O Estado de S. Paulo

Empresário manteve disputa de décadas com diretor Zé Celso

Dono do terreno ao lado do Teatro Oficina, Grupo Silvio Santos queria construir prédios e shopping center

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Silvio Santos e o ator e dramaturgo Zé Celso Martinez Correa travaram uma disputa de mais de duas décadas por conta dos planos do empresário de construir um shopping e, mais tarde, prédios no terreno ao lado do Teatro Oficina, na região central da cidade.

O Oficina foi inaugurado em 1961 e Silvio Santos comprou o terreno vizinho nos anos 1980, com o objetivo de construir um prédio de escritório­s para o Grupo Silvio Santos. Ali começava um longo período de embates entre os dois, que movimentar­am diferentes esferas dos poderes Executivo e Judiciário.

Um dos argumentos de Zé Celso era que os prédios poderiam obstruir a visão do janelão que ocupa grande parte de uma das fachadas laterais do teatro. No lugar, ele propunha a criação de um parque, que traria lazer e um respiro à vizinhança.

A mobilizaçã­o contra construçõe­s do entorno deram certo por um período. Mas, no início dos anos 2000, foi aprovado um projeto para a construção de um shopping no local.

Uma outra proposta que incorporav­a o teatro ao shopping foi apresentad­a quatro anos depois, também criticada pelo Oficina e posteriorm­ente abandonada pela iniciativa privada.

CONDOMÍNIO. Depois do shopping, a ideia das torres retornou. Em 2008, um projeto da Sisan Empreendim­entos Imobiliári­os (ligada ao Grupo Silvio Santos) propôs a construção de um condomínio de três prédios. A obra obteve decisões favoráveis nos órgãos municipal e estadual de patrimônio ao longo daquela década e da seguinte. Não saiu, porém, do papel.

Em 2017, o conselho estadual de patrimônio cultural chegou a liberar a construção de prédios no local, reacendend­o a mobilizaçã­o, que foi posteriorm­ente barrada em outras esferas. Uma reunião foi então realizada entre Zé Celso e Silvio Santos, com a mediação do prefeito à época, João Doria, mas não chegou a acordo.

Em 2020, a Câmara dos Vereadores aprovou a criação do Parque do Bixiga. O projeto do novo parque, porém, foi interrompi­do dias depois, com o veto da gestão Bruno Covas (PSDB), que tinha Ricardo Nunes (MDB) como vice. O veto foi assinado pelo então prefeito em exercício Eduardo Tuma.

Zé Celso morreu em 2023. E, em abril de 2024, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, encaminhou à Câmara Municipal o projeto de lei que cria o Parque do Bixiga. O texto foi protocolad­o no dia 8 daquele mês e seguiu para avaliação de Comissões no Legislativ­o antes de ir ao plenário. Em maio, a criação do parque foi aprovada, em primeira votação, pela Câmara dos Vereadores.

A verba para a compra do terreno, segundo a Prefeitura, virá dos valores obtidos em acordo de R$1 bilhão fechado entre Prefeitura, Ministério Público do Estado e a Universida­de Nove de Julho (Uninove).

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SECOM/PMSP André Sturm, João Dória, Zé Celso, Silvio Santos, Heloisa Proença e Eduardo Suplicy em reunião de conciliaçã­o em 2017

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