No Pará, prefeito usa búfalos e ‘pessoas do bem’ contra o crime
Uma cidade ribeirinha a sudeste da Ilha de Marajó tem uma guarda civil municipal única no mundo pela forma como trabalha. Em Muaná (PA), o patrulhamento é auxiliado por búfalos. Os animais servem a uma tropa reforçada por moradores, “pessoas do bem” escolhidas pela prefeitura para ações de prevenção e repressão a crimes que vão da pirataria e do tráfico de drogas ao abuso sexual de crianças e adolescentes.
Apesar da peculiaridade dos búfalos, a Guarda de Muaná é uma síntese do fenômeno da municipalização da segurança pública no País. Diante de desafios complexos, gestores municipais têm buscado protagonismo na pauta da violência. Para tanto, em vários casos, recorrem a improvisos que solucionam demandas e geram dividendos eleitorais, mas acabam criando outros problemas.
Muaná tem 45 mil habitantes distribuídos por um território 2,4 vezes maior que o da cidade de São Paulo. Não foge à regra da região onde impera crônica miséria – e, ao mesmo tempo, inigualável patrimônio cultural e ambiental. É um típico lugarejo onde tudo gira em torno da prefeitura, mais de 75% da população demanda benefícios sociais e a política é marcada pela briga ferrenha entre famílias rivais.
Para proteger o vasto território, a prefeitura reúne 51 guardas, uma viatura, duas motos, duas lanchas e dois búfalos na estrutura da segurança pública. A tropa de Muaná mistura guardas efetivos, vigilantes convertidos em guardas e cidadãos comuns contratados temporariamente. O grupo é composto por homens e mulheres com idades entre 23 e 71 anos. Dos 51, só 17 são concursados. O restante são comerciantes, catadores de açaí, pescadores de camarão, mecânicos, uma técnica em enfermagem ou jovens recém-saídos da escola.
CURSO. Eles passaram por um “curso básico” oferecido pela Guarda de Belém, receberam fardamento e foram às ruas cumprir escalas em um projeto da gestão atual que ganhou corpo em 2022. Não usam arma de fogo, só a de choque e spray de pimenta. Mas lidam com tudo: tráfico de drogas, violência doméstica, briga de bar e patrulha escolar.
O prefeito Biri Magalhães (PSD) admitiu que o modelo de contratados não é o ideal e que entre seus planos para os próximos anos, caso seu grupo permaneça no poder, está a realização de concurso público. “Um dos nossos objetivos, se a gente conseguir vencer a eleição, é o concurso para a Guarda Municipal. Aí a gente consegue efetivar”, afirmou.
O candidato à sucessão é o seu próprio filho, Birizinho (PSD). O trabalho da guarda virou um ativo para a campanha. “Nas pesquisas, a segurança pública sempre vem muito cobrada. Com a presença da guarda, a gente tem recebido muitos elogios”, declarou o prefeito. •
V.V.
Guarda de Muaná, no Pará, lida com tráfico de drogas, pirataria, violência doméstica e abuso sexual