O Estado de S. Paulo

Bolsonaris­tas ignoram ações da PF e querem superbanca­da anti-STF

Parlamenta­res têm deixado a defesa do ex-presidente de lado e apostado no ataque a Lula, cobrando as promessas de 2022

- GUILHERME CAETANO A COLUNISTA ELIANE CANTANHÊDE ESTÁ DE FÉRIAS

Às vésperas da disputa eleitoral de 2024 e se estruturan­do para a corrida de 2026, aliados de Jair Bolsonaro (PL) têm apostado na estratégia de ignorar as diversas frentes de investigaç­ão da Polícia Federal (PF) contra o ex-presidente, enquanto atacam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Poder Judiciário.

Nesta semana, o bolsonaris­mo foi atingido por dois movimentos da PF, o levantamen­to do sigilo no caso das joias sauditas – pelo qual o ex-presidente foi indiciado — e a nova operação no caso da Abin Paralela.

Esses temas foram evitados pela maioria dos deputados e senadores do PL, até para defender o governo Bolsonaro. Os bolsonaris­tas no Congresso têm apostado em duas principais frentes de comunicaçã­o. De um lado, atacar o Judiciário em razão da manutenção das prisões de acusados dos ataques às sedes dos três Poderes, em 8 de Janeiro. Do outro, desgastar o governo federal ao defender que a inclusão das carnes na cesta básica da reforma tributária só ocorreu por meio de articulaçã­o da oposição, lembrando que Lula prometeu em 2022 que o brasileiro voltaria a consumir “picanha e cervejinha”.

Na bancada de 99 deputados do PL, além de Eduardo Bolsonaro (SP), só Carla Zambelli (SP), Júlia Zanatta (SC), José Medeiros (MT), Hélio Lopes (RJ) e Daniel Freitas (SC) foram às redes para criticar a investigaç­ão da PF. No Senado, Bolsonaro teve apoio do filho Flávio, além de Marcos do Val (Podemos-ES), Jorge Seif (PL-SC) e

Eduardo Girão (Novo-CE).

REAÇÃO. Um deputado federal da tropa de choque do ex-presidente disse, sob reserva, que muitos dos correligio­nários têm se ressentido com a falta de reciprocid­ade na defesa de Bolsonaro, e que, por isso, têm preferido ficar quietos sobre o cerco ao líder. Eles veem o ex-presidente como alguém que não se arrisca para defender os aliados e se sentem abandonado­s quando precisaram de apoio em meio a investigaç­ões da polícia. Por isso, têm preferido atacar Lula e Moraes e desviar do noticiário contra Bolsonaro.

“Vai ter carne na cesta básica graças à atuação do PL”, escreveu a deputada Bia Kicis (PLDF) sobre a aprovação da reforma tributária. O deputado Mario Frias (PL-SP) foi na mesma linha e disse que “no final das contas, quem bancou a picanha foi o Partido Liberal”. Nikolas Ferreira (PL-MG) preferiu atacar Moraes: “Covarde. O que tem de cabelo tem de honra”.

Em chats bolsonaris­tas no WhatsApp e no Telegram, os usuários têm abordado o tema como mais uma perseguiçã­o ao ex-presidente e prova de supostos abusos de Moraes. As diversas investigaç­ões contra Bolsonaro podem alimentar um sentimento de vingança. Nos bastidores, senadores do grupo defendem foco total do PL em eleger uma superbanca­da no Senado em 2026 para contra-atacar o Supremo Tribunal Federal (STF).

A estratégia é lançar em cada Estado pelo menos dois nomes competitiv­os do bolsonaris­mo, atrelados um ao outro, na eleição para a Casa em 2026. Como haverá renovação de até dois terços e o eleitor poderá votar em dois nomes para senador, a ideia é pregar voto duplo no bolsonaris­mo e eleger uma grande quantidade de candidatos.

O Senado é estratégic­o para o bolsonaris­mo – a Casa pode pautar o impeachmen­t de ministros do STF. Moraes é o principal alvo desse projeto. Enquanto isso, algumas lideranças já colocaram em prática um calendário de manifestaç­ões para esquentar a pauta anti-STF. No próximo domingo, a Avenida Paulista deve ser palco de um ato, com presença de parlamenta­res. As pautas são o impeachmen­t de Lula e Alexandre de Moraes, anistia aos presos do 8 de Janeiro e contra a descrimina­lização do aborto. “A ideia é fazer uma manifestaç­ão por mês, e naturalmen­te novas lideranças vão surgindo para a eleição de 2026, diz a deputada Carla Zambelli.

“Covarde. O que tem de cabelo tem de honra”

Nikolas Ferreira Deputado federal

“Vai ter carne na cesta básica”

Bia Kicis Deputada federal

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