Qualificação necessária
Tenho 74 anos, sou médico, formado em 1976 pela Unesp de Botucatu e me contraponho, aqui, à visão equivocada apresentada pelo ex-deputado federal Paulo Delgado sobre a abertura de novas faculdades de Medicina no País (Menos médicos, menos SUS,
Estadão, 13/7, A4). A posição das entidades representativas dos médicos contra a abertura de novas faculdades de Medicina não tem nada que ver com “(aqueles) que veem a medicina como clube de elite, privado”, mas vem daqueles que têm verdadeiras preocupações com o futuro da formação médica. As novas faculdades de Medicina são o novo filão de dinheiro explorado por grandes empresários do sistema de educação que buscam lucros exorbitantes neste novo ramo de negócio. Matricular-se num curso de Medicina em entidade privada não é para qualquer um, as mensalidades são exorbitantes e a qualidade do ensino é baixa na maioria das vezes. Novas faculdades de Medicina serão bem-vindas se, no mínimo, estiverem localizadas em regiões deficientes de assistência médica; tiverem hospitais próprios, com leitos em número suficiente para atender a população e propiciar um aprendizado médico adequado a seus alunos; contarem com professores qualificados e bem pagos e oferecerem postos de saúde à população da região de sua abrangência, entre outros quesitos que contribuam de forma efetiva para a melhora da saúde em geral. O SUS provou seu valor durante a pandemia de covid, demonstrando ser fundamental para atender a população do País. Com certeza, precisa de melhorias, e para tanto necessita de que nossos governantes encarem o problema de forma séria, objetiva, sem politicagens baratas e com um programa de Estado na busca de soluções efetivas. Não traz nenhum benefício à população termos milhares de médicos que mal sabem verificar uma pressão arterial, fazer uma ausculta cardíaca/pulmonar, apalpar um abdômen ou diferenciar diagnósticos por meio de um bom exame clínico. Médicos mais qualificados, melhor governança, melhor SUS. Marcelo de Carvalho Braga
São Paulo