Entidade europeia cria nova forma de avaliar a obesidade, além do IMC
Fatores como impacto funcional e psicológico do peso, além da circunferência abdominal, devem ser levados em conta
A Associação Europeia para o Estudo da Obesidade (Easo, em inglês) apresentou na sexta, na revista científica Nature Medicine, um novo consenso sobre obesidade. Pela proposta, o Índice de Massa Corporal (IMC) deixa de ser considerado isoladamente no diagnóstico e estadiamento da doença em adultos europeus e passa a dividir o protagonismo com aspectos como circunferência abdominal e impacto funcional e psicológico do peso.
O novo documento reforça o que outras entidades já indicaram: uma fórmula simples (dividir o peso pela altura ao quadrado) não basta para avaliar a obesidade, atualmente compreendida como uma enfermidade crônica, multifatorial e caracterizada pelo acúmulo anormal ou excessivo de gordura.
Ter IMC igual ou superior a 30 kg/m² continua sendo indicativo de obesidade em adultos, mas não só. “Pessoas com IMC acima de 25, hoje com diagnóstico de sobrepeso, podem ser diagnosticadas com obesidade se tiverem relação cintura/quadril alterada”, diz Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).
O mesmo ocorre com aqueles que, com IMC acima de 25, têm uma proporção cintura/altura maior do que 0,5 e qualquer deficiência ou complicação médica, funcional ou psicológica. Um exemplo: um homem de 1,80 m, com 95 cm de cintura, 85 kg e colesterol alto, atualmente visto como caso de sobrepeso, passa a ser paciente com obesidade na Europa.
Outros aspectos de destaque do documento são considerar pontos de corte específicos por etnia para o IMC; realizar avaliações sistemáticas do estado médico, funcional e psicológico; e avaliar sintomas depressivos e transtornos do comportamento alimentar.
ACOMPANHAMENTO. Para especialistas, o consenso ainda avança ao defender que qualquer pessoa com obesidade possa realizar exames regulares para cânceres relacionados à doença e ter acompanhamento prolongado em caso de cirurgia bariátrica, avalia Márcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
No Brasil, pessoas submetidas a bariátricas pelo Sistema Único de Saúde contam com dois anos de atendimento multidisciplinar, explica Mancini, e há relatos de que obesos têm suas queixas menosprezadas. “Uma pessoa com dor nas costas vai ao médico e ele pede exames. Uma pessoa com obesidade vai ao médico e ele fala que a dor é decorrente do peso, dá um analgésico e manda embora”, diz Mancini.
O consenso europeu pode reforçar o movimento de especialistas brasileiros para minimizar a importância do IMC e individualizar o tratamento. A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e a SBEM já propõem que a obesidade seja classificada a partir do histórico de peso. “Individualizar metas de tratamento, tendo como objetivo melhorar a saúde e a qualidade de vida, está presente nos dois documentos (das entidades)”, afirma Bruno Halpern, presidente da Abeso. •
Mudança de conduta
Pessoas hoje tratadas como casos de sobrepeso podem passar a receber diagnóstico de obesidade