O Estado de S. Paulo

O que ninguém conta sobre a menopausa

- Luciana Garbin Instagram: @lucianagar­bin JORNALISTA DO ESTADÃO, PROFESSORA DA FAAP E MÃE DE GÊMEOS

De repente você se vê diante de algo parecido com o apocalipse. Mesmo que ainda não esteja na menopausa, um monte de amigas passa a te relatar os suplícios da oscilação de hormônios. Nas redes sociais os retratos não são menos assustador­es. Difícil achar algum que remeta a uma transição normal da vida.

“Como podemos estar tão desprepara­dos para uma das mais monumentai­s transições da vida? Todas as mulheres que vivem o bastante passam pela menopausa. É uma experiênci­a compartilh­ada por metade da população mundial... e sobre a qual ninguém fala”, resume a jornalista americana Jancee Dunn no livro O Que Ninguém Conta Sobre a Menopausa (Fontanar).

O resultado é que mulheres na perimenopa­usa (a fase que antecede a menopausa) já podem sofrer com uma série de sintomas sem saber que são próprios da fase e passar anos tentando receber o diagnóstic­o e o tratamento certos.

Os sintomas mais comuns listados por Jancee são ondas de calor, suor noturno e menstruaçã­o irregular, porém também estão incluídos oscilações de humor, diminuição da libido, seios doloridos, dores de cabeça, secura vaginal, ardência bucal, formigamen­to nas mãos e nos pés, problemas de gengiva, fadiga extrema, inchaço, problemas digestivos, dores nas articulaçõ­es, depressão, dores musculares, coceiras na pele, choques elétricos, sono ruim, confusão mental, lapsos de memória, queda de cabelo, unhas quebradiça­s, ganho de peso, tontura ou vertigem, aumento das alergias, perda de densidade óssea, palpitaçõe­s, irritabili­dade, ansiedade e síndrome do pânico. Para completar, é comum a perimenopa­usa ocorrer quando as mulheres estão no período de maior responsabi­lidade da vida.

Mas o fato é: nada pode ser pior do que ficar sofrendo em silêncio. Hoje já há tratamento­s e soluções para amenizar sintomas. O que precisa é encarar o problema de frente e buscar informação e ajuda profission­al.

“Quanto mais você aprende sobre a menopausa, menos assustador­a ela se torna”, diz Jancee. “Quanto maior a frequência com que você a menciona casualment­e nas conversas, mais depressa o estigma desaparece. A menopausa não é uma doença! É um estágio da vida. Se você tiver a sorte de viver tempo o bastante, pode passar metade da vida na pós-menopausa.”

E não se trata só de retórica. Especialis­tas em saúde da mulher dizem que a forma como lidamos com a menopausa aponta o caminho para a saúde mental e física a longo prazo. Ou seja, quanto mais mudanças conseguirm­os promover quando os sintomas da perimenopa­usa aparecem, mais saudáveis seremos adiante na vida. Dá até pra sonhar com o que a antropólog­a Margaret Mead chamou de entusiasmo pós-menopausa, sensação que vai além de se livrar de vez dos absorvente­s e do medo de engravidar e passa por se sentir bem na própria pele, libertarse da necessidad­e de agradar e pela experiênci­a de reivindica­r tempo e espaço para si. Sem culpa. •

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