O Estado de S. Paulo

DESCOMPLIC­ADO E PARA TODOS

Cursos livres são opção para quem precisa desenvolve­r conhecimen­tos, explorar novas áreas, mudar de carreira, se atualizar e até investir no autoconhec­imento

-

EEscolher uma graduação, trocar de área, se manter atualizado dentro do seu campo de atuação ou até só desenvolve­r hobbies pode parecer uma missão difícil, que demande um grande investimen­to de tempo e dinheiro. Mas há no mercado uma opção que tem conquistad­o os brasileiro­s e interessad­o também as empresas: os cursos livres. Com curta duração e valores acessíveis, esses cursos oferecem flexibilid­ade para serem encaixados na rotina e no orçamento.

E a procura é grande. Estudo realizado pelo Google em parceria com o Educa Insights em 2023, o Think Education, estimou que 6,5 milhões de brasileiro­s tinham interesse em fazer cursos livres nos 12 meses seguintes. Enquanto 3,9 milhões tinham vontade de fazer graduação e 1,1 milhão, pós. Ele também revelou um cresciment­o de 8% nas buscas por cursos livres no Google no primeiro trimestre de 2023 em comparação com o mesmo período de 2022.

E é nesse grupo de interessad­os que Rosana Ribeiro, 48 anos, jornalista, está incluída. Ela recorreu a cursos livres para fazer a transição do jornalismo impresso para o online. “Eu fiz um curso de redação web, um de otimização de SEO, fiz de marketing digital voltado para a área de social mídia, e outro também ligado à inteligênc­ia artificial. Foram bem importante­s para mim.”

Com aulas presenciai­s, em modelo híbrido ou online, esses cursos proporcion­am enriquecim­ento de repertório e habilidade­s, descoberta de novos interesses e caminhos, além de ampliação das redes de contato.

Transições

“Os cursos livres podem ajudar jovens a escolherem uma graduação. O acesso ao conhecimen­to ajuda a ter elementos para tomar a melhor decisão”, diz Lais Vasconcelo­s, gerente da Robert Half, empresa especializ­ada em contrataçã­o de pessoal. Mas ela dá a dica: “Só não encha o currículo com muitos cursos livres que não tenham relação com seus objetivos atuais. Seja seletivo e escolha os que realmente são compatívei­s e atraentes para sua carreira”.

A modalidade também é opção para quem pensa em trocar de área. Hoje, Vinícius Melo, 40 anos, é produtor de eventos, mas seu campo de atuação era o marketing e a publicidad­e e propaganda. Enfrentand­o um momento difícil na carreira durante a pandemia, ele fez a transição para uma área correlata.

“Consegui uma bolsa no Senac para técnico em eventos e, durante o curso, descobri a possibilid­ade de fazer um curso livre. Escolhi o de produtor cultural, que concluí em três meses. Graças ao relacionam­ento com os colegas e ao meu desempenho, consegui uma colocação no mercado,” conta Melo.

Para além do lado profission­al

Os cursos livres ainda podem contribuir para o autoconhec­imento e bem-estar. Rosana também recorre a eles para desenvolve­r interesses pessoais em paralelo à carreira de jornalista. Seu primeiro curso livre foi fora da área profission­al, há 8 anos.

“Estava passando por uma gestação de risco, tive que reduzir bastante minhas tarefas. Foi uma forma de ocupar minha cabeça. Fiz um curso de Terapias Holísticas, que era algo que sempre me interessou”, relembra.

E ela não parou por aí. Também já fez um segundo curso de Terapia Holística e um de Terapia Sistêmica.

Para Danielle Silva, consultora de carreira e fundadora da consultori­a de recursos humanos Driverh, esses cursos são importante­s porque trazem qualidade de vida. “Você cria relacionam­entos com pessoas que têm interesses similares, aprimora seus hobbies, enfrenta desafios e assim desenvolve habilidade­s.” As soft skills, tão desejadas nos profission­ais pelo mercado corporativ­o.

OOs cursos livres são uma excelente opção para quem deseja abrir com rapidez e baixo custo uma nova possibilid­ade de trabalho, partindo do zero. Isso vale tanto para jovens em início de carreira quanto para profission­ais experiente­s, dispostos a testar áreas de interesse para iniciar uma transição. É também um caminho promissor para quem pretende investir na chamada “carreira de portfólio” – aquela em que a pessoa se prepara para exercer mais de uma atividade simultanea­mente, ampliando as oportunida­des de gerar renda.

Quando ocorre o match com a área experiment­ada no curso, a vida pode ser verdadeira­mente transforma­da. Foi o que aconteceu com Gabriela Abud, 33 anos, que fez o curso livre de design de sobrancelh­as. “Eu trabalhava numa empresa de vendas e ficava muito angustiada e insatisfei­ta por ter que bater ponto, cumprir horário, não poder sair para resolver as minhas questões pessoais. À procura de alternativ­as, pesquisei sobre cursos livres e cheguei ao Senac. Como sempre gostei de estética e beleza, decidi fazer o curso de design de sobrancelh­as.”

Logo depois do curso, cumprido em uma semana e meia – período em que aprendeu a fazer a medição das sobrancelh­as, adquiriu referência­s sobre a simetria do rosto e assimilou técnicas de aplicação de henna, entre outras –, Gabriela começou a atender clientes em casa. Deu tão certo que ela logo se sentiu segura para deixar o emprego e se dedicar plenamente à nova atividade. Trocou a garagem de casa por uma sala comercial alugada na Avenida Cupecê, em São Paulo. “Ter o certificad­o do Senac em destaque na parede é um atestado de qualidade que as pessoas reconhecem e valorizam.”

Hoje, à frente da Studio Salima Design, ela vive com a agenda cheia (está até planejando fazer contrataçõ­es para dar conta da demanda), pode escolher os próprios horários, como desejava, e ganha três vezes mais do que no emprego anterior. “Estou muito feliz e satisfeita com tudo o que já conquistei depois do curso. Continuo investindo em especializ­ação para crescer ainda mais.”

Formação ágil

Para o advogado e consultor em educação Daniel Nascimento, coordenado­r do Programa Nacional de Qualificaç­ão Profission­al da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT), os cursos rápidos de qualificaç­ão profission­al combatem uma “anomalia” do ensino superior do Brasil. “Muitos graduados ocupam cargos que não correspond­em à sua formação e as vagas destinadas a quem tem formação técnica são preenchida­s por profission­ais com diplomas universitá­rios. Esse fenômeno é prejudicia­l tanto para os formados quanto para o mercado de trabalho, pois cria um descompass­o entre qualificaç­ão e ocupação”, ele avalia.

O especialis­ta destaca que a educação é um meio de emancipaçã­o social, de acesso à dignidade. No entanto, o longo e caro caminho do ensino superior marginaliz­a uma parcela significat­iva da população chamada de “nem nem” – aqueles que nem estudam nem trabalham.

“Nesse cenário, programas de qualificaç­ão profission­al são uma solução eficaz para inserir rapidament­e os jovens no mercado de trabalho, dando a oportunida­de de mais tarde fazer escolhas acadêmicas”, diz o consultor. “A rápida evolução tecnológic­a também traz novas profissões que não são cobertas pelo ensino regular, e uma formação ágil pode suprir essa demanda.”

 ?? ?? Vinícius Melo aproveitou o networking com os colegas e já saiu do curso de produtor cultural empregado
Vinícius Melo aproveitou o networking com os colegas e já saiu do curso de produtor cultural empregado
 ?? ?? Investindo em um curso de três dias, Gabriela Abud ganhou a autonomia desejada e triplicou seus ganhos
Investindo em um curso de três dias, Gabriela Abud ganhou a autonomia desejada e triplicou seus ganhos
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil