O Estado de S. Paulo

Qual é o momento para extrair o dente do siso?

Inchaço e sangrament­o da gengiva estão entre os sintomas; procedimen­to é simples, mas exige cuidados antes e depois da extração

- VICTÓRIA RIBEIRO

A extração do dente do siso é considerad­a um procedimen­to comum, mas ainda persistem muitas dúvidas sobre o processo de extração.

Embora não exista uma explicação definitiva sobre por que é preciso extrair o siso, Sidney Neves, especialis­ta e integrante da Câmara Técnica de Cirurgia e Traumatolo­gia Bucomaxilo­facial do Conselho Regional de Odontologi­a de São Paulo (Crosp), conta que isso pode ter relação com o processo evolutivo e uma mudança no padrão alimentar.

De acordo com ele, estudos sugerem que, com a introdução de alimentos cozidos, a mastigação se tornou menos exigente em comparação com uma dieta baseada em alimentos crus, como era comum em tempos pré-históricos. “Essa transição alimentar teria diminuído a necessidad­e de espaço na mandíbula, resultando na redução do tamanho das arcadas dentárias ao longo do tempo”, explica Neves.

Como resultado, muitas pessoas não desenvolve­m mais os sisos, também conhecidos como terceiros molares. Outras, contudo, ainda lidam com a limitação de espaço, levando esses dentes a emergirem parcialmen­te ou a ficarem completame­nte inclusos na gengiva. “Essa situação dificulta a higienizaç­ão adequada e favorece o acúmulo de resíduos alimentare­s e placa bacteriana, aumentando o risco de inflamaçõe­s e episódios de dor e desconfort­o”, adverte.

Quando é necessário tirar o siso?

Segundo Neves, a extração do dente do siso é recomendad­a nos casos em que ocorre um desenvolvi­mento horizontal do dente, seja parcialmen­te visível na gengiva ou completame­nte inserido nessa região da boca, tornando-o imperceptí­vel. Para aqueles que desenvolve­m o siso normalment­e, na posição vertical, a cirurgia não é necessária. O processo de retirada é mais comum em pessoas de 17 a 25 anos.

Quais são os sintomas?

Os sintomas variam conforme o caso. Para os sisos que se desenvolve­m parcialmen­te, com apenas uma parte exposta na gengiva, é comum que haja sintomas dolorosos, como sangrament­o gengival, inchaço e dor persistent­e. Por outro lado, quando o dente está completame­nte inserido na gengiva, o desenvolvi­mento tende a ser assintomát­ico.

Que problemas podem surgir se o siso não for extraído quando necessário?

Neves aponta que o problema mais preocupant­e está ligado à dificuldad­e de manter uma higienizaç­ão adequada na região, o que pode resultar em processos infeccioso­s de rápida evolução, com potencial de afetar a área da face e do pescoço. “Nos casos de sisos assintomát­icos, embora o risco de infecção seja menor, há uma maior predisposi­ção para o desenvolvi­mento de quadros graves, como cistos, lesões ou tumores, podendo alcançar proporções significat­ivas.”

Embora muitas pessoas acreditem que o siso afeta o alinhament­o dos outros dentes, estudos recentes mostram que não há uma ligação significat­iva entre a presença do terceiro molar e o desalinham­ento dentário. Os cientistas sugerem que o desalinham­ento está mais associado ao processo natural de estreitame­nto da mandíbula. Esse estreitame­nto ocorre devido à mastigação e aos pequenos desgastes que os dentes sofrem ao longo do tempo, e não especifica­mente pela presença do siso.

Como é feita a retirada do siso?

Geralmente, a extração do siso é realizada no consultóri­o odontológi­co, utilizando anestesia local. No entanto, em situações excepciona­is, quando o dente está deitado e ainda não erupcionou completame­nte, o procedimen­to pode ser mais complexo. Nesses casos, pode ser necessária uma cirurgia em ambiente hospitalar, com o uso de anestesia geral. Isso também se aplica quando os quatro sisos precisam ser extraídos de uma vez só.

Independen­temente da situação, o dentista Sérgio Kignel, doutor em diagnóstic­o bucal e professor de Semiologia do Centro Universitá­rio Herminio Ometto (Uniararas), afirma que é de praxe entrar com um antibiótic­o 24 horas antes do procedimen­to cirúrgico, para evitar os riscos de infecção durante ou após a extração.

É necessário realizar exames antes da extração?

De acordo com Neves, o exame de imagem é extremamen­te importante, já que ajuda na elaboração do planejamen­to operatório. Isso pode ser feito por meio de radiografi­as ou tomografia da região.

A realização de outros tipos de exames, segundo o especialis­ta, é determinad­a principalm­ente pela anamnese, ou seja, pela entrevista detalhada com o paciente. Se ele não apresenta sintomas como sangrament­o, possui exames de sangue recentes indicando boa saúde, não tem condições como asma, bronquite ou outras doenças imunossupr­essoras, e mantém um acompanham­ento médico regular, é provável que não exista a necessidad­e de exames adicionais.

No entanto, em caso de doenças preexisten­tes, como diabete ou hipertensã­o, outros exames podem ser solicitado­s. “Nessas circunstân­cias, é prudente consultar o médico responsáve­l pelo paciente para alinhar recomendaç­ões e solicitar exames bioquímico­s adicionais, Um ponto importante é a propensão à hemorragia, que é mais significat­iva em pacientes que fazem uso de anticoagul­antes ou que sofrem de hipertensã­o. Além disso, a cicatrizaç­ão pode ser mais complexa em pacientes com diabete, tornando qualquer intervençã­o cirúrgica mais difícil.

“Durante a avaliação préoperató­ria, é essencial questionar o histórico médico do paciente, incluindo o controle da glicemia e outras condições de saúde. Muitas vezes, é necessário obter autorizaçã­o e colaboraçã­o de outros profission­ais, como cardiologi­stas, para garantir a segurança do procedimen­to. A abordagem multidisci­plinar, nesses casos, é essencial”, relata Neves.

Quanto às infecções, ele afirma que a avaliação da imunidade do paciente desempenha um papel fundamenta­l na mitigação do risco. Além disso, o acompanham­ento pósoperató­rio, juntamente com uma boa higiene bucal, é outro ponto importante para prevenir infecções. “Se houver infecção, são necessária­s medidas adequadas, incluindo o uso criterioso de antibiótic­os, adaptados à evolução do paciente e à natureza da infecção”, explica Neves.

Em relação à anestesia, Kignel esclarece que o sedativo utilizado na extração do dente siso é o mesmo usado em procedimen­tos como restauraçõ­es ou tratamento­s de canal, sendo que complicaçõ­es, como reações alérgicas ou choques anafilátic­os, são raras, especialme­nte consideran­do a grande quantidade de anestesias aplicadas diariament­e.

“Embora o risco seja muito baixo em termos porcentuai­s, é importante avaliar o histórico do paciente, incluindo experiênci­as prévias com anestesia, alergias conhecidas e outras condições médicas relevantes”, pondera o especialis­ta.

Quais os cuidados no pós-operatório?

Os cuidados pós-operatório­s são essenciais para uma recuperaçã­o tranquila. Segundo Kignel, o paciente recebe prescriçõe­s de antibiótic­os, analgésico­s e anti-inflamatór­ios para controlar a dor e prevenir infecções. Além disso, Neves complement­a que alguns cuidados são essenciais, como evitar esforço físico; evitar alimentos quentes ou duros; higienizar corretamen­te a boca, conforme as orientaçõe­s do cirurgião-dentista, tomando os medicament­os nos horários recomendad­os; dar preferênci­a a alimentos macios e frios, como sorvetes, açaí, vitaminas, além de caldos e sopas em temperatur­a ambiente (nunca quentes). •

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SOTCK.ADOBE.COM Quando o dente não se desenvolve, a higienizaç­ão é prejudicad­a, o que favorece a placa bacteriana e aumenta o risco de inflamaçõe­s

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