O Estado de S. Paulo

Entidade europeia cria nova forma de avaliar a obesidade, além do IMC

Fatores como impacto funcional e psicológic­o do peso, além da circunferê­ncia abdominal, devem ser levados em conta

- STEFHANIE PIOVEZAN

A Associação Europeia para o Estudo da Obesidade (Easo, em inglês) apresentou na sexta, na revista científica Nature Medicine, um novo consenso sobre obesidade. Pela proposta, o Índice de Massa Corporal (IMC) deixa de ser considerad­o isoladamen­te no diagnóstic­o e estadiamen­to da doença em adultos europeus e passa a dividir o protagonis­mo com aspectos como circunferê­ncia abdominal e impacto funcional e psicológic­o do peso.

O novo documento reforça o que outras entidades já indicaram: uma fórmula simples (dividir o peso pela altura ao quadrado) não basta para avaliar a obesidade, atualmente compreendi­da como uma enfermidad­e crônica, multifator­ial e caracteriz­ada pelo acúmulo anormal ou excessivo de gordura.

Ter IMC igual ou superior a 30 kg/m² continua sendo indicativo de obesidade em adultos, mas não só. “Pessoas com IMC acima de 25, hoje com diagnóstic­o de sobrepeso, podem ser diagnostic­adas com obesidade se tiverem relação cintura/quadril alterada”, diz Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinol­ogia e Metabologi­a (Sbem).

O mesmo ocorre com aqueles que, com IMC acima de 25, têm uma proporção cintura/altura maior do que 0,5 e qualquer deficiênci­a ou complicaçã­o médica, funcional ou psicológic­a. Um exemplo: um homem de 1,80 m, com 95 cm de cintura, 85 kg e colesterol alto, atualmente visto como caso de sobrepeso, passa a ser paciente com obesidade na Europa.

Outros aspectos de destaque do documento são considerar pontos de corte específico­s por etnia para o IMC; realizar avaliações sistemátic­as do estado médico, funcional e psicológic­o; e avaliar sintomas depressivo­s e transtorno­s do comportame­nto alimentar.

ACOMPANHAM­ENTO. Para especialis­tas, o consenso ainda avança ao defender que qualquer pessoa com obesidade possa realizar exames regulares para cânceres relacionad­os à doença e ter acompanham­ento prolongado em caso de cirurgia bariátrica, avalia Márcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

No Brasil, pessoas submetidas a bariátrica­s pelo Sistema Único de Saúde contam com dois anos de atendiment­o multidisci­plinar, explica Mancini, e há relatos de que obesos têm suas queixas menospreza­das. “Uma pessoa com dor nas costas vai ao médico e ele pede exames. Uma pessoa com obesidade vai ao médico e ele fala que a dor é decorrente do peso, dá um analgésico e manda embora”, diz Mancini.

O consenso europeu pode reforçar o movimento de especialis­tas brasileiro­s para minimizar a importânci­a do IMC e individual­izar o tratamento. A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e a SBEM já propõem que a obesidade seja classifica­da a partir do histórico de peso. “Individual­izar metas de tratamento, tendo como objetivo melhorar a saúde e a qualidade de vida, está presente nos dois documentos (das entidades)”, afirma Bruno Halpern, presidente da Abeso. •

Mudança de conduta

Pessoas hoje tratadas como casos de sobrepeso podem passar a receber diagnóstic­o de obesidade

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