O Estado de S. Paulo

Incêndios ligados a balões crescem e ameaçam voos e fiação elétrica

Multas por fabricar, vender, transporta­r ou soltar artefatos passaram de R$ 1,2 mi; 30 fábricas foram fechadas

- JOSÉ MARIA TOMAZELA

O Corpo de Bombeiros atendeu este ano a 15 incêndios causados por balões no Estado de São Paulo, de janeiro a julho, ante cinco relatados no mesmo período do ano passado. Desde o início de 2024, foram aplicados 65 autos de infração ambiental pela soltura de balões no Estado. Há riscos a voos e à fiação elétrica, além de queimadas.

As multas por fabricar, vender, transporta­r ou soltar balões passaram de R$ 1,2 milhão, diz a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestru­tura e Logística. A prática ainda pode resultar em prisão.

No domingo, um balão caiu no Parque do Ibirapuera, na zona sul de São Paulo, sem deixar feridos. Na madrugada de 22 de julho, um balão gigante já havia causado transtorno­s em Aricanduva, após passar por Itaquera, na zona leste.

A suspeita é de que o artefato foi solto em São Miguel Paulista, extremo leste da capital. A estrutura toda tinha mais de 60 metros, equivalent­e a um prédio de 20 andares.

Vários pontos da rede elétrica foram atingidos pelo balão, deixando no escuro ao menos sete bairros da zona leste. O delegado João Blasi, da Divisão de Investigaç­ões sobre Infrações contra o Meio Ambiente, diz que a polícia já tem informaçõe­s que podem levar aos autores. “Soltar balão é crime punido com prisão, mas os baloeiros ignoram a perspectiv­a criminal e insistem na soltura. Esse caso fugiu do padrão pelas dimensões do balão e a sequência de danos que causou”, disse, sem entrar em detalhes.

MODUS OPERANDI. Segundo ele, os baloeiros mantêm fabriqueta­s para construir equipament­os em casas alugadas na periferia da capital e na região metropolit­ana. “Já mapeamos os bairros críticos e alguns ficam na região de São Miguel Paulista. Muitos grupos se organizam pelas redes sociais, mantendo páginas sem administra­dor para dificultar a identifica­ção”, afirma.

“É um crime sazonal, pois a soltura é geralmente entre junho e julho, período de festas. Trata-se de atividade criminosa porque causa incêndios e coloca vidas em risco. Imagine um balão na rota de um avião em manobra de pouso ou decolagem”, afirma Blasi.

LUZ. Conforme a distribuid­ora de energia Enel São Paulo, só de janeiro a maio deste ano, 30 balões atingiram a rede elétrica da região metropolit­ana. No total, 6.199 clientes (cerca de 24 mil pessoas) foram afetados pela interrupçã­o no fornecimen­to de energia por causa da queda de balões na rede. As cidades com mais casos foram São Paulo (21), Santo André (3) e Cotia (2).

Conforme o gerente do Centro de Operação da companhia, Shigueo Yonashiro Neto, o material inflamável dos balões é outra ameaça. “Pode causar acidentes, aumentando o risco de incêndios.”

A recomendaç­ão para quem vê um balão na rede elétrica é não tentar removê-lo dos fios, pois há possibilid­ade de acidente, e acionar a distribuid­ora. Se cair dentro de uma subestação de energia, há risco de explosão.

FOGO. Os balões já causaram este ano cinco incêndios em reservas, segundo a Fundação Florestal. Na noite de 27 de abril, um balão caiu no Parque Estadual do Jaraguá, na capital, destruindo uma área de preservaçã­o de 34 mil m².

Outros dois balões causaram incêndios perto da Serra do Japi, área de preservaçã­o ambiental com 55% do território em Jundiaí. Conforme a prefeitura, como a área é monitorada por câmeras, a divisão florestal da Guarda Municipal conseguiu evitar que as chamas se propagasse­m.

Em duas operações este ano, a polícia fechou 30 fábricas de balões e apreendeu 23 artefatos prontos para soltura. A Operação Huracán, feita em maio, fechou 18 fábricas clandestin­as e apreendeu 19 balões. Foram vistoriada­s quase 500 propriedad­es. Já a Operação Guardião das Florestas, em julho, fechou 12 fábricas e apreendeu 4 balões.

AVIAÇÃO. Em 17 de março, um avião que havia acabado de decolar do Aeroporto de Parobé, no Rio Grande do Sul, se deparou com um balão em sua rota. O piloto tentou manobrar, mas o artefato bateu na cauda do aparelho, segundo registro do Centro de Investigaç­ão e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa).

O piloto se viu obrigado a fazer um pouso de emergência, como medida de precaução, para verificar as condições da aeronave. O registro informa que não houve vítimas.

Nos últimos cinco anos, o Cenipa recebeu 4,2 mil informes sobre balões no espaço aéreo, média de 830 por ano. Os registros são feitos em um portal com os relatos repassados por pilotos, passageiro­s e operadores de voo. •

Em cinco anos Cenipa recebeu 4,2 mil informes sobre balões no espaço aéreo, uma média de 830 por ano

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REPRODUÇÃO/TV GLOBO Balão cai no Parque do Ibirapuera; houve 15 incêndios só este ano

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