O Estado de S. Paulo

Duplo assassinat­o amplia risco de escalada

- PATRICK KINGSLEY É JORNALISTA

O duplo assassinat­o pode permitir que Netanyahu reivindiqu­e uma vitória simbólica

Durante quase 10 meses de guerra em Gaza, todos evitaram arrastar a região para um conflito de várias frentes. Agora, os ataques no Líbano e no Irã criaram um dos maiores desafios a esse equilíbrio desde o início dos combates. O assassinat­o de Fuad Shukr, em Beirute, foi o primeiro de Israel contra um líder tão influente do Hezbollah. Horas depois, o ataque a Ismail Haniyeh foi considerad­o uma violação descarada das defesas do Irã. A importânci­a dos alvos, a localizaçã­o sensível dos ataques e sua quase simultanei­dade foram interpreta­das como uma escalada provocativ­a. Com isso, a região teme uma resposta do Irã e de seus aliados, o Hezbollah,

os houthis e as milícias no Iraque. A intensidad­e dessa reação pode determinar se as batalhas regionais se transforma­rão em um conflito total.

ACORDO. Analistas disseram que a morte de Haniyeh, o principal negociador do Hamas, também tornou menos provável um cessar-fogo em Gaza. Os israelense­s esperavam que a morte dele extraísse mais concessões do grupo. Mas outros disseram que era improvável que o Hamas fosse afetado. “Haniyeh é substituív­el”, disse Joost Hiltermann, diretor do Internatio­nal Crisis Group.

Para o Irã, o ataque em seu território foi constrange­dor, mas não catastrófi­co, porque teve como alvo um hóspede estrangeir­o, em vez de altos funcionári­os iranianos, segundo Andreas Krieg, do King’s College, de Londres. “O cálculo estratégic­o dos iranianos não mudou”, disse.

O Hezbollah enfrenta mais pressão para reagir do que o Irã, porque o ataque a Beirute atingiu um de seus próprios comandante­s, e não um aliado, de acordo com Michael Stephens, especialis­ta do Foreign Policy Research Institute.

O duplo assassinat­o também poderia proporcion­ar uma saída para a guerra, permitindo que o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, reivindiqu­e uma vitória simbólica, dando espaço para recuar em Gaza e concordar com um cessar-fogo.

Mas Netanyahu ainda pode evitar isso se acreditar que uma trégua faria seu governo entrar em colapso: sua coalizão conta com legislador­es de extrema direita que ameaçaram abandonar a aliança se a guerra terminar sem a derrota total do Hamas. •

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