Com a Selic a 10,5% e sinais de alta da inflação, renda fixa mantém vantagem
Alguns gestores veem exagero na alta dos juros futuros e recomendam ativos prefixados; outros preferem pós-fixados
Com a Selic mantida em 10,5% e as projeções do Banco Central (BC) de alta das expectativas de inflação, a renda fixa segue ocupando espaço importante na carteira dos investidores. Os títulos pós-fixados, atrelados à Selic ou ao CDI, como o
Tesouro Selic e os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), são considerados oportunidades. Além de liquidez diária (possibilidade de resgate a qualquer momento), são ativos que não sofrem com as oscilações de mercado.
Considerando a Selic atual, de 10,5o% ao ano, essas aplicações têm rendimento nominal de 0,8% ao mês – com perspectiva de subir em setembro, a partir de uma possível nova alta do juro pelo Banco Central.
Os ativos pós-fixados isentos, como Letras de Crédito do Agronegócio e Letras de Crédito Imobiliário (LCAs e LCIs), chamam ainda mais a atenção. O fato de não sofrer descontos de Imposto de Renda (IR) faz com que o investidor consiga maior rentabilidade líquida nessas aplicações. O ponto de atenção é em relação à liquidez.
“Esses ativos isentos são mais indicados para investidores com prazos superiores a nove meses (para o resgate), período mínimo para cumprir as carências dessas modalidades de investimentos”, diz Ana Paula Carvalho, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital. Ela explica que LCIs e LCAs que pagam acima de 85% do CDI já costumam ser mais vantajosas que os CDBs que oferecem 100% do CDI.
Os prefixados e IPCA+, papéis atrelados à inflação, mas que têm uma taxa prefixada, também estão atrativos. Hoje, prefixados pagam acima de 11% ao ano, enquanto IPCA+ oferecem acima de 6% de retorno real – acima da variação da inflação. Contudo, vale lembrar que esses ativos sofrem efeitos de marcação a mercado. Ou seja, o preço dos papéis varia conforme as mudanças nas expectativas econômicas.
Em termos gerais, quando a perspectiva para os juros e inflação sobem, prefixados e IPCA+ desvalorizam e vice-versa. Para fugir dessa volatilidade, o investidor deve manter o papel até o vencimento contratado. Já para quem tem mais apetite a risco, pode ser o momento de tentar ganhar com essa volatilidade.
“Em caso de melhora na resposta do governo (com queda das expectativas para juros e inflação) em relação ao comprometimento nas finanças, podemos ter bons retornos na marcação a mercado dos títulos”, diz Carlos Magno Chareta, analista de investimento da Unicred.
PERSPECTIVAS. Na outra ponta, há quem veja atualmente um “exagero” na alta dos juros futuros, o que abre oportunidades principalmente nos prefixados. Assim, a intenção é segurar as “taxas” no atual nível.
“Achamos exagerada essa precificação e, portanto, temos recomendação do prefixado. Preferimos vencimentos mais curtos, abaixo de dois anos, e o governo como emissor. Ou seja, títulos públicos do Tesouro. Mas os ativos bancários prefixados também são boas opções, como CDB, LCIs e LCAs”, diz Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos.
Ana Paula, da AVG Capital, aponta rendimentos interessantes nos prefixados, mas recomenda uma alocação pequena na carteira, porque é um título que tende a ser mais volátil do que aqueles atrelados à inflação. “Já os ativos atrelados ao IPCA são indicados para os prazos mais longos, superiores a dois anos. Esses papéis protegem o investidor das variações da inflação, já que parte da remuneração do título é corrigida pelo IPCA”, afirma a especialista da AVG.
“Ativos isentos são mais indicados para investidores com prazos superiores a nove meses (para resgaste)” Ana Paula Carvalho
AVG
“Os ativos bancários prefixados também são boas opções, como CDB, LCIs e LCAs” Beto Saadia
Nomos
BOLSA. Com as perspectivas de juros mais altos por mais tempo e dólar em disparada, a Bolsa deve continuar sofrendo. Os analistas apontam empresas com receita na moeda americana, como exportadoras, como as principais oportunidades do momento. “Olhando para um cenário de descontrole do câmbio, eu prestaria a atenção em empresas de commodities, como Vale, Gerdau, Prio e Petrobras”, afirma Lucas de Caumont, gestor de investimentos e sócio da Matriz Capital Asset. “Um setor que se prejudica nesse cenário é o de varejo, que continua defasado.” •