Duplo assassinato amplia risco de escalada
O duplo assassinato pode permitir que Netanyahu reivindique uma vitória simbólica
Durante quase 10 meses de guerra em Gaza, todos evitaram arrastar a região para um conflito de várias frentes. Agora, os ataques no Líbano e no Irã criaram um dos maiores desafios a esse equilíbrio desde o início dos combates. O assassinato de Fuad Shukr, em Beirute, foi o primeiro de Israel contra um líder tão influente do Hezbollah. Horas depois, o ataque a Ismail Haniyeh foi considerado uma violação descarada das defesas do Irã. A importância dos alvos, a localização sensível dos ataques e sua quase simultaneidade foram interpretadas como uma escalada provocativa. Com isso, a região teme uma resposta do Irã e de seus aliados, o Hezbollah,
os houthis e as milícias no Iraque. A intensidade dessa reação pode determinar se as batalhas regionais se transformarão em um conflito total.
ACORDO. Analistas disseram que a morte de Haniyeh, o principal negociador do Hamas, também tornou menos provável um cessar-fogo em Gaza. Os israelenses esperavam que a morte dele extraísse mais concessões do grupo. Mas outros disseram que era improvável que o Hamas fosse afetado. “Haniyeh é substituível”, disse Joost Hiltermann, diretor do International Crisis Group.
Para o Irã, o ataque em seu território foi constrangedor, mas não catastrófico, porque teve como alvo um hóspede estrangeiro, em vez de altos funcionários iranianos, segundo Andreas Krieg, do King’s College, de Londres. “O cálculo estratégico dos iranianos não mudou”, disse.
O Hezbollah enfrenta mais pressão para reagir do que o Irã, porque o ataque a Beirute atingiu um de seus próprios comandantes, e não um aliado, de acordo com Michael Stephens, especialista do Foreign Policy Research Institute.
O duplo assassinato também poderia proporcionar uma saída para a guerra, permitindo que o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, reivindique uma vitória simbólica, dando espaço para recuar em Gaza e concordar com um cessar-fogo.
Mas Netanyahu ainda pode evitar isso se acreditar que uma trégua faria seu governo entrar em colapso: sua coalizão conta com legisladores de extrema direita que ameaçaram abandonar a aliança se a guerra terminar sem a derrota total do Hamas. •