbvia é que, de ambos os lados do tabuleiro, há um complexo industrial-militar (CIM) a esfregar as mãos de contente com o regresso do maná. Em breve, com sorte, estaremos todos fardados, labutando para “a Defesa da Pátria”, em “Economia de Guerra”, contra a “Eterna Ameaça” da moda.
Há de facto quem lucre com as
Há um complexo industrial-militar a esfregar as mãos de contente com o regresso do maná
Eternas Ameaças e há quem chame um figo a uma sociedade em alerta permanente contra os “Bárbaros às nossas Portas”. E quem disser que isso são só clichés, ideias gastas, frases feitas, forca com ele! Em tempo de guerra não se limpam armas, não há dissidência, colocar em causa a “Grande Narrativa Patriótica” será colocar em causa a própria existência da Pátria.
O único busílis é que, após décadas de paz, não há muita vontade de ir à tropa a bem, além de não haver propriamente (ainda) um espírito de “Patriotismo Europeu”, aliás até há pouco havia a ideia de que a Europa é demasiado próspera e valiosa e sossegada e sabida para ser arrastada para qualquer guerra.
Afinal, se mundo fora os oligarcas e ditadores tiverem cá o dinheiro, a estância balnear e os filhos a estudar, será mesmo do interesse deles invadir-nos e destruir-nos? Não preferirão, sensatos, fazer apenas turismo e proteger a sua propriedade cá?
Então, se é inverosímil virem aí os bárbaros, qual a razão para soarem as trombetas de guerra? Ah, já percebi. Faz parte do teatro.
De guerra.