O Estado de S. Paulo

Campos Neto vê juro alto, mas não ‘exorbitant­e’

Em audiência na Câmara, presidente do BC reforça que vai ‘perseverar’ para colocar inflação dentro da meta

- FERNANDA TRISOTTO CICERO COTRIM

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou ontem que, apesar de os juros no Brasil serem “absurdamen­te altos”, não é possível afirmar que a taxa seja “exorbitant­e”. A declaração foi dada durante audiência da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados.

“Não é possível afirmar que a gente tem uma taxa de juros exorbitant­e, apesar de ter uma inflação muito baixa. Na verdade, a gente tem é uma taxa Selic menor do que a média e uma inflação menor do que a média, ainda mesmo passando por um período de inflação global muito grande”, defendeu ele.

Campos Neto disse ainda que o Brasil está num processo de convergênc­ia de inflação com custo baixo tanto para o emprego quanto para o Produto Interno Bruto (PIB), consideran­do as surpresas positivas do mercado de trabalho e da massa salarial nos últimos meses. “Ainda é verdade que as taxas de juros no Brasil são absurdamen­te altas, isso a gente não discute. O que a gente está querendo mostrar aqui é que, ao longo do tempo, a gente tem sido capaz de trabalhar com taxas de juros mais baixas comparado a outros intervalos na história, tanto na parte real quanto na parte nominal”, disse.

A política monetária seguida hoje pelo BC tem sido alvo constante de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já acusou Campos Neto de ter “lado político” e de “trabalhar contra o País”. A Selic está hoje em 10,5%, e na sua última reunião o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC afirmou que “não hesitará” em elevar a taxa se for preciso.

Esse recado foi endossado em palestra na segunda-feira pelo diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, segundo o qual a alta dos juros está hoje “na mesa” do Copom. Ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda, Galípolo é visto hoje no mercado como o nome mais forte para ocupar o lugar de Campos Neto, que deixará a presidênci­a do BC no fim do ano.

Na audiência de ontem, Campos Neto repetiu que o BC terá de “perseverar” no processo de convergênc­ia do IPCA para a meta, já que o ritmo da desinflaçã­o tem arrefecido no Brasil, e destacou o caráter técnico das decisões da autarquia. “O Banco Central tem atuado de forma técnica e autônoma para cumprir as suas missões”, disse. “Mais recentemen­te, as decisões têm sido todas unânimes no colegiado (do Copom).”

Questionad­o sobre a oscilação no câmbio, respondeu que intervirá no mercado de dólar “se precisar”, mas que até agora não encontrou nenhuma “disfuncion­alidade”. Os números mais recentes, de 2 de agosto, mostram que o BC dispõe de US$ 366,356 bilhões em reservas internacio­nais. No fim de 2023, eram US$ 355,034 bilhões. •

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