O Estado de S. Paulo

Mercado volta a aumentar projeção para PIB

Mediana de alta no 2.º trimestre passa de 0,5% para 0,9%; analistas veem efeito reduzido na economia de enchentes no RS

- • GABRIELA JUCÁ, DANIEL TOZZI MENDES e ANNA SCABELLO

A variação de 1,37% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em junho, acima do esperado, levou o mercado a aumentar suas estimativa­s para o Produto Interno Bruto (PIB) no ano. Pesquisa do Projeções Broadcast mostra que a mediana para o cresciment­o do indicador no segundo trimestre passou de 0,5% para 0,9%; para o ano, foi de 2,2% para 2,4%, na comparação com o levantamen­to realizado em 15 de julho.

O IBC-Br é considerad­o uma “prévia” do PIB oficial, calculado pelo IBGE. Segundo analistas, o avanço em junho confirmou a percepção de que os efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul sobre a atividade foram menos intensos do que o esperado. Esse cenário de aqueciment­o da economia, com possível pressão sobre a inflação, também reforçou em parte do mercado a avaliação de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central poderá retomar o ciclo de alta da Selic (a taxa básica de juros) ainda neste ano.

“Tanto o ‘headline’ do IBCBr quanto as pesquisas setoriais do IBGE mostraram que o efeito do Rio Grande do Sul foi pouco expressivo sobre a atividade”, afirmou o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Daniel Xavier. Em maio, a projeção da casa era de expansão de 0,4%, para o PIB do segundo trimestre, e de 2,2% para o ano. Agora, ambas as estimativa­s foram elevadas: para 0,9% e 2,6%, respectiva­mente.

Xavier atribui as revisões ao efeito positivo do consumo, especialme­nte no setor de serviços, e à força do mercado de trabalho, em um contexto de cresciment­o real (acima da inflação) da renda e da massa salarial. “Tivemos um cresciment­o disseminad­o e os vetores que podiam trazer o PIB para baixo não se materializ­aram.”

Mas o economista também elevou as projeções para a trajetória da Selic neste ano (de 10,50% para 11,25%) e para 2025 (de 9,0% para 9,75%), na esteira de declaraçõe­s de diretores do BC defendendo aperto na política monetária no caso de o IPCA se manter fora da meta. Xavier antevê o início da alta de juros já na próxima reunião do Copom, em setembro, com três elevações de 0,25 ponto porcentual até o fim do ano.

Para a economista-chefe da Galápagos, Tatiana Pinheiro, o resultado mais forte do IBC-Br deverá fazer com que o BC mantenha uma postura cautelosa. “Minha expectativ­a é de manutenção da Selic em 10,5%, mas a economia mais forte e acelerando mesmo na margem deve manter a suspeita do mercado de uma possibilid­ade maior de novo ciclo de alta”, disse.

A Galápagos espera alta de 0,7% para o PIB do segundo trimestre, mas Tatiana reconhece que há possibilid­ade de cresciment­o ainda maior do que o do primeiro trimestre, quando a atividade avançou 0,8% na margem.

Risco Atividade aquecida reforçou percepção de parte do mercado de volta da alta dos juros

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