O Estado de S. Paulo

Nova variante do HIV circula no Brasil, diz estudo

Vírus combina genes dos subtipos B e C, predominan­tes no País; houve registro de 4 casos, na Bahia, Rio e Rio Grande do Sul

- BÁRBARA GIOVANI

Uma nova variante do vírus da imunodefic­iência humana (HIV) está circulando no Brasil, segundo estudo da Universida­de Federal da Bahia (UFBA) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) publicado sexta-feira na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz.

Os pesquisado­res encontrara­m quatro registros do vírus recombinan­te no País, nos Estados da Bahia, Rio e Rio Grande do Sul. Ainda não foram registrada­s infecções por essa variante em outros países.

Segundo o estudo, a nova variante combina genes dos subtipos B e C do HIV, predominan­tes no Brasil, e por isso é chamada de vírus recombinan­te. “O que chama a atenção para o surgimento dessas formas recombinan­tes é a taxa de dupla infecção. Indivíduos estão se contaminan­do e se recontamin­ando”, afirma a bióloga Joana Paixão Monteiro-Cunha, coautora da pesquisa.

Ela explica que, para surgirem variantes como a relatada no estudo, é preciso que dois subtipos se encontrem em um mesmo organismo hospedeiro e se reproduzam, mesclando suas caracterís­ticas genéticas.

Segundo Joana, os vírus recombinan­tes podem ser únicos, quando encontrado­s em um único indivíduo que passou por uma reinfecção, ou ser recombinan­tes viáveis ou circulante­s, quando se tornam versões transmissí­veis. É o caso da nova variante descoberta, batizada de CRF146_BC.

O QUE SE SABE. O vírus recombinan­te foi descoberto em 2019, durante um estudo populacion­al com análise de cerca de 200 amostras de pacientes infectados acompanhad­os no Hospital das Clínicas de Salvador. Após o encontro da variante, os pesquisado­res compararam as informaçõe­s do genoma do vírus com bancos de dados públicos que contêm sequências genéticas de HIV. “Tínhamos ali, nesses bancos de dados, outras três amostras que tinham exatamente a mesma estrutura dinâmica que o vírus encontrado na Bahia.”

Segundo Joana, nenhum dos pacientes identifica­dos é o “paciente zero” da variante, que foi infectado duas vezes por dois subtipos de HIV que se recombinar­am. Os quatro casos já são resultado da transmissã­o da CRF146_BC.

Ainda não se sabe se a variante tem maior transmissi­bilidade ou virulência, ou seja, se progride mais rápido para a fase da doença, a Síndrome da Imunodefic­iência Adquirida (Aids). O estudo só teve acesso ao quadro clínico do primeiro caso descoberto na Bahia e o paciente estava sob tratamento com antiviral, sem indicação de que o vírus recombinan­te era resistente ao medicament­o. Mas Joana ressalta que certas mutações podem alterar essas caracterís­ticas do microrgani­smo. •

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