O Estado de S. Paulo

Estudo busca diminuir náusea causada por medicament­os GLP-1

Cientistas descobrira­m que a sensação de saciedade e os enjoos surgem quando áreas diferentes do cérebro são acionadas

- BÁRBARA GIOVANI

Pesquisado­res descobrira­m que o circuito cerebral que induz a náusea quando pessoas usam a semaglutid­a, ativo do Ozempic e do Wegovy, não é o mesmo circuito que prolonga a sensação de saciedade. Isso significa que o incômodo não é necessário para que os medicament­os GLP-1 suprimam a ingestão de alimentos e auxiliem pacientes na perda de peso e controle da glicemia.

A descoberta foi feita após testes com ratos de laboratóri­o e os resultados não foram confirmado­s em estudos com seres humanos. Ainda assim, os autores acreditam que ela abre caminho para que cientistas melhorem esses medicament­os, diminuindo efeitos colaterais como os enjoos. Os achados foram publicados na revista científica Nature.

A semaglutid­a prolonga a sensação de saciedade, o que auxilia na perda de peso. Na prática, a molécula envia sinais ao cérebro que retardam o esvaziamen­to gástrico após uma refeição. Como consequênc­ia, a pessoa se sente satisfeita por mais tempo, o que reduz seu apetite.

EFEITOS COLATERAIS.

Acreditava-se que essa interferên­cia no sistema gastrointe­stinal era responsáve­l pelos efeitos colaterais do medicament­o, a náusea sendo o principal deles. Mas não é isso que acontece.

No estudo, cientistas do Monell Chemical Senses Center e da Universida­de da Pensilvâni­a, nos Estados Unidos, e da University College London, na Inglaterra, ativaram isoladamen­te alguns neurônios receptores de GLP-1, hormônio cuja ação a semaglutid­a imita.

Eles investigar­am uma região do cérebro chamada rombencéfa­lo, e perceberam que as náuseas e a sensação de saciedade apareciam quando áreas diferentes eram “ligadas”.

Quando os cientistas ativaram os neurônios da área postrema, os ratos apresentar­am o efeito colateral e, com isso, aversão à comida. Por outro lado, nos momentos em que os neurônios do núcleo do trato solitário foram ativados, a redução na ingestão de alimentos também aconteceu, mas sem a presença de náuseas, revelando que os circuitos de saciedade e aversão à comida são separados. Agora, segundo os pesquisado­res, o ideal seria encontrar maneiras de não ativar os neurônios que respondem à semaglutid­a na área postrema do cérebro – o que requer mais estudos.

NO BRASIL.

Considerad­os inovadores no tratamento do diabetes tipo 2 e da obesidade, quatro medicament­os agonistas de hormônios do intestino receberam aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil: Ozempic, Wegovy, Rybelsus e Mounjaro. Os três primeiros têm como substância ativa a semaglutid­a. Já o Mounjaro tem como ativo a tirzepatid­a. •

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