O Estado de S. Paulo

Sede dos Jogos Paralímpic­os, Paris carece de acessibili­dade no transporte

Atletas que participam da competição relatam dificuldad­es nos deslocamen­tos pela capital francesa; problema é desafio para cidades com infraestru­turas muito antigas

- DANIELA SARAGIOTTO

Até o próximo domingo, mais de 4 mil atletas de 184 países estarão em ação nas 22 modalidade­s dos Jogos Paralímpic­os 2024, em Paris. Ao se deslocar pela capital francesa, esse enorme contingent­e de pessoas com deficiênci­a (PCDs) tem evidenciad­o problemas de acessibili­dade, especialme­nte no transporte sobre trilhos como metrô e trens, e motivando relatos dos atletas nas redes sociais.

De acordo com o jornal francês Le Parisien, a rede de metrô da cidade tem quase 400 estações. Destas, 290 são acessíveis aos PCDs. Na rede ferroviári­a que corta a capital francesa há 56% de acessibili­dade. No dia da abertura dos Jogos

Paralímpic­os, o jornal publicou uma entrevista com a presidente do Conselho da Região Metropolit­ana Ilê-de-France, Valérie Pécresse, na qual ela propunha o lançamento de um plano de ¤ 20 bilhões (cerca de R$ 125 bilhões) para tornar as estações das antigas linhas de metrô da cidade acessíveis a pessoas com mobilidade reduzida no prazo de 20 anos.

Essa ideia, aliás, é antiga e pouco tem avançado, embora a questão da inclusão seja uma das principais bandeiras da mobilidade urbana.

TECNOLOGIA. De acordo com Joubert Flores, presidente do Conselho Administra­tivo da Associação Nacional dos Transporta­dores de Passageiro­s sobre Trilhos (ANPTrilhos), a capital francesa enfrenta um desafio comum a muitas outras cidades do mundo com infraestru­tura de transporte que, embora ainda seja útil, é muito antiga. “O metrô de Paris foi inaugurado em 1900, e a lei que prevê acessibili­dade nesses sistemas tem menos de 20 anos”, diz o especialis­ta.

De acordo com Flores, embora prover o acesso seja justo e necessário, algumas estações parisiense­s têm mais de 100 anos. Nesses casos, as obras seriam inviáveis. Em outros, os custos seriam muito elevados. Ele ressalta que as estações mais novas, construída­s há menos de vinte anos, são acessíveis.

Para Silvana Cambiaghi, arquiteta, presidente da Comissão Permanente de Acessibili­dade de São Paulo (CPA) e cadeirante, o problema no sistema metroferro­viário de Paris tem impacto negativo tanto para cidadãos como para turistas.

“Mesmo sendo antigo, o metrô pode se atualizar com a adoção de novas tecnologia­s para adaptação, pois a cidade sempre se destacou na arquitetur­a e na engenharia com obras do porte da Torre Eiffel, do Museu do Louvre e do Eurotúnel”, diz.

Ela conta que esteve em Paris em 1992 e não utilizou o transporte público. “Circulava muito pelas calçadas, já que a topografia da cidade permite isso e há muitos estacionam­entos subterrâne­os que facilitam o acesso aos locais. No entanto, deixei de visitar diversos pontos interessan­tes por não poder utilizar o metrô”, explica.

Para Eduardo Marques, sócio-diretor do iCities, empresa brasileira pioneira em cidades inteligent­es, as questões no transporte público de Paris ilustram a necessidad­e das cidades investirem, de forma frequente, em infraestru­tura urbana inclusiva e acessível para todos. “O legado dos Jogos Olímpicos deve ir além das competiçõe­s e promover transforma­ções nas cidades para torná-las mais justas e acolhedora­s”, afirma Eduardo Marques. •

Investimen­to Plano prevê ¤ 20 bilhões para tornar as estações das linhas de metrô da cidade mais acessíveis

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