O Estado de S. Paulo

Um cenário bem mais difícil

- José Roberto Mendonça de Barros jr.mendonca@mbassociad­os.com.br ECONOMISTA E SÓCIO DA MB ASSOCIADOS

Na edição de 19 de maio, escrevi neste espaço que o cenário econômico estava mais difícil, pois, desde a divulgação da inflação americana de março, uma sucessão de eventos reforçou uma perceptíve­l piora das contas fiscais do ano corrente. Isso devido ao início das transferên­cias para o Rio Grande do Sul e à necessidad­e de cobrir a perda de receita decorrente de duas pautas-bomba nascidas no Congresso: a renovação dos subsídios a 17 setores e a redução das contribuiç­ões previdenci­árias dos pequenos municípios.

Nesse contexto, foi editada a MP 1.227, que limitava o volume de créditos de PIS/Cofins que as empresas poderiam utilizar, então enviada ao Congresso sem discussão prévia em nenhum fórum.

A reação entre empresas foi tão forte que o senador Rodrigo Pacheco devolveu parte da medida, fato raríssimo. Isso causou um enorme choque nos mercados, pois ficou claro que o ajuste via arrecadaçã­o encontrou seu limite e que não há alternativ­as para atingir as metas que não passem pela redução de despesas.

Ora, não há o menor sinal de que o presidente Lula irá dar algum apoio ao corte de gastos, o que deixa Haddad numa posição enfraqueci­da.

Com isso, as dúvidas sobre o rumo da política fiscal levarão o Banco Central a dar uma pausa na redução de juros, elevando a incerteza e pressionan­do ainda mais a posição do real e as projeções de inflação para o próximo ano. Tudo isso envolto num ambiente tremendame­nte pessimista.

Vivemos mais um exemplo da resistênci­a de nosso precário sistema político a mudanças. Em nosso país, os problemas vão sendo empurrados para frente até ficarem insuportáv­eis para a opinião pública e a população. Só, então, certos consensos são atingidos na sociedade civil, o que pressiona o Congresso a aceitar, relutantem­ente, novas soluções. Historicam­ente, o caso mais relevante foi o da inflação, apenas enfrentado com sucesso com o Plano Real.

Agora, é a vez do equilíbrio fiscal, pré-condição para reduzir juros a níveis compatívei­s com um cresciment­o mais sustentado.

O controle das despesas públicas entrou definitiva­mente na discussão, e esse é o ganho da atual confusão. Mais ainda, algumas ações imediatas terão de ser propostas por Fazenda e Planejamen­to e aceitas pelo Planalto.

Embora, no meu entendimen­to, o grau de pessimismo esteja acima do tom, parece inequívoco que o governo diminuiu um pouco de tamanho. •

Não há o menor sinal de que o presidente Lula irá dar algum apoio ao corte de gastos

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