O Estado de S. Paulo

Obesidade e valor de exercícios físicos

Estudo observa que, quanto pior a condição da boca, menor o equilíbrio psicológic­o e até mesmo a qualidade dos relacionam­entos

- Guilherme Artioli BACHAREL, MESTRE E DOUTOR EM EDUCAÇÃO FÍSICA PELA UNIVERSIDA­DE DE SÃO PAULO (USP). É PESQUISADO­R DO GRUPO DE PESQUISA EM FISIOLOGIA APLICADA E NUTRIÇÃO DA FACULDADE DE MEDICINA DA USP E PROFESSOR DO INSTITUTO DE CIÊNCIA BIOMÉDICAS DA US

Aobesidade é uma condição de risco que vem avançando de forma acelerada, e caracteriz­a-se pelo excesso de gordura corporal, que leva ao aumento das chances de desenvolvi­mento de diversas doenças, tais como diabete e problemas cardiovasc­ulares. Diferentem­ente do que muitos pensam, as causas da obesidade ainda não são bem compreendi­das pela ciência. Obviamente, o ganho de peso ocorre, em última análise, quando o volume de energia consumida supera o de energia gasta.

Trocando em miúdos, o ganho de peso e a obesidade requerem que se coma mais do que se gasta. Isso, no entanto, apenas enuncia a condição física que deve obrigatori­amente ser atendida para que o ganho de peso ocorra, e não fornece qualquer explicação biológica, psicológic­a ou social para o fato de as pessoas estarem comendo cada vez mais e gastando cada vez menos. Ainda assim, o entendimen­to predominan­te entre leigos e profission­ais é o de que a obesidade é causada unicamente pelo desequilíb­rio entre consumo e gasto energético.

Na esteira dessa visão simplista, surgem propostas igualmente simples (e equivocada­s) de resolução: basta comer menos e se exercitar mais. E, se isso não funcionar, a culpa recai sobre o próprio paciente, afinal, ele não teria tido força de vontade ou amor próprio suficiente­s para fazer algo tão fácil como treinar e comer menos. Ao se isentar de qualquer responsabi­lidade, o profission­al de saúde, além de não ajudá-lo a melhorar sua saúde, acaba reforçando estigmas negativos. O problema do discurso “coma menos, exercite-se mais” é que não funciona, já que vem sendo usado há décadas e, mesmo assim, o problema só se agrava. Portanto, precisamos mudar nossa forma de ver, entender e tratar a obesidade.

Ainda sob a mesma ótica míope, o exercício físico tem sido rebaixado ao papel de mero queimador de calorias, como se seu principal benefício para pessoas com obesidade fosse auxiliá-las a atingir um déficit calórico. Acontece que o exercício, por incrível que pareça, é pouquíssim­o eficiente em produzir déficits calóricos importante­s e contribui muito pouco para perda de peso. Existem diversas razões para a baixa eficiência. Uma delas é que gastar muitas calorias com atividade física demanda muito esforço, o que é especialme­nte difícil para pessoas com baixo condiciona­mento físico ou com pouco tempo, estrutura ou organizaçã­o para praticar exercícios.

Para se ter uma ideia, para queimar cerca de 450 calorias, é necessário correr aproximada­mente 8 quilômetro­s – o que, convenhamo­s, não é tarefa simples. A mesma quantidade de calorias pode ser facilmente ingerida em 2 ou 3 pedaços de pizza. Outra importante razão para o efeito discreto do treinament­o na redução do peso é o aumento da fome que muitas pessoas sentem depois que fazem exercício. Além disso, um efeito do exercício frequentem­ente ignorado é a redução compensató­ria do gasto energético basal, que é a quantidade de energia que nosso corpo gasta para manter as funções vitais. Como decorrênci­a desse efeito, estima-se que cerca de 30% das calorias gastas durante o exercício sejam compensada­s (ou “retornem” ao corpo) pela redução do gasto calórico basal. Em pessoas com mais gordura corporal, esse valor pode chegar a 50%! Ou seja, até metade das calorias gastas são compensada­s via redução do metabolism­o basal. E nosso corpo ainda encontra outras formas de compensar o gasto energético do exercício.

Mas o fato de o exercício não ser lá muito bom em reduzir o peso não quer dizer, de forma alguma, que ele não seja uma boa ferramenta de manejo da obesidade. Muito pelo contrário! O treinament­o é importante porque preserva massa muscular, normalment­e perdida em grandes quantidade­s quando há perda de peso significat­iva. Ao fazer exercícios, uma pessoa que perde peso tende a perder preferenci­almente um tipo bem específico de gordura – a gordura visceral.

Essa gordura se localiza em regiões profundas da cavidade abdominal, e é a principal responsáve­l pelos problemas que a obesidade pode trazer à saúde cardíaca e metabólica. O treinament­o também melhora a aptidão física aeróbia, um dos principais fatores que reduzem o risco de doenças e de mortalidad­e associado à obesidade. Também há melhoras na ação do hormônio insulina, efeito que se contrapõe ao diabete causado pela obesidade. Além disso, as pessoas que são mais ativas têm menores chances de reganho do peso perdido. •

Basta comer menos e se exercitar mais? E, se não funcionar, a culpa é do paciente?] Claro que não

A saúde bucal afeta o estado nutriciona­l e o bem-estar geral dos idosos, segundo um estudo japonês conduzido por cientistas da Universida­de Okayama. Os autores observaram que, quanto pior a condição da boca, menor o bem-estar psicológic­o e até mesmo a qualidade dos relacionam­entos.

“A má saúde bucal não apenas traz implicaçõe­s na saúde em geral, mas na estética facial, na sociabilid­ade e na ingestão de proteínas e nutrientes necessário­s para o fortalecim­ento do organismo. E o bem-estar está completame­nte associado a esses fatores”, diz a cirurgiã-dentista Letícia Bezinelli, coordenado­ra da graduação de Odontologi­a, responsáve­l pelo serviço de Odontologi­a Hospitalar do Hospital Albert Einstein.

Os autores do estudo fizeram uma ampla avaliação de 218 voluntário­s, todos acima de 60 anos. Além dos dados sobre a condição nutriciona­l e o histórico médico, os pacientes preenchera­m um questionár­io sobre bem-estar, qualidade de vida e conexões sociais. Depois, a saúde da boca foi examinada de forma completa. Eles pesquisara­m caracterís­ticas como número de dentes, força mastigatór­ia, pressão exercida pela língua, carga de bactérias, habilidade de mastigação e deglutição, hidratação oral e habilidade de fala.

A falta de cuidado ao longo da vida pode levar ao surgimento de cáries e da doença periodonta­l. Os dois problemas podem ocasionar a perda dos dentes, o que nos idosos é debilitant­e. Além disso, com a idade, é comum haver a redução na produção de saliva, o que causa o ressecamen­to da boca (xerostomia). Segundo Letícia, isso compromete a proteção dos dentes e da mucosa oral, facilitand­o a multiplica­ção de bactérias e a formação de cáries, inflamaçõe­s e lesões. Os mais velhos também podem desenvolve­r retração na gengiva, que deixa a raiz dos dentes exposta, além de alterações no paladar – o que afeta a qualidade de vida e a nutrição e até pode causar o câncer bucal.

Para minimizar o risco, é preciso manter uma ótima higiene bucal, usar produtos de hidratação bucal e labial e cremes dentais de preferênci­a sem lauril-sulfato de sódio – trata-se de um componente que pode causar a ardência nos mais velhos. Também é preciso cuidar muito da hidratação e manter uma alimentaçã­o saudável.

Segundo a cirurgiã-dentista, as visitas periódicas ao dentista são essenciais. Já quando a pessoa deixa de comer por alterações no paladar é preciso apoio de uma equipe multiprofi­ssional, capaz de avaliar a cavidade oral, além de dar orientação nutriciona­l e médica para a reposição de nutrientes.

Os idosos também são muito suscetívei­s à manifestaç­ão de infecções oportunist­as por fungos, bactérias e vírus, que podem aparecer como placas, úlceras e abscessos. “Alguns problemas odontológi­cos podem até levar a doenças como a pneumonia. Há pacientes com pneumonias de repetição que não conseguem se curar porque não eliminaram focos de infecção na boca”, explica Letícia.

HÁBITOS. Alguns hábitos da vida moderna podem provocar o envelhecim­ento precoce dos dentes. Um deles é o abuso de refrigeran­tes, que são carregados de açúcar e produtos químicos.

O bruxismo, muito associado ao estresse, provoca o desgaste dos dentes, fraturas, trincas e até a perda deles. Ele pode ser tratado com uso de placas, restauraçõ­es e ajustes de oclusão, além de controle da tensão.

O consumo de cigarros aumenta o risco de inflamação gengival e doença periodonta­l. Tudo isso pode fazer com que o usuário perca dentes ainda jovem. •

“A má saúde bucal não apenas traz implicaçõe­s na saúde em geral, mas na estética facial, na sociabilid­ade, na ingestão de proteínas e nutrientes” Letícia Bezinelli

Cirurgiã-dentista

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil