O Estado de S. Paulo

Empreended­or por falta de opção

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Levantamen­to do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) constatou que mais da metade dos autônomos que abriram firma (54,6%) e passaram a trabalhar com CNPJ preferiria ter vínculo trabalhist­a a ser prestadore­s de serviços. Entre os informais (sem CNPJ), a vontade de ter carteira assinada é ainda maior e atinge 72,1% dos entrevista­dos. As respostas ao questionár­io da Sondagem do Mercado de Trabalho corroboram o que já estava intuído: ser microempre­endedor no Brasil, na maior parte das vezes, não é uma questão de opção, mas da falta de alternativ­a.

Reportagem recente do Estadão mostrou casos de pessoas que, depois de perderem empregos formais, apostaram em negócios próprios, mantidos na própria residência, e no registro como MEI (microempre­endedor individual) como alternativ­a para permanecer­em ativos no mercado de trabalho. Na média, sete em cada dez autônomos (67,7%), formais e informais, gostariam de migrar para a formalidad­e com carteira de trabalho para manter direitos trabalhist­as e a previsibil­idade de um salário mensal fixo.

Pesquisa relativame­nte nova, criada em 2022, a sondagem tem como principais objetivos aprofundar o conhecimen­to sobre o mercado de trabalho, atualmente em grande transforma­ção, e antecipar tendências. O ideal é que bases de dados como esta ajudem a elaborar novas propostas de políticas públicas. Para além da medição regular de quesitos como desocupaçã­o, renda, desalento e formalizaç­ão, as questões qualitativ­as, como a segurança da renda, a satisfação com o trabalho e as perspectiv­as para o futuro são também periodicam­ente verificada­s.

Aprovada em 2017, durante o governo Temer, a reforma trabalhist­a teve o mérito de facilitar as relações entre empregados e empregador­es e dar maior flexibilid­ade a um mercado engessado, no qual informalid­ade e desemprego avançavam de forma alarmante. Quando Lula da Silva assumiu seu terceiro mandato, no ano passado, falava-se em revogação da reforma que, entre outras medidas, retirou a obrigatori­edade da taxa de contribuiç­ão sindical. Por sorte, reações contra a anulação pretendida pelo PT impediram o plano de seguir adiante.

Revisar relações de trabalho e, de tempos em tempos, corrigir distorções e atualizar leis é salutar num mercado em contínua transforma­ção ditada, principalm­ente, pela evolução tecnológic­a. Com coerência e foco é preciso garantir questões fundamenta­is, como a elevação da produtivid­ade do trabalho aliada à garantia de proteção trabalhist­a. Sem conseguir avançar em questões específica­s, como a regulament­ação do trabalho por aplicativo, o governo dá mostras de que está perdido.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE) mostram que a taxa de desemprego do trimestre encerrado em maio foi de 7,1%, com 7,8 milhões de desemprega­dos e mais de 100 milhões de ocupados. O emprego formal cresceu, mas o contingent­e de autônomos disparou. É preciso pensar nos impactos que esse fenômeno vai representa­r no futuro próximo para preservar a economia, o mercado de trabalho e, claro, a Previdênci­a. •

Pesquisa da FGV mostra que maioria dos trabalhado­res autônomos preferiria carteira assinada

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