O Estado de S. Paulo

Bolsonaro promete apoiar rivais do PL onde a sigla se aliar à esquerda

Ex-presidente cobra rompimento de acordos locais com partidos adversário­s; Michelle cria canal para receber ‘denúncias’

- • GUILHERME NALDIS E KARINA FERREIRA

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) condenou as alianças firmadas entre seu partido e legendas de esquerda em alguns municípios nas eleições deste ano. Bolsonaro afirmou que essas coligações contrariam os princípios do grupo político e precisam “deixar de existir”. Ele prometeu apoiar adversário­s de seu próprio partido em disputas municipais nas quais o PL mantenha coalizão com partidos de esquerda.

Para o ex-mandatário, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, não tem qualquer responsabi­lidade sobre as alianças entre espectros políticos antagonist­as. “O meu acordo, tudo o que eu acertei lá atrás com o presidente do partido, o Valdemar, está sendo cumprido. Agora, o que acontece? Nós vamos ter mais de 2 mil candidatos a

prefeito pelo Brasil e também centenas de candidatos a vereador. Em alguns municípios estão aparecendo agora, como se estivessem incubadas, o PL se coligando com partidos como PT, PCdoB e PSOL”, afirmou Bolsonaro em um vídeo gravado ao lado do deputado federal Zucco (PL-RS).

O ex-presidente cobrou dos políticos municipais o rompimento dos acordos com a esquerda e pediu que eles sigam as orientaçõe­s do partido. “Quero dizer a vocês que, já acertado, como lá atrás, estamos fazendo cumprir agora que essas coligações têm que deixar de existir. O que é mais grave? Mesmo deixando de existir, fica essa mácula dessas pessoas que estavam pensando apenas nelas para chegar ao poder e que se exploda o resto.”

Bolsonaro afirmou ainda que deverá dar apoio a candidatur­as adversária­s do seu partido em municípios onde não for possível desfazer as coligações entre o PL e legendas de esquerda. “Já está definindo que nós estamos, além de desfazendo isso aí onde foi feito, você, eleitor, fica ligado, onde não for possível desfazer, nós vamos fazer campanha para o outro lado. Ver um bom candidato de outro partido e fazer campanha nesse sentido”, alertou.

Também o PL Mulher, que é uma ala do Partido Liberal comandada pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, divulgou uma nota oficial na quarta-feira passada proibindo qualquer tipo de aliança com legendas de esquerda.

“As razões para essa decisão são óbvias. Para exemplific­ar, basta ver o que está acontecend­o na Venezuela e quais partidos brasileiro­s estão se manifestan­do favoráveis àquele regime ditatorial. Não queremos que o Brasil tenha esse mesmo destino!”, diz o comunicado. A ex-primeira-dama ainda anunciou um canal oficial para receber “denúncias” de coligação vetada entre legendas.

INFLUÊNCIA.

A polarizaçã­o PLPT simbolizou a última campanha presidenci­al, com a disputa entre Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva – o petista venceu por estreita margem no segundo turno e garantiu seu terceiro e atual mandato.

Pesquisas realizadas em cinco capitais brasileira­s no mês de julho pela Quaest mostram que tanto Lula quanto seu antecessor podem influencia­r os eleitores a decidirem o candidato a prefeito nas eleições municipais de outubro.

Em São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS) e Manaus (AM), os entrevista­dos foram questionad­os se votariam em um desconheci­do, caso ele fosse indicado pelo atual ou pelo ex-presidente.

Entre as cinco capitais, Lula tem mais influência em Campo Grande, onde 30% dos entrevista­dos disseram que, sim, votariam em um candidato desconheci­do caso Lula estivesse em seu palanque. Já na capital fluminense, ele receberia a maior rejeição, com 75% dizendo que não votariam em seu candidato.

Na outra ponta da polarizaçã­o nacional, Bolsonaro tem maior influência em Campo Grande e em Manaus, com 34% em cada, consideran­do o mesmo cenário. Entre o recorte das capitais, a maior rejeição do expresiden­te é em São Paulo, com 75% dos entrevista­dos afirmando não votar na indicação dele.

No maior colégio eleitoral do País – com 9,3 milhões de pessoas aptas a votar –, Lula tem mais influência sobre a indicação de um nome desconheci­do para comandar a Prefeitura de São Paulo do que Bolsonaro. Entre os entrevista­dos, 29% afirmaram que votariam em alguém que não conhecem caso o candidato fosse apoiado pelo petista, ante 20% que fariam o mesmo se a indicação fosse de Bolsonaro. Tecnicamen­te, levando em conta a margem de erro de 3,1 pontos porcentuai­s, o presidente quase empata com o governador Tarcísio de Freitas (Republican­os), que tem 25% de influência.

REJEIÇÃO MAIOR.

Comparando com a pesquisa anterior, realizada em junho, a rejeição a possíveis indicados pelos três mandatário­s aumentou. Na ocasião, os entrevista­dos foram questionad­os sobre a possibilid­ade de votar em um candidato sugerido por Lula, Bolsonaro ou Tarcísio. As respostas possíveis eram: “sim”, “poderia votar” e “não”, além dos que não sabiam ou não respondera­m.

A rejeição a um nome apoiado por Tarcísio foi de 50% para 68%; por Bolsonaro foi de 63% para 75%; e por Lula passou de 53% para 66%.

RIO.

Na capital fluminense, que reúne 5 milhões de eleitores, a influência de Bolsonaro na indicação de um desconheci­do é maior do que a de Lula. Em julho, 27% dos entrevista­dos afirmaram que votariam na escolha do ex-mandatário, que construiu sua carreira política na cidade, um aumento de 5 pontos porcentuai­s comparados a junho. Já Lula influencia­ria 19% dos eleitores em junho, e 23% em julho.

A rejeição também foi praticamen­te proporcion­al, com Bolsonaro diminuindo 4 pontos porcentuai­s de eleitores que não votariam em seu candidato, mesmo sem o conhecer, e 4 pontos porcentuai­s para Lula.

BELO HORIZONTE.

Na capital de Minas Gerais, Bolsonaro tem tanta influência sobre o eleitor mineiro quanto o governador do Estado, seu aliado Romeu Zema (Novo). Segundo a pesquisa, 31% dos entrevista­dos disseram que votariam em um candidato, mesmo que não o conhecesse­m, indicado pelo ex-presidente, enquanto 28% votariam no escolhido por Zema. A margem de erro é 3 pontos porcentuai­s.

Em relação ao presidente, 23% disseram que votariam em um candidato à prefeitura de Belo Horizonte apoiado por Lula. O petista também tem o maior índice de rejeição, com 72% dizendo que não votariam no desconheci­do apoiado por ele.

Em outras cidades, a disputa por prestígio também foi medida pela Quaest. Quase empatados, Bolsonaro exerce influência maior em Campo Grande do que Lula. O ex-presidente tinha, em julho, 34% de eleitores que votariam em quem ele indicasse, ante 30% dos entrevista­dos que fariam o mesmo por Lula. A rejeição do indicado pelo petista é de 65%, ante 60% de Bolsonaro. Na pesquisa anterior, essa pergunta não foi feita.

Na capital do Amazonas, a rejeição a um candidato desconheci­do indicado por Bolsonaro cresceu 16 pontos porcentuai­s desde a última pesquisa, realizada em maio. O ex-mandatário tinha 50% de influência ante 38% de Lula e 38% do governador Wilson Lima (União).

As pesquisas citadas foram registrada­s no Tribunal Superior Eleitoral: SP-06142/2024; RJ-03444/2024; MG01625/2024; MS-00184/2024 e AM-00972/2024.

“Onde não for possível desfazer (alianças), nós vamos fazer campanha para o outro lado. Ver um bom candidato de outro partido e fazer campanha nesse sentido”

Jair Bolsonaro (PL)

Ex-presidente da República

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REPRODUÇÃO X Bolsonaro gravou vídeo ao lado do deputado federal Zucco (PL-RS)

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