Nunes e Marçal chegam às convenções em disputa por espólio bolsonarista
Prefeito de São Paulo contará com Bolsonaro, Michelle e Tarcísio em convenção; empresário acena ao eleitorado de direita com discurso alinhado ao do ex-presidente
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o empresário Pablo Marçal (PRTB) chegam às convenções partidárias em meio a uma disputa pelo espólio bolsonarista na capital paulista. O evento que vai oficializar a candidatura de Nunes à reeleição está marcado para hoje, no estacionamento da Assembleia Legislativa de São Paulo, na zona sul. Já a convenção de Marçal será amanhã, na Max Arena, zona leste.
Tanto Nunes quanto Marçal estão empenhados em conquistar o eleitorado bolsonarista da cidade. No caso do prefeito, que se autodeclara de centro, a estratégia para atrair os eleitores de direita inclui contar com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em seu palanque. Os dois já confirmaram presença na convenção e há expectativa de que ambos façam discursos. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) também se somará ao pelotão bolsonarista (mais informações nesta página).
A mais recente pesquisa Genial/Quaest, divulgada na terça-feira, indica o impacto da candidatura de Marçal sobre Nunes: o atual prefeito tem 35% das intenções de voto entre os eleitores de Bolsonaro, enquanto o empresário atinge 27% desse segmento, impedindo um crescimento mais expressivo de Nunes.
No eleitorado geral, o prefeito registrou 20% das intenções de voto e está tecnicamente empatado com José Luiz Datena (19%), do PSDB, e Guilherme Boulos (19%), do PSOL. Marçal apareceu com 12%, enquanto Tabata Amaral (PSB), com 5%. Kim Kataguiri (União Brasil) – que desistiu da candidatura – e Marina Helena (Novo) tiveram 3% cada.
Se Datena desistisse da eleição, seus votos seriam distribuídos entre todos os candidatos. A saída de Marçal beneficiaria principalmente Nunes, que alcançaria 33%.
MUDANÇA. A relação de Nunes com o bolsonarismo evoluiu ao longo da pré-campanha. Inicialmente, o prefeito se manteve afastado do ex-presidente e chegou a afirmar que não tinha proximidade com Bolsonaro, como não tem com Lula. Com a entrada de Marçal na disputa, esse quadro mudou, e Nunes passou a fazer mais gestos em direção ao bolsonarismo, na tentativa de evitar o desembarque do ex-presidente da futura coligação.
O aceno mais significativo foi aceitar a indicação do ex-comandante da Rota, o coronel da reserva da Polícia Militar Ricardo de Mello Araújo (PL), como vice, algo que resistia a fazer. A sugestão para incluir o coronel na chapa foi de Bolsonaro. Até a definição do vice, Nunes e aliados tentaram explorar outras opções para a chapa, como o ex-ministro Aldo Rebelo (MDB) e a vereadora Rute Costa (PL), mas nenhuma dessas alternativas agradou a Bolsonaro.
CABO ELEITORAL. Tarcísio foi o responsável por anunciar a escolha de Mello Araújo como vice na chapa do prefeito. O coronel é filiado ao PL, enquanto Tarcísio é do Republicanos. Entre os bolsonaristas, Tarcísio tem se mostrado o mais engajado na campanha de Nunes. O governador transferiu seu título eleitoral de São José dos Campos para São Paulo para votar no prefeito. Como mostrou a pesquisa Quaest, Tarcísio desponta como melhor cabo eleitoral que Bolsonaro na capital paulista.
Além de ceder na vaga de vice, Nunes adotou um discurso mais alinhado ao de Bolsonaro. Na sabatina promovida pelo
site UOL e pelo jornal Folha de S.Paulo, o prefeito negou que o 8 de Janeiro tenha sido uma tentativa de golpe de Estado e defendeu a presunção de inocência nas investigações envolvendo Bolsonaro.
Embora Bolsonaro tenha declarado apoio a Nunes na eleição, sua participação na précampanha do prefeito foi discreta, após um encontro com o ex-presidente, publicou uma foto no Instagram segurando a medalha de “imbrochável, imorrível e incomível”.
Em junho, quando ganhou a medalha, Marçal esteve em Brasília e se encontrou com o ex-presidente e outros líderes para falar sobre seu pleito à capital paulista. “Tem alguns anos que eu queria ganhar (a medalha). Tem muitos anos que a gente pede proximidade, poucos amigos dele têm”, declarou Marçal, na ocasião. “Bolsonaro é um cara que tem o princípio declarado, conservador, Nunes não tem nada parecido com isso.”
No mês passado, Bolsonaro usou sua lista de transmissão no WhatsApp para enviar a aliados um vídeo de Marçal no qual o empresário o defende no caso das joias.
A estratégia de Marçal incomoda parte dos bolsonaristas. Há duas semanas, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) criticou o que chamou de “recorte malicioso” que Marçal fez de uma entrevista sua ao jornal Gazeta do Povo.
“Ele seleciona apenas os trechos onde eu comento sobre a parte positiva a respeito dele, removendo as ressalvas que fiz. No final, digo: ‘É mais ou menos por aí que eu escolheria meu candidato’, e esse trecho dá a entender que eu votaria nele, quando na verdade eu me referia a todo o contexto (parte negativa e positiva)”, disse Eduardo. “Sobre meu voto em São Paulo, adianto que votarei no candidato apoiado por Jair Bolsonaro: Ricardo Nunes.” •