O Estado de S. Paulo

Reações tímidas e medrosas

- COMENTARIS­TA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA E-mail: eliane.cantanhede@estadao.com; Twitter: @ecantanhed­e

Governo fraco é alvo fácil de pressões da Câmara, do Senado, do mercado e da opinião pública, e é isso que acontece no terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, que sofre derrotas no Congresso e titubeia em questões de grande relevância, como a equiparaçã­o do aborto a homicídio e o veto a delações premiadas de presos. O governo finge que não tem nada a ver com isso, vai, volta e fica no meio do caminho.

Até a reação à devolução da MP sobre PIS/Cofins, para compensar R$ 26 bilhões de perdas com a desoneraçã­o da folha de pagamentos, foi tímida, medrosa, com Lula, seus ministros e líderes apoiando a decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e deixando no sereno o ministro Fernando Haddad. Devolver projetos é quase um tapa na cara, o Planalto ofereceu a outra face.

O projeto do aborto pode punir a mulher estuprada com até 20 anos de prisão, enquanto seu estuprador é sujeito a, no máximo, dez. É cruel, desumano e fundamenta­lista, mas Lula calou e o governo tergiverso­u, porque teme a “Bancada da Bíblia”. A inflexão só veio depois de dois dias e de manifestaç­ões populares, com um post da primeira-dama Janja e uma declaração do ministro Alexandre Padilha: “É uma barbaridad­e. Não contem com o governo”. Já no veto às delações premiadas, o governo lavou as mãos.

Quanto mais fragilidad­e mostra, mais frágil o governo fica, mais fortes adversário­s e aliados de ocasião se tornam. Faltam rumo e comando e não adianta botar a culpa na articulaçã­o política. A direita é muito maior e mais articulada do que a esquerda no Congresso. Boa articulaçã­o ajuda, mas não faz mágica, e as emendas não dão mais para o gasto. Eram de R$ 17 bilhões, dispararam para R$ 53 bilhões, mas o Congresso é insaciável.

O ministro Juscelino Filho (Comunicaçõ­es), que acumula denúncias, principalm­ente do Estadão, desde o primeiro mês do governo, foi indiciado pela PF – órgão do governo – por emendas parlamenta­res para a cidade onde sua irmã é prefeita e construiu uma estrada que beneficia uma única família, a deles. Na Europa, Lula desconvers­ou: “O ministro tem o direito de provar que é inocente”. Juscelino Filho é do União Brasil – partido com três ministros que, vira e mexe, vota contra o governo – e apadrinhad­o por Davi Alcolumbre, que manda no Senado.

Enquanto seu time bate cabeça, com Rui Costa, ministros e dirigentes petistas contra Haddad e o corte de gastos, Lula faz uma reunião atrás da outra para falar obviedades, dar broncas e prometer, de novo, assumir a coordenaçã­o política. O fato é que Lula está refém de Lira, Alcolumbre, bancada evangélica, União Brasil... Bláblá-blá não vai melhorar a percepção sobre o governo, nem a popularida­de do presidente.

Sem rumo e base sólida, governo sofre derrotas e Lula titubeia em temas graves

SEG. Carlos Pereira e Diogo Schelp (quinzenalm­ente) TER. Eliane Cantanhêde e Carlos Andreazza QUA. Vera Rosa e Marcelo Godoy (quinzenalm­ente) QUI. William Waack SEX. Eliane Cantanhêde SÁB. Carlos Andreazza DOM. Eliane Cantanhêde e J.R. Guzzo

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