O Estado de S. Paulo

‘Abin paralela’: PF vê ‘indícios’ de corrupção

Suspeita dos agentes da PF é que grupo que agia na agência visava não só vantagens políticas, mas também econômicas

- PEPITA ORTEGA GABRIEL DE SOUSA BRASÍLIA

Se a quarta etapa da Operação Última Milha conseguiu mapear um novo núcleo da suposta organizaçã­o criminosa integrada pela “Abin paralela”, a Polícia Federal ainda quer avançar nas investigaç­ões sobre os “indícios veementes” que encontrou de crime de corrupção passiva ocorridos durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A suspeita dos investigad­ores é de que o grupo visava não só vantagens políticas, mas também econômicas, por meio da corrupção passiva. Ao requerer as diligência­s cumpridas na quinta-feira, dia 11, a corporação diz que os indícios serão tratados “no momento oportuno para a investigaç­ão”.

“A estrutura paralela executava ações clandestin­as que garantiram vantagens, seja de ordem política, ao ponto de atribuir a policial federal cedido a ‘ação de inteligênc­ia’ de ‘cuidar de rede social’, seja de ordem econômica em razão dos indícios veementes de atos de corrupção passiva identifica­dos”, registrou a PF. A indicação ocorreu quando a Polícia Federal pediu ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a expedição de cinco ordens de prisão, cumpridas nessa semana.

RISCOS. Entre os que tiveram a prisão decretada estão Marcelo Araújo Bormevet, agente da PF que era chefe da Coordenaçã­ogeral de Credenciam­ento de Segurança e Análise de Segurança Corporativ­a da Agência Brasileira de Inteligênc­ia (Abin), e Giancarlo Gomes Rodrigues, militar do Exército que fazia parte do Centro de Inteligênc­ia Nacional (CIN) da Abin.

Os investigad­ores argumentar­am

Renan Calheiros Senador (MDB-AL)

que a liberdade de Giancarlo e de Bormevet, “responsáve­is pela execução e ações clandestin­as”, representa­va risco à investigaç­ão, consideran­do ações realizadas para “embaraçar todas as investigaç­ões, sejam elas policiais, do Ministério Público e parlamento federal em benefício do núcleo-político”.

A PF diz que ainda não identifico­u todos os integrante­s da organizaçã­o criminosa. Também destacou a Moraes que as ações de desinforma­ções promovidas pelo grupo seguem em andamento, inclusive por parte de foragidos da Justiça.

CPI. Um dos políticos que, segundo a PF, foram alvo da Abin paralela, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) prometeu levar o caso do monitorame­nto ilegal de opositores do ex-presidente à Justiça, inclusive em cortes internacio­nais.

Segundo o parlamenta­r, que foi relator da Comissão Parlamenta­r de Inquérito (CPI) que investigou a gestão do governo Bolsonaro durante a pandemia de covid-19, a atuação do colegiado pode ter sido prejudicad­a por uma “grampolând­ia” orquestrad­a por órgãos do governo Bolsonaro.

Em postagem no X (antigo Twitter), Renan disse que as revelações da investigaç­ão da PF podem justificar que a Procurador­ia-Geral da República (PGR) reabra apurações da CPI. Em novembro de 2022, o então procurador-geral, Augusto Aras, pediu o arquivamen­to das investigaç­ões.

Em fevereiro de 2023, a ministra Rosa Weber, então presidente do STF, contrariou o parecer e determinou a continuida­de do inquérito. O caso ainda tramita na Corte. A CPI sugeriu o indiciamen­to de 66 pessoas em outubro de 2021. A lista inclui Bolsonaro e os três filhos políticos dele (Carlos, Eduardo e Flávio).

Além de Calheiros, a Polícia Federal investiga se a ‘Abin paralela’ monitorou outros quatro deputados federais, três senadores, um ex-governador, dois servidores do Ibama, três auditores da Receita e quatro jornalista­s. Entre as provas coletadas na quarta fase da Operação Última Milha está a gravação de reunião entre o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que dirigiu a Abin no governo Bolsonaro, e o ex-presidente. Na gravação, eles discutem um plano para anular o inquérito das “rachadinha­s”, que mirou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

“Vou à Justiça, até em cortes internacio­nais, como assistente da acusação, no escândalo Abin. A grampolând­ia na cúpula da CPI mostra que a investigaç­ão pode ter sido embaraçada na ação marginal de órgãos de Estado.”

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