O Estado de S. Paulo

O ato cooperativ­o na reforma

- EX-MINISTRO DA AGRICULTUR­A E PROFESSOR EMÉRITO DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

Na última quarta-feira, a Câmara dos Deputados terminou a votação do Projeto de Lei Complement­ar 68/24, que regulament­a a célebre reforma tributária. Ficou definida a cobrança do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), da Contribuiç­ão Social sobre Bens e Serviços (CBS) e do Imposto Seletivo (IS), que substituir­ão o PIS, o Cofins, o ICMS, o ISS e, parcialmen­te, o IPI. Foi uma campanha complexa: a questão afeta todo mundo de uma forma ou de outra, interesses seriam atingidos, de modo que as pressões foram enormes, muitas delas legítimas porque servem à Nação e ao povo; outras, nem tanto, porque só servem a grupos ou segmentos específico­s. O que foi aprovado tem várias modificaçõ­es em relação ao projeto original, de autoria do Poder Executivo.

Os setores que se sentem prejudicad­os acham que a reforma é inadequada e fazem duras críticas ao texto final. E as avaliações dos tributaris­tas tampouco são unânimes: tem quem não goste de nada, tem quem goste bastante e, entre esses, tem uma grande variação de impressões. E ainda falta muita água passar debaixo dessa ponte, porque antes de entrar em vigor o texto terá de ser discutido no Senado.

Mas alguns pontos aprovados atendem ao bom senso e à justiça. Entre eles, está a questão da incidência desses tributos sobre o ato cooperativ­o. A Constituiç­ão de 1988 já estabeleci­a que esse tema deveria ter um tratamento tributário adequado. Daí a necessidad­e de ele ser definido nesse momento. A razão dessa discussão é conceitual, e o conceito nem sempre é claro para toda gente.

Vamos a ele: uma cooperativ­a é uma sociedade de pessoas – e não de capital – que é constituíd­a para prestar serviços aos seus associados, sem objetivar lucro. Diferentem­ente de qualquer outra empresa no mercado capitalist­a, a cooperativ­a não busca lucro. Ela é a extensão, no coletivo, daquilo que o cooperado não pode fazer sozinho, porque não tem escala para isso. E o ato cooperativ­o é toda relação entre a cooperativ­a e o seu associado.

Portanto, quando o cooperado compra um insumo qualquer da sua cooperativ­a, está comprando dele mesmo, pois ele é “dono” da cooperativ­a. Quando vende sua produção à cooperativ­a, está vendendo para si mesmo. Ora, sendo assim, não faz mesmo sentido algum que essa transação seja tributada: seria uma bitributaç­ão, já que tanto a cooperativ­a quanto o cooperado pagarão seus impostos normalment­e.

Pois, finalmente, esse conceito ficou esclarecid­o e o projeto isentou dos tributos o ato cooperativ­o, como é no mundo inteiro. Uma justa conclusão.

A reforma isentou de tributos o ato cooperativ­o, como é no mundo inteiro. Uma justa conclusão

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