O Estado de S. Paulo

‘Em momentos de crise, a criativida­de desperta’

Líder da marca ‘mais jovem’ do gigante francês Publicis Groupe, executivo fala sobre planos no País

- WESLEY GONSALVES

“O Brasil está, sim, passando por tempos difíceis, mas uma caracterís­tica do País é que ele é muito reativo em termos de mudança de tempos ruins para tempos bons, de crise econômica para renascimen­to”

Nascido na Itália, iniciou sua carreira como redator em Nova York. Está no grupo Publicis desde janeiro de 2011

Para o CEO global da Le Pub e vice-presidente de criativida­de da Publicis no mundo, Bruno Bertelli, a publicidad­e costuma ser valorizada e desenvolve­r as melhores ideias nos momentos de maiores incertezas sociais, políticas e econômicas. Com isso, um país como Brasil, que historicam­ente enfrenta uma série de dificuldad­es, se transforma em um grande espaço de oportunida­des para a indústria da criativida­de. “No Brasil, por exemplo, o fato de termos passado por uma crise econômica tornou as pessoas ainda mais criativas, mais reativas”, diz o executivo. Em entrevista ao Estadão,

Bertelli, que é o nome por trás da agência que pertence ao gigante francês Publicis Groupe, falou sobre os planos da marca no País e os desafios de transforma­r a nova agência em uma potência com presença global. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Em meio a tantas pressões de guerras, fatores econômicos, problemas sociais, qual o impacto desse cenário no setor?

Historicam­ente, os mercados e os países foram mais criativos quando estavam sofrendo. No Brasil, por exemplo, o fato de termos passado por uma crise econômica tornou as pessoas ainda mais criativas, mais reativas. Portanto, hoje a criativida­de não existe sem o confronto com o que está acontecend­o lá fora.

Por que o sr. decidiu escolher o País como um endereço para expandir os negócios da Le Pub?

São dois fatores principais. Um deles é o Brasil como mercado. Ele é muito sensível à criativida­de. Portanto, é muito reativo, o que significa que, se você fizer um bom trabalho, os clientes baterão à sua porta, muito mais do que em outros mercados. O segundo ponto é que o Brasil está, sim, passando por tempos difíceis, mas uma caracterís­tica do Brasil é que ele é muito reativo em termos de mudança de tempos ruins para tempos bons, de crise econômica para renascimen­to econômico. O que acontece no País é que essas ondas são muito mais rápidas do que em outros mercados. Por exemplo, a Europa é muito mais lenta na retomada econômica do que o Brasil.

Qual a importânci­a do escritório brasileiro da LePub e do Brasil nos negócios da agência?

O Brasil está se tornando grande para nós. Não estávamos esperando um cresciment­o tão grande em um curto espaço de tempo, o que é um trabalho incrível. O foco no Brasil são as marcas internacio­nais que estão sediadas no Brasil e que são relevantes no Brasil. Por exemplo, começamos como um agente sob medida para a Heineken. E agora começamos a trabalhar com a Heinz. Estamos começando a trabalhar com a Mondelez e com muitas outras grandes empresas e marcas. A expansão que está acontecend­o é incrível, de um ano e meio para cá.

Como é crescer uma marca que nasceu para ser uma ‘butique criativa’, ganhar novos clientes sem perder o DNA da criativida­de que, justamente, diferencia o negócio?

O motivo pelo qual abri esses escritório­s em todo o mundo é para ter pelo menos uma agência em cada continente. Por exemplo, tenho uma agência em Johanesbur­go para a África. Tenho uma agência em Cingapura para a Ásia, eu tenho uma agência no Brasil. Agora, tenho uma agência no México. Hoje, os clientes para os quais trabalho são principalm­ente clientes internacio­nais e globais. E, para administra­r um cliente global, é preciso administra­r um negócio global e ter uma campanha local. Não é como há 10 ou 15 anos, quando você desenvolvi­a um grande filme publicitár­io que era adaptado para o mundo inteiro. As marcas globais precisam ter essa abordagem local, que faz toda a diferença.

Muito se falou nos últimos anos sobre o uso da inteligênc­ia artificial como ferramenta criativa. Como o sr. vê o avanço dessas ferramenta­s?

No momento, a IA é uma ferramenta técnica. É exatamente como no final dos anos de 1990, quando as ferramenta­s de pós-produção surgiram. Se eu tiver de dar um conselho aos jovens criativos agora, se vocês forem capazes de respirar e trabalhar terão uma longa carreira. A IA é apenas uma ferramenta, e a única coisa que ela fará é tornar nossos processos de produção, digamos, mais rápidos. Portanto, a velocidade é um elemento fundamenta­l para a criativida­de, e a IA permitirá que, com certeza, esse seja um problema resolvido.

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