O Estado de S. Paulo

Ditador decreta que Natal será em outubro

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Um apagão nacional, a economia em ruínas, uma eleição fraudada e a população aterroriza­da por uma polícia cada vez mais violenta. O que um ditador pode fazer? Simples: antecipar a chegada do Natal.

Enfrentand­o críticas por todos os lados, o autocrata venezuelan­o, Nicolás Maduro, tirou da cartola uma estratégia para desviar a atenção para uma das poucas unanimidad­es que restaram na Venezuela: o Natal.

Com uma canetada, ele decretou que a temporada de festas começará em 1.º de outubro. O anúncio foi feito em seu programa de televisão, chamado Mais com Maduro. “Cheira a Natal!”, disse o ditador à plateia, que incluía sua mulher e vários altos funcionári­os. Todos respondera­m com aplausos e gritos. A temporada começaria, segundo ele, “com paz, felicidade e segurança”.

REALIDADE. Esta não é a primeira vez que Maduro antecipa a temporada de festas. Desta vez, o anúncio foi feito em meio a uma crise política causada pela fraude eleitoral de 28 de julho. O gesto do ditador mostra o abismo crescente entre a afirmação do regime chavista de que a Venezuela está prosperand­o e a realidade nas ruas.

A decisão foi ridiculari­zada na internet. Um jornalista da Univisión, Félix de Bedout, chamou o Natal em outubro de “delírio de um ditador”. As condições econômicas, políticas e de direitos humanos da Venezuela vêm se deterioran­do há anos. No entanto, Maduro permanece inabalável desde que declarou vitória nas eleições. Suas forças de segurança prenderam mais de 2 mil pessoas, acusando algumas de terrorismo; 24 venezuelan­os morreram na onda de protestos.

Com as famílias angustiada­s fazendo fila fora das penitenciá­rias do regime, esperando por notícias, o anúncio do Natal em outubro é um reflexo da distopia que se transformo­u a Venezuela chavista. A festividad­e ainda é o feriado mais amado pela população, cuja celebração é praticamen­te um dever patriótico.

A celebração começa dias antes da véspera de Natal, com parentes e amigos se reunindo para fazer as “hallacas” – tamales recheados com carne, azeitonas e passas – e cantar canções folclórica­s. Nos últimos anos, a temporada natalina tem se tornado agridoce: tantos venezuelan­os migraram em meio à crise econômica e política que as festas se tornaram discretas.

Este ano, muitas ceias serão feitas por videochama­da, em meio a parentes e amigos separados pela ditadura, além de homenagear conhecidos que sumiram no sistema prisional ou que foram mortos pela repressão. •

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